Crítica sobre o filme "Era Uma Vez em Hollywood: A Coleção Completa":

Rubens Ewald Filho
Era Uma Vez em Hollywood: A Coleção Completa Por Rubens Ewald Filho
| Data: 13/01/2017

Era Uma Vez em Hollywood (That´s Entertainment)

EUA, 74, 2h15 min. Direção de Jack Haley Jr. Documentário musical. Apresentadores: Fred Astaire, Ginger Rogers, Frank Sinatra, Elizabeth Taylor, Debbie Reynolds, Donald O´Connor, Bing Crosby, Liza MInnelli, Peter Lawford, Mickey Rooney, James Stewart. Musica de Henry Mancini. Cenas de filmes da MGM reunindo seu inacreditável elenco.

A Metro Goldwyn Mayer já foi o maior estúdio de Hollywood, o mais rico, célebre, “com mais estrelas do que no céu!”. Ironicamente foi também dos primeiros fechar (antes dele a RKO fechou). O mais triste é que não por causa do cinema ou dos filmes nem mesmo dos antigos dirigentes e muito menos o seu incrível elenco, certamente o mais famoso de sua época. Parte da decisão trágica foi comprar um hotel em Las Vegas, leiloar tudo que tinha sido guardado ou utilizado nos filmes (e Debbie Reynolds, gastou todo seu dinheiro comprando o material e durante anos lutou para abrir um museu, quando não deu certo. Vendeu tudo pouco antes de morrer em 2016). Fazer os melhores filmes não foi suficiente. Pensando no futuro, Jack Haley Jr (1933-2001, que era filho do ator Jack Haley, o homem de lata de O Mágico de Oz, e casado com Liza MInnelli de 74 a 79), resolveu fazer um longa metragem recordando o que o estúdio tinha de melhor e mais famoso, seus musicais. Numa época quando a maioria dos astros estava ainda vivos e vários deles, os mais célebres estavam dispostos a dar depoimentos (a única que não esteve presente foi Esther Williams, impedida pelo marido, mas quebraria esse tabu quando apareceu no terceiro e último filme da série). Só Debbie aparece num palco da Broadway onde estrelava um musical “Irene”.

Todas as cenas estavam impecavelmente tratadas no melhor technicolor e o filme foi um enorme sucesso mundial (inclusive grande parte do elenco foi ao Festival de Cannes exibir-se!). Foi a ressurreição de grandes estrelas que dali em diante, até seu falecimento, voltaram a ter seus grandes momentos, e chances. É uma historia viva que deu origem a 2 continuações inferiores,o segundo foi Isto também era Hollywood, 76, assinado por Gene Kelly, notável por reunir os dois mais dançarinos do cinema, Gene e Fred Astaire. O terceiro filme já foi mais inferior, que já chegou tardio, sem surpresas e creditado a dois desconhecidos (Bud Friedgen que foi montador de 36 filmes em geral documentários e Michael J. Sheridan, também montador). Na verdade, chegou atrasado e foi o fechamento dos bons tempos da MGM! Ou seja, para quem ama o cinema musical, os três são curiosos e têm sequências clássicas e insuperáveis. Mas o primeiro é que merece o maior respeito.  

 

Isto Também Era Hollywood (That´s Entertainment Part II)

EUA, 2h13min. Direção de Gene Kelly (1912- 96). Roteiro de Leonard Gershe (1922-2002) autor de Cinderela em Paris, Liberdade para as Borboletas e Quarenta Quilates).

Esta é a continuação do clássico documentário de dois anos anteriores, basicamente aproveitando os trechos musicais importantes que tiveram que ficar de fora. A solução original e interessante foi chamar o dançarino/astro Gene Kelly que também era bem sucedido diretor filmes (como Alô, Dolly) e reuni-lo com o rival e brilhante dançarino Fred Astaire (1899-1997), eles só tinham dançado antes num único outro filme, Ziegfeld Follies de 45. E a última vez que Astaire dançou no cinema. Ambos já um pouco cansados e naturalmente sem a mesma forma, mas ainda conservando a classe, elegância e até a amizade (nunca foram realmente rivais já que tem estilos completamente diferentes). As cenas porém em que eles participam são feitas em estúdio brincando com fotos e objetos que infelizmente envelheceram. Por outro lado, há tempo para reencontrar estrelas menores da Metro, com Pal (ou seja, Lassie), Irmãos Marx (Noite na Ópera, Day at the Races), Bob Fosse, em Kiss me Kate, e não apenas musicais (tem Vivien Leigh em E o Vento Levou) ,Leslie Caron (Lili), Doris Day (Ame-me ou Esquece-me) e assim por diante. Por que o filme estende a apreciação para outros gêneros de histórias e personagens. Talvez o mais estranho sejam as sequências em que Gene Kelly vai rodar em Paris, já que a cidade mora no coração dele (foi onde fez Sinfonia de Paris e até de Astaire, com Cinderela em Paris). Enfim, um filme complementar mas ainda assim repleto de momentos Mágicos!

 

ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD 3

O terceiro capítulo da série "That´s Entertainment" sem contar também Quando Hollywood Dança que explorou a mesma fonte: os arquivos clássicos da Metro, principalmente a Idade de Ouro dos musicais. Fracasso de bilheteria nos EUA, ficou inédito em nossos cinemas e sai em vídeo numa versão reduzida (nos EUA, saiu em dois vídeos, um normal com a cópia dos cinemas outro com um making off muito bem realizado e com dez outros números musicais inéditos). Esta versão mais pobre portanto não chega a ser tudo o que se esperava. Primeiro porque a melhor parte já foi aproveitada nas anteriores e fazem questão de não repetir cenas. Segundo porque com nova safra de apresentadores, o texto deles é de uma total banalidade, muito mal aproveitados. Ainda assim é um prazer reencontrar os grandes astros dos musicais nos conduzindo por um passeio nostálgico onde os pontos altos são alguns números que haviam sido cortados e só agora descobertos (como um raríssimo de Judy Garland em Annie Get Your Gun antes dela ser despedida). Também impressionam as cenas que mostram bastidores (como uma visão de como realizaram um número de dança de Eleanor Powell, visto de longe, outro comparando dois takes diferentes de Fred Astaire, só que ele era tão perfeccionista que são idênticos). Aproveita também melhor Lena Horne (a única negra do gênero na Metro). Mas os fãs do gênero tem que conseguir a versão integral, "directors cut" (edição final do diretor antes do estúdio reduzi-la). (TEXTO PUBLICADO QUANDO DO LANÇAMENTO EM VHS NA ÈPOCA)