Uma informação importante: o diretor deste filme o húngaro (nascido em Budapeste) Curtiz é o lendário realizador de Casablanca (que lhe deu o Oscar em 44), tendo sido indicado também por A Canção da Vitória (Yankee Doodle Dandy, 42), Anjos de Cara Suja (Angels of Dirty Faces, 38), Quatro Filhos (Four Daughters, também de 38), O Capitão Blood (Captain Blood, 35). Foi preciso que passasse o tempo para se fazer justiça à Doris Day, uma das melhores comediantes que Hollywood já teve e também uma cantora de uma personalidade e talento inigualável. Mas antigamente as pessoas confundiam o tipo de filme, comédia musical ou romântica, com o ator, se esquecendo de que em geral é muito mais difícil fazer humor ou bancar a heroína. Doris nasceu em Cincinatti, Ohio, em 1924, descendente de alemães católicos (na verdade, só recentemente que se revelou sua idade verdadeira, nasceu em 1922!). Foi famosa crooner de orquestra e casada duas vezes, antes de ser descoberta para o cinema. Isso aconteceu quando ela era cantora numa festa e foi ouvida pelos compositores Jules Styne e Sammy Cahn, que a indicaram para a Warner para ser a estrela de Romance em Alto Mar, em 1948, um filme que Judy Garland iria fazer e que Betty Hutton não pode aceitar porque ficou grávida. Provar que era boa atriz já era outra coisa e isso só aconteceria anos depois em 1955, quando na Metro ela estrelou um filme biográfico, Ama-me ou Esquece-me, a vida da cantora Ruth Etting e seu romance com um gângster feito por James Cagney. Foi porém, no fim dos anos 50, que o marido de Doris, Marty Melcher, teve a idéia de se unir ao produtor Ross Hunter e dar uma reforma no visual da mulher. Aos 35 anos, ela ganhou vestidos super chiques do figurinista Jean Louis e formou parceria com um galã da moda, três anos mais novo que ela, Rock Hudson. O resultado todo mundo se lembra, Confidências a Meia Noite, uma das comédias sofisticadas mais queridas do cinema, seguidos por outros dois filmes de Doris com Rock, Volta meu Amor e Não me Mandem Flores. Nos anos 70, Doris perdeu todo seu dinheiro por causa do marido e um contador desonesto e teve que trabalhar numa série de TV. Hoje, depois de perder seu único filho, vive aposentada em Carmel, onde é dona de um hotelzinho. Mas seu bom humor continua nos divertindo.
Este filme aqui saiu no primeiro volume dos dois Boxes de Doris Day lançados no Brasil pela Warner e foi um dos filmes favoritos do diretor Carlos Manga, que esperava ansiosamente por este lançamento (ele chegou a se inspirar nele para cenas de alguns de seus filmes). É um drama denso com roteiro de Carl Foreman (de Canhões de Navarone e que logo seria banido pela Lista Negra do McCarthismo) inspirado na vida do músico Bix Beiderbecke, transformado aqui em Rick Martin (claro que nada a ver com o cantor atual), um jovem que tem talento musical e quem, como diz o filme, se apaixona por um trompete. Ajudado por um músico veterano, ele se torna uma estrela do jazz, mas tem problemas com seu temperamento volátil e com a vontade de tocar exclusivamente jazz, dificultando a carreira. Doris faz a boa moça e cantora que tenta ajudá-lo (ela canta The Very Thought of You, Too Marvelous For Words, I May Be Wrong, With a Song in my Heart) e Lauren, a mulher fatal e complicada. É Harry James quem toca as canções no trompete enquanto Kirk tem uma de suas interpretações mais intensas. Há várias canções clássicas na trilha musical, num filme que é considerado um dos melhores já feitos sobre a profissão de músico, uma delícia para os aficionados do jazz.