Versão da famosa peça teatral “Arsênico e Alfazema”, de Joseph Kesseling (1902-67), que fez imenso sucesso na Broadway em 1941 e ainda é regularmente remontada (a adaptação aqui é da famosa dupla de Irmãos Julius e Philip Epstein, de Casablanca e ainda por cima com a ajuda de outra famosa dupla Howard Lindsay e Russsel Crouse de Nossa Vida com Papai) e ficou em cartaz 1.444 performances (muito para a época). O curioso desta versão produzida pela Warner e dirigida pelo ilustre Frank Capra (A Felicidade Não se Compra) é que ela foi rodada em Nova York de outubro a dezembro de 1941, com grande parte do elenco original, mas não podia ser lançada por causa de contrato que impedia a estreia enquanto a peça estivesse em cartaz (ao contrário do hoje em dia, onde o filme acaba até ajudando a peça a se manter em cartaz como se viu com Chicago e Fantasma da Ópera).
Durante 1943, ele chegou a ser exibido para as Forças Armadas durante a Guerra, mas só pode ser exibido nas salas em 23 de setembro de 44. Cary Grant chegou a doar inteiramente seu salário para o War Relief Fund (ajuda aos que lutavam). Ronald Reagan e Jack Benny queriam fazer o papel de Mortimer e Bob Hope foi convidado, mas tinha contrato com outro estúdio a Paramount. Apesar disso, Cary considerava esta sua pior performance e o filme que menos gostava (pelos padrões atuais ele pode estar um pouco exagerado, mas dá o tom certo ao filme, que não pode ser realista, é uma farsa de humor negro).
Na verdade, esta é uma das mais bem sucedidas adaptações de uma peça teatral para o cinema, ao menos das mais engraçadas. Capra aceitou um trabalho de encomenda porque iria se engajar logo depois ativamente filmando a Guerra (ele se alistou durante a filmagem e teve uma licença especial para terminá-lo). Do elenco original vieram as velhinhas Jean Adair (que era antiga amiga de Grant do tempo do vaudeville), Josephine Hull e ainda John Alexander (que faz o tio maluco que acha que é o Presidente Teddy Roosevelt, uma piada que infelizmente hoje ficou datada e americana demais para o nosso público). Uma pena que não tenham podido trabalhar no filme Boris Karloff (os produtores negaram a permissão porque tinham medo que a ausência dele da peça durante as filmagens fizesse cair a bilheteria). Já o personagem do irmão que retorna, Jonathan Brewster é um cara que sofreu operação plástica e ficou a cara do Frankenstein, versão de Karloff com quem é sempre confundido (ainda assim Raymond Massey o substituiu bem e de forma convincente, ainda que o forte do filme seja ver o show de Peter Lorre como o médico vigarista que o operou).
A história se passa no velho Brooklyn e parte do exterior foi reconstruída em estúdio, incluindo a fachada da casa e um cemitério. Usando o claro/escuro e uma fotografia expressionista, o filme tem momentos que satiriza as histórias de terror. Todo o elenco é formidável (que inclui outros nomes notáveis da comédia e a única a destoar é a mocinha Priscila Lane, que era famosa na época como uma das Irmãs Lane). Mas é preciso gostar do gênero e estar disposto a rir com a brincadeira.