UMA MULHER CASADA
Este é um dos filmes menos conhecidos e polêmicos do diretor Godard, ainda que tenha concorrido em Veneza. Hoje em dia é interessante conhecer a atriz principal, Macha Méril, que hoje é uma famosa escritora e principalmente autora de livros autobiográficos - sua especialidade são as massas! - e sua vida original, porque vem de família rica de nobres russos, que tiveram que fugir do país. Macha é uma mulher encantadora, mas parece perdida no filme que tem a frase de promoção: Ela ama dois homens, mas só é casada com um. Ela faz Charlotte, jovem e moderna, mas também superficial e fria, que lê revistas de moda para ver se tem o busto certo!Vive em subúrbio em Paris como filho e o marido Pierre, um piloto. Seu amante é Robert , um ator. Sua vida é banal, jantando com o marido e um cliente, consultando médico, enfrentando tensão em casa, porque Pierre há meses a mandou ela ser vigiada. É assim que lhe dá um tapa e pede desculpas. Tem que então escolher entre os dois e checar qual esta fingindo com ela. O final não é conclusivo. Ou seja, embora Macha seja uma figura encantadora (faz sua própria maquiagem e tudo parece querendo acentuar o fato que ela seria superficial e vazia, o contrário justamente da atriz). É um dos trabalhos menos significativos de Godard.
ASCENSOR PARA O CADAFALSO ****
Primeiro longa de Malle (1932-95), que se incorporou a então nascente Nouvelle Vague. É um policial muito bem roteirizado baseado em livro de Noel Calef, com uma história engenhosa e a confirmação como estrela de La Moreau (que era sua namorada na época e a quem usaria no filme próximo, o escandaloso Os Amantes). Aqui curiosamente a dupla de amantes nunca se encontra. Mas totalmente feito em locações autênticas, é um belo exercício de suspense, muito ajudado pela fotografia de Henri Decae e principalmente a excepcional trilha musical improvisada do jazzman Miles Davis (que se tornou antológica). Numa revisão o filme é prejudicado por deixar o herói preso no elevador durante longos trechos perdendo tempo demais com o casal de jovens deliquentes, atores fracos que não fizeram carreira, e o casal de alemães. Resulta sem suspense. Tem um erro de continuidade difícil de perdoar, logo no começo quando aparece a loja de flores e o carro de Ronet (que se chama no filme Tavernier, possível homenagem a Bertrand Tavenier então famoso publicista hoje famoso diretor). E uma pessoa que esta passando de frente, interrompe-se e volta atrás! Traz pontas dos futuros astros Denner, Ventura e Brialy. Miles Davis gravou os temas musicais com um quarteto francês em apenas algumas horas noturnas (11 da noite até 5 da madrugada). Improvisando e tomando champanhe com Moreau e Malle. O diretor gravou Moreau em close up e luz natural sem maquiagem. O curioso é que houve técnicos que brigaram com ele recusando gravar o rosto dela porque era inédito nos laboratórios franceses (logicamente depois se tornou grande sucesso do estilo Nouvelle Vague).
O SILÊNCIO DO MAR
Este diretor Melville (1917-73) só ficaria famoso como realizador de obras-primas do cinema policial, como Bob o Jogador, 56, em diante. Antes disso teve uma carreira modesta, com o curta 24 Horas na Vida de um Palhaço, 46, seguido por este aqui em 1949 e, depois, os de pouca referência As Crianças Terríveis, 50 e Quando Leres Esta Carta, 53. A origem do filme é fantasticamente notável. Vejam só: Melville queria fazer o filme mas o autor Vercors era contra porque não lhe pagaram os direitos. Então o diretor fez um acordo. O filme seria feito sem permissão, mas, quando completo, Vercors (que era membro da Resistência), organizaria uma sessão com 24 membros da Resistência Francesa. Se um deles for contra, tudo iria para trás. E Melville teria que queimar o negativo. Melville que não era bobo conseguiu que seu publicista trouxesse os críticos mais famosos, incluindo Malraux e Cocteau (apenas um deles saiu da sala, o editor do jornal Le Figaro!). Mas Vercors deu o braço a torcer quando viu que o sujeito votou contra porque era vaidoso e se ofendeu em ser chamado no último momento. Assim o filme foi salvo! E se tornou um grande sucesso. O filme também foi original e inédito por ser o primeiro na França rodando em locações verdadeiras, e luz natural. Orçamento baixíssimo. Tudo isso iria inspirar logo depois o movimento da Nouvelle Vague. O mais curioso porém é que Melville, na verdade, odiava locações e preferia filmar em estúdios! Sinopse: “Durante a ocupação da França por tropas nazistas, um tenente alemão é alojado num pequeno vilarejo, na casa de um senhor francês que vive com sua sobrinha”. No filme há uma referência à Treblinka, que ano estava na novela, mas Melville, que era judeu, quis demonstrar que os oficiais alemães sabiam muito bem sobre o Shoah.
CÉLINE E JULIE VÃO DE BARCO
O diretor Rivette fez muitos filmes pessoais sempre que possíveis românticos e originais. Muitas vezes eróticos (como A Bela Intrigante, Quem Sabe?, O Bando das Quatro. Sempre com muito prestigio. Aqui conta a história da mágica Céline e a bibliotecária Julie se conhecem por acaso no Montmatre e tornam-se amigas inseparáveis, dividindo cama, noivo, roupas e imaginação. Rodado com baixo orçamento, aparentemente 16 milímetros, o filme foi apresentado aqui em inédita versão recentemente restaurada. A Sinopse original: “um grupo misterioso de mulheres que se unem para encontrar sua vida numa seria de encontros que pode ser também melodramático ou alucinatório”. Não é verdade que a maior parte do filme foi improvisada pelos atores. Rivette criou a estrutura dramática mas também controlou o elenco, em vez de escrever tudo. Uma única cena foi improvisada, com Julie Berto falando de seu amigo americano rico. As outras cenas foram feitas de acordo do diretor com o elenco. Ganhou prêmio especial em Locarno.