Crítica sobre o filme "Filme Noir Francês: Expresso para Bordeaux, Grisbi, Ouro Maldito, Vício Maldito, Como Fera Encurralada, A Morte de um Corrupto, Série Negra":

Rubens Ewald Filho
Filme Noir Francês: Expresso para Bordeaux, Grisbi, Ouro Maldito, Vício Maldito, Como Fera Encurralada, A Morte de um Corrupto, Série Negra Por Rubens Ewald Filho
| Data: 04/09/2018

Expresso para Bordeaux **1/2

Este foi o ultimo filme do grande diretor de dramas policiais Melville (que inclui  O Samurai, Circulo Vermelho, O Exército das Sombras, Os Profissionais do Crime) o que pode explicar o fato dele não ser ter o mesmo impacto que os anteriores. Mesmo o papel de La Deneuve é pequeno embora tenha algumas imagens onde ela aparece deslumbrantemente linda! Mesmo Delon também está mais apático do que outros trabalhos com o diretor. O tema é um assalto de banco numa pequena cidade a partir de um trem pagador, quando um dos ladrões acaba ferido. Mas esse assalto é apenas a desculpa para realizar outro ainda mais ousado e espetacular no mesmo banco. Delon faz Simon, chefe da gang e que é dono de uma boate em Paris e tem que lidar com o comissário de policial Edoaurd (o americano Crenna faz o papel dublado) que é seu amigo e gostam da mesma mulher. Infelizmente não é mais do que razoável.

 

Grisbi, Ouro Maldito ****

Um dos grandes sucessos da carreira do super astro Gabin (1904-76) que foi melhor ator no Festival de Veneza e também apresentou  um das primeiras chances de Jeanne Moreau, ex-atriz da Comédie Française, então com 25 anos que se tornaria estrela anos depois com a Nouvelle Vague. Realizado pelo bom diretor Becker (pai de Jean Becker) baseado em livro Série Noir, de Albert Simonin (que depois seria adaptado para o cinema ou roteirizado mais de 36 filmes). É um policial  tipicamente francês  com sua temática de bas-fond (sub mundo), fidelidade entre amigos, amantes traiçoeiras, mais clima do que ação. Mas feito por experts, com belo uso de trilha musical e uma narrativa muito forte convincente. Estreia no cinema do ex-campeão de luta livre Lino Ventura (1919-87) que depois se tornaria astro. Cópia excelente. Teve muita influencia e suscitou imitações (hoje em dia também impressiona a facilidade com que o anti-herói esbofeteia homens e mulheres, sem maiores problemas). Tem making of e entrevista antiga com La Moreau (onde ela conta que a mãe dela era dançarina do Follies Bergére!).

 

Vicio Maldito **1/2

Este é um filme francês policial menor notável não tanto pela presença do grande astro local Gabin (que parece o tempo todo apático e contrariado, como se quisesse fugir do filme). Na verdade, não é um filme memorável, nem mesmo pelos diálogos de um escritor famoso (Michel Audiard), mas a presença de uma das mulheres mais belas e interessantes do cinema austriaco Nadja Tiller (ainda viva até hoje ela foi Miss e fez mais de cem filmes). É obrigatório redescobrir esta beleza de mulher que faz uma garota viciada em drogas, que provoca a paixão de um velho detetive da polícia parisiense que estava investigando a morte de um dono de clube noturno. A grande estrela Danielle Darrieux que morreu aos 100 anos há pouco tempo  tem papel pequeno cuidando de remédios e drogas. O diretor não era muito famoso (acompanha a edição depoimentos de mulheres que trabalharam com ele na equipe técnica), mas o resultado é interessante. Ainda assim é Nadja que vai  brilhar (embora tenha também participação musical de uma cantora negra Hazel Scott, que era Cult nos EUA). 

 

Como Fera Encurralada ***

Este foi um dos primeiros sucessos do diretor Sautet (1924-2000), baseado em livro do famoso José Giovanni (também diretor, conhecido por seu tempo de prisão onde virou escritor). Em preto e branco, este foi apenas seu terceiro filme como realizador e teria mais tarde grandes clássicos de sucesso como Coisas da Vida, Mado, Cesar e Rosalie, Minha Secretária, Um Coração no Inverno (o último). Muito celebrado pela crítica, conta aqui a história de um criminoso chamado Abel Davis, perseguido na Itália e que trabalha com um parceiro Raymond. A polícia os persegue e eles pretendem fugir para a França, junto com a mulher dele Therèse e seus dois filhos. Em busca de fundos, começam a matar homens, só que na fuga outros morrem.  Um estrangeiro Eric Stark vai para Paris e espera-se a justiça seja feita. O filme é considerado um dos melhores Noir da Nouvelle Vague Francesa. Embora seja considerado influenciado por Seven Men from Now/ 7 Homens sem Destino, 56 de Budd Boetticher. Com heróis com passados comprometedores do qual não conseguem escapar. O melhor momento talvez seja o assalto em plena rua movimentada em Milão que é muito autêntica, seguida por perseguições e soluções também convincentes. A italiana Sandra Milo aparece jovem antes de virar musa de Fellini. Belmondo engatou desde então vários filmes policiais.

 

A Morte de um Corrupto * 1/2

Ocasionalmente Delon produzia filmes com a ajuda de amigos, nenhum deles notável. É o caso deste trabalho menor com visual já antigo (a narrativa segue as normas dos anos setenta) e história muito previsível, com os amigos sendo assassinatos. Aliás, há grande número de mortos aqui já que Delon faz o herói que ajuda seu amigo Maurice Ronet (eles fizeram juntos o clássico O Sol por Testemunha), que matou um político corrupto que fazia chantagem com ele. Dali em diante, basta ele andar de carro que alguém vem dando tiro nele e nos próximos (inclusive a italiana Ornella Mutti no auge da Juventude). Tenta denunciar a corrupção local, mas não chega aos pés do que sucede no Brasil por exemplo. Muito tiro e explosão, muito close de Delon com os olhos azuis ainda em forma.

 

Série Negra **

Esta é uma das ultimas interpretações do galã da época de muito sucesso, Dewaere (1947-82), que fez muito sucesso ao lado de Depardieu em Corações Loucos, de Bertrand Blier (de 1964). Mas atormentado por drogas e problemas, acabou se matando aos 35 anos, depois de ter feito mais de 50 filmes, em 16 de julho 1982 quando iria começar novo filme (nunca chegou a ser muito famoso no Brasil justamente por falta de tempo para isso). Mas era um ator vibrante e marcante conforme demonstra aqui numa de suas interpretações mais descontroladas (é preciso deixar claro que o título do filme se refere aos livros policiais franceses que eram encadernados pela cor negra). O filme aqui tem outro lado trágico que foi a presença de Marie Trintignant (1962-2003), filha do astro Jean Louis Trintignant e a diretora Nadine Trintignant (ela foi morta por surra pelo companheiro drogado e roqueiro). Embora o diretor Corneau (1943-2010) tenha sido  bem reconhecido (ele fez  Todas as Manhãs do Mundo, Crime de Amor), aqui o resultado é discutível contando a historia de Frank, um vendedor que vive na periferia de Paris,que conhece adolescente que é obrigada a se prostituir. E tenta ajudar a moça. Sombrio e pesado, não é para todo mundo.