UMA CANTA, A OUTRA NÃO ***1/2
Sempre se pode esperar bastante dos trabalhos da veterana e sensível realizadora Varda. Este foi feito numa época onde se invocava o movimento feminista do qual a diretora fazia parte, embora tivesse se realizado melhor quando realizou outros (o recente e delicioso Visages Villages, o poéticos Cleo de Cinco a Sete, o clássico e belo As Duas faces da Felicidade, o dramático Os Renegados). Este é sobre a vida de duas mulheres jovens e bonitas cuja vida vai se cruzando. Isso nos anos 70 na França, Pauline (ou Pomme) e Suzanne se encontram e Pomme (maçã!) com a ajuda de Suzanne, consegue fazer um aborto, depois de três gravidezes, de que ela não consegue dar a conta. Há um problema sério quando Suzanne enfrenta o marido amante fotógrafo Jerome (Robert Dadies) que é encontrado morto no estúdio porque não consegue se divorciar e nem se tornar fotógrafo bem sucedido. Depois perdem contato, mas voltam a se encontrar anos depois. Pomme se tornou uma cantora hippie de rua (vejam o titulo!), Suzanne virou uma trabalhadora da comunidade a sério. Continuam amigas e passam por diversos problemas, sempre afirmando a identidade feminina. Ou seja, são duas mulheres opostas, uma convencional, a outra não, conformista, que se tornam grandes amigas e ficam em contato, durante anos. Se encontram novamente numa manifestação pelo aborto. Suzanne fica noiva de um pediatra e 14 anos depois se encontram novamente. Mudaram muito com diferentes personalidades. Ou seja, é um filme feito por mulheres, para mulheres, e este é lado mais encantador e interessante de tudo (segundo Varda, o tema do filme é de Simone de Beauvoir, “Mulheres são feitas, não nascem”!).
LAÇOS DE SANGUE ***
Finalmente se fez justiça ao nome de Ida Lupino, atriz britânica de famosa família de atores, que viria se tornar uma das mais belas e interessantes atrizes de sua época. Mesmo não elogiando como deviam a sua beleza e talento (teve 105 créditos. Foi indicada a 3 Emmys. Ganhou melhor atriz pelos críticos de Nova York pelo filme É Dificil ser Feliz/ The Hard Way, 43, National Board of Review com Brumas/Moontide, com Jean Gabin, Mistério de uma mulher/Ladies in Retirement, Academia de Ciências, 76). Mas além de ser uma bela mulher e excelente atriz (foi casada com dois atores famosos Howard Duff, Louis Hayward e ainda o produtor Collier Young), foi somente agora em 2018 foi que se celebrou os anos de aniversário desta lenda do cinema, pioneira como escritora, produtora e diretora (e injustiçada como atriz, já que era de grande beleza e charme!). Não só foi companheira dos atores famosos da Warner (e isso inclui Humphrey Bogart e Errol Flynn) fez mais de cem filmes como atriz e como diretora, do gênero Film Noir. Foi também apenas a segunda mulher a ser aceita como no Sindicato dos diretores, o Director´s Guild of America. Antes tarde do que nunca. Ida Lupino é uma admirável lição do papel da mulher na arte do cinema.
Laços de Sangue foi um filme realizado com um mínimo de recursos e como conseguia com Ida, sempre acentuando o papel feminino, já que eram as jovens sempre vitimas de abusos e violência. No caso, a hist[oria de uma versátil jogadora de tênis que é uma revelação (papel da então jovem Sally Forrest, 1928-2015, que era bailarina na Metro onde fez varias papeis pequenos). Mas no elenco há outra atriz que foi importante em sua época, no caso Claire Trevor (1910-2000), que ganhou Oscar por Paixões em Furia (Key Largo, 48) e foi indicada ainda por Beco Sem Saída (Dead End, 38) e Um Fio de Esperança (The High and the Mighty, 54). Claire faz o papel de mãe da moça, aproveitando sua presença forte e quase insuportável.
É uma figura ambiciosa que manipula a vida da filha, um treinador e despreza o jovem que ela se apaixonou. Mas na carreira de Lupino como realizadora outros temas femininos, de estupro a mãe solteira, serão mais interessantes ainda.
O LIXO E O SONHO **1/2
Ramsay, Lynne (1969-): Diretora escocesa nascida em Glasgow em 5 de dezembro. Seus filmes geralmente exploram com humor a realidade da classe operária com toques de sensualidade e edição dinâmica. Inicialmente estudou fotografia, mas logo percebeu que queria mesmo era dirigir filmes. Enquanto estudante, teve seu curta Small Deaths (1996) premiado em Cannes. Seu primeiro longa, Ratcatcher (1999), foi um satírico e nostálgico retrato da Glasgow dos anos 70 que mistura a pequena realidade de uma criança e a grande dos adultos em greve. Ganhou o Bafta de melhor primeiro filme. Seu próximo trabalhou foi uma adaptação do livro de Alan Warner, Morvern Callar (2002), e não foi tão bem recebido quanto o anterior. Desde então, participou da coletânea Cinema16: British Short Films com o seu Gasman (1997) acentuando sua fama de problematica e de difícil acesso. O êxito de Precisamos Falar sobre Kevin ajudou seu retorno. Voltou a ter uma crise grave quando brigou com os produtores de Em busca da Justiça (Jane Got a Gun. Natalie Portman, Ewan McGregor e Rodrigo Santoro!). Depois de três dias, em março de 2013, com muito conflito os produtores e ela entraram em guerra e se afastaram. Gavin O´Connor assumiu a direção.
FILMOGRAFIA: Dir.: 1996 - Small Deaths (CM. Anne McLean, James Ramsay). Kill the Day (CM. James Ramsay, Drew Carter-Cain). 1997 - Gasman (CM. Lynne Ramsay Jr., Martin Anderson). 1999 - Lixo e o O Sonho (Ratcatcher .William Eadie, Tommy Flanagan). 2002 – Morvern Callar (Samantha Morton, Kathleen McDermott). 2003 - Cinema16: British Short Films (Epis. Gasman. Lynne Ramsay Jr., Martin Anderson).2011- Precisamos falar sobre o Kevin (We Need to Talk about Kevin. Tilda Swinton, Ezra Miller). 2012-Swimmer (Curta).2017-Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here. Joaquin Phoenix, Judith Roberts).
CORAÇÕES DESERTOS **1/2
Modesto drama independente - rodado no Reno, Nevada - que foi se tornando cult por causa de sua temática lésbica, ainda rara mesmo na época . A diretora Deitch fez ainda outros trabalhos de menor repercussão (Heróis, 06, Angel on my Shoulder, 98, Anjo do Desejo, 94. O notável porém é o fato de que ela acabou se tornando a mais bem sucedida mulher como diretora de séries de TV, com cerca de 43 créditos dos mais variados, passando de Crossing Jordan, Dragnet, Eureka. Grey´s Anatomy, Army Wives, Greenleaf, a mais recentes). A ação se passa nos anos 50 em Nevada, quando a Professora Vivian Bell chega em busca de divórcio. Ela é infeliz com o casamento e precisa de um rancho para passar uns tempos. Mas vai se sentindo cada vez mais próxima de uma jovem Lésbica, Cay Rivers, uma mulher aberta e confidente. E filha da dona do lugar. A insegurança e intimidade são o pano de fundo para as paisagens do deserto e canções do Oeste. Por este filme a diretora ganhou o Prêmio Especial do Júri em Sundance.