Crítica sobre o filme "Coleção Estúdio Hammer: A Múmia, A Maldição do Lobisomem, O Beijo do Vampiro, Maniac, A Górgona, Fanatismo Macabro":

Rubens Ewald Filho
Coleção Estúdio Hammer: A Múmia, A Maldição do Lobisomem, O Beijo do Vampiro, Maniac, A Górgona, Fanatismo Macabro Por Rubens Ewald Filho
| Data: 17/04/2018

A Múmia ***

Antes de tudo, a diversão é garantida pela presença de Fisher e do roteirista Sangster (que era o mestre do gênero na Hammer, com 74 créditos, tendo escrito O Aniversário com Bette Davis, O Horror de Frankenstein, Grito de Pavor, Horror de Drácula dentre muitos) qualifica este que foi dos primeiros filmes do gênero ainda que posterior a O Vampiro da Noite (e quem faz a Múmia logicamente é Christopher Lee). É que a Hammer tinha conseguido um acordo com a Universal de modo que o estúdio podia usar os seus personagens. Lembrado também porque Lee sofreu muito nas filmagens: 1) uma porta fechou acidentalmente nele em suas costas e deslocou seu ombro. A cena está no filme; 2) também machucou os joelhos, o queixo fazendo cenas no pântano. O diretor de fotografia Jack Asher quis que a tumba tivesse aparência de muitos séculos e utilizou truques para isso. Que deram certo. Embora fosse pensado como refilmagem da velha Múmia, de 1932, a trama desta histéria é tirada de outro filme, A Mão da Mumia (40). Mais que isso, também tira trechos de dois outros filmes da Múmia, A Tumba da Múmia (Mummy´s Tomb, 42) e A Sombra da Múmia (Mummy´s Ghost, 44). Resumo: o filme começa no Egito em 1895, quando o arqueólogo John Banning, seu pai e seu tio procuram a tumba da Princesa Anank, alta sacerdotisa do deus Karnak. Eles a encontram mas Stephen fica em estado catatônico. Daí em diante, já sabem o que pode suceder.

A Maldição do Lobisomem **

É curioso porque este é o único filme de lobisomem que foi feito pelos estúdios da Hammer. Embora a censura tenha estado atenta e rejeitou Richard Wordsworth, que além de lobisomem era estuprador (a censura britânica muito antiquada cortou 5 minutos do filme!). O castelo espanhol que aparece no filme foi forçado pelo produtor Carreras (um dos piores da firma foi quem forçou usá-lo, já que a censura católica não permitiu que fizessem o planejado drama sobre a Inquisição Espanhola). Os interiores da hospedaria daqui são os mesmos usados em O Vampiro da Noite. O filme tem de curiosa a presença do então jovem ator Oliver Reed (sobrinho do diretor Carol Reed, 1938-99, que morreu durante as filmagens de Gladiador), mas sua presença é curta, nos letreiros do começo e depois só uma hora depois (ele faz o lobisomem). O filme só foi exibido em Barcelona, 44 anos depois!

Este lobisomem é inspirado em The Werewolf of Paris de Guy Endore foi muito elogiada a trilha musical de Benjamin Frankel, notável por usar o serialismo de 12 tons, muito raro em cinema. A história se passa na Espanha do século 18. Um pedinte é preso por um cruel marquês, por seus comentários inadequados. 15 anos depois há um estupro e assassinato. 13 anos mais tarde, Leon tem o dom de virar lobisomem, e somente uma bala de prata poderá detê-lo. Embora seja lento, o filme tem seus defensores que admiram o diretor Fisher que inventou novos caminhos para o gênero, e que em vez de terror, denuncia mais o horror da tirania da aristocracia na tragédia da vítima/Monstro. Também elogiavam a maquiagem de Roy Ashton que dava novo visual ao lobisomem!

O Beijo do Vampiro *

Na história, no começo do século 20, Gerald e Marianne estão em lua de mel na Bavária, mas caem vitimas do Culto de um vampiro liderado pelo Dr. Rayna e seus dois filhos pequenos, Cart e Sabena. O Cult sequestra Marianne e finge que Harcourt está viajando sozinho e que sua esposa nunca existiu. Harcout consegue ajuda de um professor alcoólatra Zimmer (Evans) que perdeu sua filha para o Cult e que irá atacá-los com a ajuda de um grupo de morcegos do Inferno. Este era para ser o terceiro filme da série Hammer de Drácula e uma tentativa de fazer o projeto sem a presença de Christopher Lee. O roteiro final não faz referencia a Drácula e procura novos caminhos fazendo com que o vampirismo fosse uma ”doença social” afligindo aqueles que têm um estilo de vida decadente. Rodado em 7 de setembro de 1962 no Bray Studios, tem um clímax envolvendo magia negra (na verdade era para ser o final de As Noivas do Vampiro/ The Brides of Dracula, mas Peter Cushing recusou dizendo que Vanel Helsing, nunca recorreria a magia negra). Os morcegos são de borracha e comprados num magazine. Interessante falar na versão americana do filme para a TV. A Universal cortou tantas cenas que foi preciso rodar novas cenas e nova história. Qualquer cena que tivesse sangue foi cortada, assim como a cena pré crédito quando jorrava sangue de um caixão. A versão nunca revela que Marianne esta vendo tudo atrás da Cortina e que a faz gritar. Alguns cortes tornam outras cenas incompreensíveis. A cópia de cinema também teve problemas deixando as cenas dos vampires absurdas. As cenas americanas são sobre uma família chamada Stanghers que estão sob a influencia da família de Rayna.

Maniac **1/2

Foge bastante do padrão da Hammer este drama feito em preto e branco mais policial que terror. Curioso porque tem um elenco mais internacional do que costume. O protagonista é um ator bonitão e canastrão da Columbia, chamado Kerwin Matthews (1926-2007), que fez trabalhos como Sinbad e a Princesa, Viagens de Gulliver, Pânico em Bangkok, A Hora do Diabo, No Mau Caminho com Kim Novak. E o principal papel feminino é de Nadia Gray (1923- 94) uma beldade de Bucarest que fez carreira internacional, mas é mais famosa pela strip tease que fez em La Dolce Vita de Fellini. Fez ainda Um Caminho para Dois com Audrey Hepburn e O Príncipe e a Parisiense com Brigitte Bardot. Kerwin faz um homem sem sorte, perdido na vida, Jeff Farrell, que esta num bar pobre na França onde se apaixona por Annette, enteada do dono do lugar. Mas é a madrasta dela, Eve (Nadia), que vai seduzi-lo e assim executam um plano para liberar o marido dela que está num sanatório há quatro anos, depois de ter cometido o chamado “Acetylene Murder”, quando ele matou um sujeito que violentou Annette. A ideia é que ele deixara o país, mas Jeff não sabe que caiu numa cilada. Embora comece devagar, tem boas paisagens da França, inclusive uma caverna. Há várias reviravoltas e pode ser que até lhe surpreenda. Muitos acham o final inesperado.

A Górgona **

Desde criança quando assisti pela primeira vez um filme da produtora britânica Hammer Films fiquei seu admirador. Em parte também por foi o Drácula com Christopher Lee (que tem 280 créditos) e Peter Cushing, os mesmos que também estão aqui neste outro terror (na verdade, era O Vampiro da Noite/Dracula, 58 também do mesmo diretor Terence Fisher e que deu origem a todo o gênero de vampiro do estúdio!). É lógico que são outros tempos e o terror é muito menos explícito do que se faz hoje em dia. Então para gostar é preciso querer apreciar o sabor de outra época, outra cultura (britânica) e a ingenuidade de muita coisa. Este aqui impressiona pelo título, mas o próprio Lee escreveu: “Um filme de belas imagens mas que se desmantelou por causa dos efeitos das cobras da cabeça de Megaera não foram suficientemente bem feitas para o clímax do filme. Mas podia ter sido muito bom”. E ainda disse “a única coisa errada com a Górgona é a Górgona!”. O nome Megaera (que significa ciumenta) supostamente vem da mitologia. Seria um antigo mito que é uma das três Erunyeas ou Fúrias, as deusas da vingança que se chamariam Stheno, Euryale e Medusa. Christopher era um homem fino e educado e tem toda a razão. Ele praticamente só aparece nos últimos 35 minutos do filme (que por sinal teve problemas com a censura na Espanha e outros lugares da Europa). A trilha musical de James Bernard usam uma voz soprano junto com um aparelho eletrônico a que chamam de Novachord. Falta a História: Em 1910, na Alemanha rural chamada de Vandorft, sete assassinatos são cometidos em cinco anos, cada vitima vira estátua de pedra. Os habitantes despistam tudo dizendo que é uma velha lenda. Mas há outra morta e decidem investigar e descobrem que há um fantasma: a ultima das Górgonas em forma de cobra que atacam na lua cheia!

Fanatismo Macabro ***

Além de revitalizar os “monstros da Universal”, como Drácula, A Múmia e Frankenstein, em releituras eróticas e diferentes, a produtora inglesa Hammer também entrou na moda criada por O que terá Acontecido a Baby Jane? (62). Ou seja, filmes de terror estrelados por grandes atrizes veteranas. Bette Davis e Joan Fontaine fizeram filmes assim no estúdio. E também a lendária estrela teatral Tallulah Bankhead (1903-68), em sua última atuação no cinema, onde fez poucos trabalhos (o melhor de todos Um Barco e Nove Destinos, de Hitchcock). Ela perdeu totalmente sua antiga beleza e parece destroçada nesta mistura de terror e suspense, em que faz uma velha inglesa psicótica e desequilibrada, cujo fanatismo religioso a leva a uma obsessão pela pureza do filho falecido e a ameaçar a jovem noiva do rapaz, feita por Stefanie Powers (mais tarde estrela da série de TV Casal 20). Com uma atuação exagerada como era seu estilo, de Tallulah e roteiro do expert Richard Matheson (que inteligentemente incorpora na trama o passado da atriz no teatro), o filme funciona e foi o que revelou Donald Sutherland em começo de carreira, faz um papel secundário, de jardineiro meio retardado. O único senão é a trilha musical inferior de Wilfred Josephs que sempre foi do segundo time, meio cômica e deslocada, e que faz sentir saudade do melhor compositor do estúdio, James Bernard.