Crítica sobre o filme "Clássicos Sci-Fi Vol. 5: Alphaville, Westworld - Onde Ninguém Tem Alma, eXistenZ, É Proibido Procriar, A Decadência de uma Espécie, O Diabo, a Carne e o Mundo":

Rubens Ewald Filho
Clássicos Sci-Fi Vol. 5: Alphaville, Westworld - Onde Ninguém Tem Alma, eXistenZ, É Proibido Procriar, A Decadência de uma Espécie, O Diabo, a Carne e o Mundo Por Rubens Ewald Filho
| Data: 08/11/2018

Alphaville ***

O nono filme de Godard, e um de seus trabalhos mais sensíveis e populares (foi este filme que sugeriu o nome para o famoso condomínio fechado homônimo paulistano).  Seu prestígio era tão grande que conseguiu convencer a crítica a aceitar esta fantasia alegórica/policial, passada no futuro. Mas inteiramente rodada em Paris, em cenários já existentes (estruturas de cimento armado, vidro, luzes de néon). Talvez por ter sido muito copiada, essa jogada já não funciona tanto assim. Mas foi curiosa a maneira em que Godard misturou influências de quadrinhos, com fitas policiais antigas, chamando para o papel principal, o americano Eddie Constantine (que era astro de fitas B e, só após este filme, ganhou certo respeito até sua morte em 1993). Natacha é interpretada pela dinamarquesa Anna Karina, então mulher de Godard (eles se divorciaram em 1967). O filme tem uma trama pretensiosa e filosófica. Akim Tamiroff faz um antigo agente que transmite a mensagem de salvar “aqueles que choram”. Há também um interrogatório feito pelo cérebro do governo, Alpha 60. Ao final, Natacha diz as palavras proibidas: “Eu te Amo!”. Ainda há gente que se perturba com este universo, onde as palavras não permitem mais a comunicação e os homens foram desumanizados. “Alphaville” de Godard mostra um mundo fechado, preso num Presente eterno, que aboliu Passado e Futuro. Ou seja, bem mais interessante do que vocês pensavam.  

 

Westworld ***1/2

Embora seja hoje mais famoso por ter servido como base para uma série de TV da HBO do mesmo nome (na verdade, a primeira série foi muito bem recebida com o brasileiro Rodrigo Santoro também como ator central, mas sua continuação teve menos resultado porque todos acharam confuso e discutível!). Mas o verdadeiro nome importante da ideia, do livro e do tipo de história de ficção cientifica é o escritor Michael Crichton, um daqueles brilhantes criadores que morreram cedo demais. Nascido em 1942, ele se tornou célebre até hoje por causa de suas invenções literárias originais, a saber: Jurassic World (o livro que deu origem até hoje as aventuras de cinema), O Enigma de Andrômeda, com pseudônimo também escreveu Dealing: on the Berkeley, Receita Violência (A Case of Need, assinando Jeffrey Hudson), Perseguição sem Trégua, e Outra Janela Indiscreta, quando se torna também diretor das obras. Assim, vão ficando cada vez mais famosas, a seguir: Coma, O Primeiro Assalto do Trem, O Domínio do Olhar, Runaway Fora de Controle, Álibi para um Suspeito, O Décimo Terceiro Guerreiro (que reescreveu) de 1999. Ainda produziu os filmes famosos, Assédio Sexual, Twister, Esfera, e a série famosa de TV, Plantão Médico! (94-2009). Fora outras series de TV...

Este filme Westworld era uma produção relativamente modesta, mas curiosamente Halloween, de John Carpenter, se inspirou no personagem de Yul Brynner neste filme, enquanto Schwarzenegger foi se inspirar também nele para o Exterminador do Futuro (com a ação em 1983). Claro que o robô vivido por Brynner lembra o que fez no faroeste Sete Homens e um Destino (60)! Enquanto Crichton se inspirou numa viagem que fez a Disneyland, em particular no Piratas do Caribe, e seus bonecos animatrônicos (e faz citação disso em Parque dos Dinossauros). Westworld também teve uma continuação Mundo Futuro: Ano 2003,Operação Terra (1976), filme menor de Richard Heffron, onde Brynner volta a aparecer na revolta dos robôs, e ainda com Peter Fonda e Blythe Danner. Mas já não tem a ver como Crichton e a história agora é sobre um parque futurista chamado Futureworld, quando um ex- funcionário é assassinado quando descobre que há repórteres investigando o caso. Sem dúvida é inferior ao original. O filme era originalmente da MGM e foi basicamente cult.

 

eXistenZ

Infelizmente o diretor canadense especializado em terror e fantasia (nascido em 1943, ainda vivo) está esquecido embora tenha uma carreira notável no gênero que merecia ser renovada. Entre os clássicos do gênero que fez estão A Mosca, 86, Gêmeos Mórbida Semelhança, 88, Crash Estranhos Prazeres, 96, muitos deles exibidos no Festival de Cannes. O começo de carreira foi mais direto no gênero (Calafrios, Scanners, Videodrome, A Hora da Zona Morta, M. Butterfly, e foi perdendo o fôlego até o mais recente Mapas para as Estrelas, 14). Este lançamento está entre os trabalhos mais originais e curiosos, ainda que de relativo sucesso.

A sinopse: “Alllegra Geller é a figura mais famosa do chamado “game designer” em todo o mundo, e agora esta testando com um grupo em foco, o jogo de realidade virtual chamado eXistenZ. Mas quando começam são atacados por um assassino fantástico que usa uma bizarra arma orgânica. Ela consegue fugir com um jovem empregado de marketing, Ted Pikul, que vira seu guarda-costas. Mas o seu chamado Pod, um truque de jogo que contei a única copia do programa do eXistenZ fica machucado e para inspecionar o jogo convence Ted a permitir que use um “gameport”. Em seu próprio corpo. Isso provoca então uma estranha aventura”. Curiosidades: Jennifer já estava rodando De Olhos Bem Fechados com o mestre Kubrick quando descobriu que tinha que rodar outras cenas aqui com Cronenberg e ela preferiu sair daquele projeto. Os produtores deste filme são húngaros e por causa disso, que o título do filme tem duas letras grandes que querem dizer no original, Deus! Cronenberg declarou que ele se inspirou para o filme num livro do escritor Salma Rudshie, The Satanic Verses. Há ainda outras referências de nomes e textos tiradas de livros orientais. Assim como o cabelo de Allegra, que vai mudando conforme a realidade em que ela está. O filme estreou algumas semanas depois de Matrix, que também falava em realidade virtual só que era mais acessível e popular. Ainda que os jogadores para game players de computadores tivessem na época também interesse pelo filme, que não demorou, porém, a sair de moda.

 

É PROIBIDO PROCRIAR

Um título ruim e pouco atraente neste curioso drama britânico, feito por desconhecido Michael Campus (1935-2015) um americano que fez filmes de pouca importância: Hiroshima (produtor), Survival (76, diretor), 1000 Elos (produtor). Roteiro de Max Erlich, Frank DeFelitta (que pretendia ter dirigido o filme). Num futuro distante, o mundo está superpovoado e poluído. Desesperados, os países proíbem nascimentos por 30 anos. Porém, um casal tem um bebê. Interessante distopia inglesa que antecipa Fuga no Século 23. Rodado em Copenhagen, na Dinamarca, o filme não fez sucesso, mas curiosamente deu origem ao livro de Erlich que foi Best-seller.

 

A DECADÊNCIA DE UMA ESPÉCIE

Embora o filme tenha sido um enorme fracasso e nem chegou a ter uma carreira comercial no Brasil, se torna importante agora porque sua refilmagem em 2017 feita como série de TV foi um enorme sucesso de público, ganhando inclusive vários prêmios Emmys consagrando a atriz central (Elizabeth Moss) e depois com continuações. Aqui a direção é de um então importante diretor de sua época, Volker Schlöndorff (alemão que fez bons filmes como O Jovem Torless, O Mar ao Amanhecer, O Nono Dia e foi consagrado com O Tambor (Grande prêmio em Cannes). O roteiro deste original é assinado pelo famoso dramaturgo Harold Pinter, que adaptou o texto de Margaret Atwood. Volker ganhou o César em 2015 por Diplomacia. Passa-se numa América do futuro já fascista. É também a história de Kate, uma empregada que tem que enfrentar a direita religiosa que está dominando o país. Ela passa a ser acusada do crime de tentar escapar dos Estados Unidos e sentenciada a ser uma doméstica de casa. Sua missão é criar uma criança de um homem a quem for determinada. Vai ser treinada pela Tia Lydia para conhecer a maneira apropriada de se comportar e irá se tornar a empregada de um Comandante. Mas é atraída por Nick, chofer do comandante e tenta fugir ao mesmo tempo em que a Resistência começa a provocar o Regime político. Adaptação de “O Conto da Aia”. Não deixa de ser curioso de que a história foi ser sucesso tantos anos, quase 30 depois de filmada!

 

O DIABO, A CARNE E O MUNDO

Um filme muito curioso e que de certa maneira virou cult, apesar de muito antigo. O diretor MacDougall (1915-73), chegou a ser indicado ao Oscar por Alma em Suplício (Mildred Pierce, 45), indicado pelos roteiristas pelos filmes Coração Amargurado (The Hasty Heart, de Vincent Sherman, com Ronald Reagan e Patricia Neal, 49) e a comédia Noiva da Primavera (June Bride, 48 com Bette Davis e Robert Montgomery). Também do celebre Cleópatra com Elizabeth Taylor. Não teve porém muita sorte como diretor, apesar de interessantes como Os Amores Secretos de Eva com Joan Crawford, Fogo no Coração (57, com Bing Crosby e Inger Stevens). E mais ainda Os Subterrâneos da Noite, (60, The Subterreans, com Leslie Caron, George Peppard), Nua no Mundo (Go Naked in the World com Gina Lollobrigida e Ernest Borgnine, 61) e o último Uma Noiva para Charlie (Cockeyed Cowboys of Calico County, 70, faroeste comédia com Nanette Fabray e Dan Blocker). Mas por causa de sua temática e ambição, são apenas os três atores perdidos em Nova York disputando a mesma mulher, a sueca Inger (1934-70, que se suicidou). E o cantor Harry Belafonte sendo vítima do racismo. Resumo: Após ficar dias preso numa mina devido a um deslizamento, homem descobre, ao sair, que a humanidade foi dizimada por um holocausto nuclear. Com forte comentário racial, este é um dos primeiros filmes pós-apocalípticos do cinema. Merece a curiosidade.