Crítica sobre o filme "Dentro da Noite":

Rubens Ewald Filho
Dentro da Noite Por Rubens Ewald Filho
| Data: 13/01/2018

Antes de tudo é melhor apresentar o diretor Raoul Walsh (1887-1980), que embora esquecido foi um dos grandes realizadores do cinema. Especializado em fitas de ação. Consagrado pela crítica francesa, sua obra é quase sempre subestimada, funcionando também como veículo para astros como James Cagney, Clark Gable e Errol Flynn. Foi injustiça minha não ter reconhecido a qualidade de seu trabalho, e a variedade de projetos em que esteve envolvido. Walsh nasceu em 11 de março, em Nova York, começou como ator nos estúdios Biograph, servindo também como assistente de Griffith. Trabalhou como ator em Nascimento de Uma Nação e entre 1915-20 dirigiu para a Fox, depois Paramount. Abandonou a carreira de ator em 1929, quando perdeu seu olho direito num acidente de carro, quando um animal cruzou a pista e provocou o acidente. Acabou sendo substituído por Warner Baxter em No Velho Arizona ou No Áureo Arizona (In Old Arizona). Mas passou a dirigir com um olho só (tapa olho lhe dava o charme). Entre os filmes mudos mais famosos, Carmen (idem, com Theda Bara, 1915), Evangelina (Evangeline, 1919, com Miriam Cooper), O Ladrão de Bagdá (The Thief of Bagdad, 1924, com Douglas Fairbanks), Sangue por Glória (What Price Glory?, 1926), Sedução do Pecado (Sadie Thompson, 1928, com Gloria Swanson), A Dança Rubra (The Red Dance, 1928, com Dolores Del Rio). O ator George Walsh (1889-1981) era seu irmão mais novo. Foi entre outras coisas descobridor de Rock Hudson a quem lançou como astro de aventura! Sua carreira teve dentre os pontos altos os anos em que passou no estúdio da Warner, onde realizou este filme. Num momento em que os filmes de gangsteres estavam em seu auge! É a história de dois irmãos que trabalham dirigindo caminhões com problemas. E a situação explode quando um deles é acusado do assassinato de um amigo.

A mulher do produtor Helinger, Gladys Glad, ex shorgirl de Ziegfeld na Broadway foi a responsável por terem feito o filme. O marido tinha achado que ninguém pagaria dinheiro para ver um monte de motoristas de caminhão. Gladys leu gostou e fez o marido ler de novo, o filme acabou sendo o sucesso surpresa do ano no estúdio. Feito por apenas 400 mil dólares rendeu mais de 4 milhoes (cálculos da época). George Raft e Bogart fazem irmãos, mas o curioso é que foi aqui que ele foi subindo de posto e se tornar o superstar (Raft tinha o mau hábito de recusar os melhores personagens que passavam para ele!). Era um típico produto do estúdio do que chamavam de realismo social misturado com ação. Endereçado ao público mais popular e as donas de casa. Mas sempre com clima de comédia romântica! Além de retratar a vida atribulada dos motoristas de caminhão, foi ajudado pelo diálogo esperto, performance marcantes e principalmente o domínio de cena do diretor Walsh. É importante destacar também que o filme basicamente transformou em estrelas as duas protagonistas (velhas empregadas da Warner, finalmente conseguindo a chance que mereciam). Ida Lupino (1918-85) de família de atores ingleses, se tornou depois pioneira de mulheres na direção. Mas injustamente poucos reconhecem que foi uma grande atriz, perto de Bette Davis. Além de linda, tinha uma figura forte. A outra foi Ann Sheridan (1915-67) a chamada Oomph Girl (o slogan pouco tinha a dizer, mas era sugestivo), uma simpática ruiva que aqui faz uma garçonete que fica amiga dos irmãos ajudando-os com os problemas. Um bem sucedido clássico!