Crítica sobre o filme "Cinema Faroeste Vol. 7: Johnny Guitar, Eles Passaram por Aqui, Covil do Diabo, Fama a Qualquer Preço, Ninho de Cobras, O Morro dos Maus Espíritos":

Rubens Ewald Filho
Cinema Faroeste Vol. 7: Johnny Guitar, Eles Passaram por Aqui, Covil do Diabo, Fama a Qualquer Preço, Ninho de Cobras, O Morro dos Maus Espíritos Por Rubens Ewald Filho
| Data: 03/09/2018

Johnny Guitar ****

Os franceses são apaixonados pelo diretor Nicholas Ray. E principalmente pelo filme que muitos consideram, entre eles o diretor Jean Luc Godard, o melhor western de todos os tempos: Johnny Guitar, da Republic, de 1954, foi antes de tudo uma revolução no gênero. O primeiro western feminino, todo construído em cima da rivalidade de duas mulheres, ligadas por uma relação lésbica não muito disfarçada. Johnny Guitar (Sterling Hayden) é um cowboy que não usa armas e que chega a um Saloon que é dirigido por uma mulher, Viena, acusada de fazer parte de uma quadrilha de ladrões. Esse é um dos grandes personagens de Joan Crawford, que toma em armas e parte para defender o irmão e enfrentar a rival, que é interpretada por outra atriz poderosa, Mercedes Mc Cambridge vencedora do Oscar de coadjuvante por A Grande Ilusão.

Este faroeste cult lembra um pouco Os Brutos Também Amam de George Stevens, já que o herói aqui também chega e parte sem grandes explicações, é um solitário sem destino ou propósito na vida. Aliás, a canção tema de Victor Young interpretada por Peggy Lee também diz algo semelhante. O ator Sterling Hayden estava na época saindo da lista negra, depois de colaborar com a Caça as Bruxas e por isso não é muito querido em Hollywood. Por sua vez o roteiro foi escrito por Ben Maddow, na época na lista negra do Maccarthismo. O mais curioso mesmo é o conflito central em cima das mulheres que se odeiam. O diretor Nicholas Ray de Juventude Transviada sempre declarou que o sub-texto era lésbico, que elas haviam sido amantes e agora se enfrentam como inimigas. Veja e confirme: parece realmente não haver dúvidas, até porque as duas estrelas eram realmente inimigas entre si. E ambas alcoólatras! Destaque também para o bom elenco de apoio com Ernest Borgnine, John Carradine, Scott Brady, Ben Cooper, Ward Bond. Todos eles contribuem muito para este western que já foi chamado de exótico, neurótico, freudiano e até mesmo visto como uma alegoria contra a Caça as Bruxas que estava acontecendo naquele momento. Por todas essas razões é sem duvida um daqueles filmes que tem que ser vistos antes de morrer.

 

Eles Passaram por Aqui **

Faroeste menor curioso apenas por trazer junto o especialista no gênero McCrea contracenando com sua mulher (até o fim da vida) Frances Dee. Ele na vida real se tornou muito rico e sempre teve a cara de um sujeito plácido de carreira irregular (mas esteve em filmes importantes como a comédia Contrastes Humanos, Correspondente Estrangeiro de Hitchcock, Original Pecado de Stevens, Pistoleiros do Entardecer clássico western de Sam Peckinpah. Mas este é um western menor onde ele é um fora de lei, que rouba banco e é perseguido por um xerife. Mas num trem ficando conhecendo uma mulher que faz tudo para tirá-lo do crime. O diretor também não é nada especial (Sonhos Ddourados/The Jolson Story, Ao Sul de Pago Pago etc.).   

 

Fama a Qualquer Preço **

É muito triste se ver que a clássica casa do Cinemascope a 20th century Fox não existe mais e virou sucursal da Disney. Embora este faroeste colorido e mediano, não tenha muito de especial (chega ao cúmulo de colocar no cartaz Lee Remick, de roupa moderna em pleno Oeste). Na verdade foi um projeto para dar trabalho aos atores contratados pelo estúdio. Começando com Murray (que foi o cowboy que seduz Marilyn Monroe em Nunca Fui Santa e não foi muito longe). Nem mesmo o irregular diretor Fleischer ajuda muito uma aventura fotogênica, mas imemorável. É sobre dois cowboys, Lat e Tom, que levam gado para Woming onde fazem dinheiro com uma corrida de cavalos. Num saloon Evans se envolve com Callie, que é protegida de homem rico e sem escrúpulos. Depois de um inverno difícil, eles brigam e se separam. Os índios atacam para roubar o cavalo e assim por diante. Nada de muito memorável. O New York Times o chamou de sermão de faroeste e Lee Remick considerava este o filme que menos gostava.

 

Ninho de Cobras ***

Este foi o penúltimo filme do grande diretor e roteirista Mankiewicz (1909-93, de A Malvada, Quem é o Infiel, Cleópatra), ainda mais com um roteiro de uma dupla famosa, Robert Benton  e David Newman (a dupla da trilogia Superman, e principalmente Bonnie & Clyde). O diretor fez ainda um thriller policial decente chamado Sleuth, 72 com Laurence Olivier e Michael Caine. Mas este filme ou faroeste é diferente e com diversas ironias e originalidades, senso de humor, nunca chegou a fazer o sucesso que merecia. Kirk (ainda vivo, com mais de 100 anos) é mandado para uma estranha prisão no Arizona, de onde tentará fugir com a ajuda de outros prisioneiros.O filme teve problemas com o estúdio da Warner porque levou mais de 5 meses rodando em 1969 e passou mais um outro ano até finalmente ser exibido. Como o filme anterior do diretor, Charada em Veneza, 67, que não foi sucesso e estreou antes na Inglaterra do que nos EUA. Parece que houve problemas porque a cópia original tinha 165 minutos, mas o estúdio reduziu para 126 para a irritação do diretor. O papel de Lee Grant foi por isso reduzido a quase nada. Ainda assim vale experimentar.

 

O Morro dos Maus Espíritos **1/2

O diretor Hathaway é um dos grandes realizadores de westerns e filmes de ação (famoso também por seu mau humor mas sempre amigo de Wayne). Ao contrário do que dizia o resumo não é inicio de carreira, já que antes de 1930 já fazia cinema e depois estrelou muitos faroestezinhos Classe B. Mas é uma aventura de ação, nem tanto western, sobre os que fabricam bebidas para vender coisa proibida na época.  Wayne faz um desses traficantes, Matt, que odeia o pai que nunca viu e que deixou a mãe sozinha para morrer. Essa obsessão o leva a ser um rebelde nas montanhas, mas a chegada de um estranho Daniel  Howit vai mudando o povo da montanha. Este foi o primeiro filme de Wayne em Technicolor e ele também assovia a canção do cuco. O diretor Hathaway dirige essa mesma história pela terceira vez, só que agora no cinema falado, baseado em livro de Harold Bell Wright, passada na chamada Montanha dos Ozarks. Geralmente os críticos acham que o filme tem um tom de parábola cristã onde a bondade pode mudar o mundo. Mas o filme também é mais lento e com menos ação do que a média de Wayne.