Crítica sobre o filme "Bela Lugosi: Chandu O Mágico, O Fantasma Invisível, O Morcego Diabólico, O Beijo da Morte":

Rubens Ewald Filho
Bela Lugosi: Chandu O Mágico, O Fantasma Invisível, O Morcego Diabólico, O Beijo da Morte Por Rubens Ewald Filho
| Data: 02/12/2018

Bela Lugosi

Acostumados ao um horror mais violento e explícito, os espectadores atuais se surpreendem ao ver o Drácula criado por Bela Lugosi em 1931, certamente o filme mais famoso do gênero. Muito pouco assustador, revelando sua origem teatral, o filme segue o livro original de Bram Stoker e é muito ajudado pela fotografia cheia de atmosfera do expressionista Karl Freund e a direção de arte criativa. Sem esquecer um final inesperado onde aparece a figura do caçador de vampiros Edgar Van Sloan desejando boa noite ao público, mas prevenindo sempre que vampiros existem... Drácula historicamente foi o primeiro horror do cinema sonoro que assumia a fantasia e o mistério como naturais e seu sucesso deu origem a todos os outros clássicos de terror da Universal. Foi feita até mesmo uma versão em espanhol usando os mesmos sets e ângulos, mas com um elenco diferente. Mas nada se compara com a figura de Lugosi, que já era famoso no palco por interpretar o personagem. Com seu forte sotaque húngaro, já com certa idade, tinha 47 anos, mas seu apelo era mais romântico, sedutor, do que realmente uma figura assustadora. Lugosi nasceu em 29 de outubro de 1882 em Lugos, uma cidadezinha no sul da Hungria parte do império austro-húngaro com o nome de Bela Blasko. Por causa da guerra a cidade acabou sendo anexada à Romênia, ou seja, o lugar onde nasceu fica a menos de 50 milhas da Transilvânia, a região lendária onde teria vivido o verdadeiro Drácula. A Universal chegou a inventar que ele descendente de nobres, mas na verdade o pai era padeiro e vinha de família de pequenos agricultores. Por causa de uma irmã casada com o dono de um teatro, virou ator ainda adolescente e foi aprendendo a profissão. Mas teve que lutar na Primeira Guerra Mundial e por causa da revolução comunista teve que fugir do país em 1919, ao lado de outros húngaros famosos como o ator Paul Lukas, o produtor Alexander Korda e o diretor Michael Curtiz. Passou a trabalhar na Alemanha e Áustria e em 1921 emigrou para os Estados Unidos. O papel de Drácula aconteceu na Broadway a partir de 1927 e foi um sucesso imediato. Lugosi chegou a fazer alguns papéis no cinema e quando a Universal pensou em filmar Drácula primeiro contratou o diretor Tod Browning e investiu 400 mil dólares na produção, quase todos gastos na cenografia. O ator anunciado para o papel foi John Wray de Sem Novidade no Front, mas quiseram alguém mais famoso, pensando em Paul Muni , futuro Scarface, Conrad Veidt, de Casablanca. Segundo Lugosi ele foi escolhido porque era amigo da viúva de Bram Stoker e conseguiu que baixasse o preço dos direitos autorais, reduzindo de 200 mil para 40 mil dólares. Ganhou 500 dólares por semana por 7 semanas de trabalho, com outros atores do elenco original repetindo seus papéis. Seu problema foi conter os excessos do palco e interpretar de forma mais sutil, conservando o texto cheio de sugestões (sobe som usando os uivos dos lobos e ele dizendo são as crianças da noite ou algo assim). A fita foi promovida como a mais estranha paixão que o mundo já conheceu e foi um sucesso além das expectativas, transformando Lugosi em astro, o sucessor de Lon Chaney. O sucesso nem sempre lhe fez bem, cometeu o erro de recusar o papel de monstro de Frankenstein e isso deu a chance para a criação de outro famoso astro do gênero, Boris Karloff. Curiosamente somente os dois seriam conhecidos apenas por seus sobrenomes Lugosi e Karloff . Ambos seriam rivais amigáveis participando juntos de muitos filmes, alternando personagens e tipos. Mas ele nunca se livraria dessa imagem do Drácula. Com a passagem do tempo, teria problemas com drogas, mulheres, bebidas e até se convenceria de que era um pouco mesmo o personagem, a ponto de querer ser enterrado com a capa que usava nos filmes. Essa fase de sua vida foi muito bem mostrada no filme Ed Wood de Tim Burton, onde Martin Landau faz uma brilhante personificação de Lugosi. É um trabalho notável não apenas de maquiagem, mas também de caracterização de tal forma que o ator ganhou merecidamente o Oscar de coadjuvante. Nesta fita se retrata o final da carreira de Lugosi, já trabalhando muito doente nos filmes do pior diretor de todos os tempos, Ed Wood Jr, feito por Johnny Depp. Mesmo assim sua figura é tratada com muita dignidade. Lugosi morreu de um ataque do coração em 16 de agosto de 1956 em Los Angeles. Mas como disse um fã em seu enterro: “Drácula morto. Nunca. Impossível. Como Lugosi, Drácula viverá para sempre”.

 

Chandu, O Mágico

O filme foi dirigido por Marcel Varnel , que era francês e se mudou para Hollywood passou a fazer comédias para humoristas como Will Hay e George Formby. Ele morreu num acidente de carro em 1947 na Inglaterra, depois de terminar This Man is Mine. E também por William Cameron Menzies (1896-1957), famoso cenógrafo e diretor americano, um nome importantíssimo na direção de arte de Hollywood, criando cenários clássicos a partir de 1923, com O Ladrão de Bagdá, de Douglas Fairbanks. Em 1927, ganhou o prêmio Oscar para sua categoria, por Mulher Cobiçada (The Dove). A partir de 1931, também passou a dirigir. Entre seus trabalhos de direção de arte: E o Vento Levou, Nossa Cidade, O Duelo ao Sol, Por Quem os Sinos Dobram, A Volta ao Mundo em 80 Dias. Em Chandu, Roxor pretende dominar o mundo, por isso raptou o cientista Robert Regent com a sua mais recente invenção, o Raio da Morte, uma arma capaz de destruir cidades inteiras e dominar a mente dos seres humanos. A única esperança é encontrada em Chandu, um poderoso mago que domina os poderes de ilusão. Lugosi (1982-56) é austro-húngaro-romeno, lutou na Segunda Guerra e feriu-se 3 vezes. Como ator foi para a Broadway em 1901 onde tornou famoso no palco o personagem de Drácula. Em 31, foi feito o filme da peça novamente com grande êxito. Mas cometeu o erro de brigar com os estúdios e foi para a Lista negra, repudiando salários. Acabou fazendo os piores filmes do mundo para Edward D. Wood e morreu na miséria em agosto de 56. O personagem louco Roxor sequestra um cientista na esperança de usar um raio que dominaria o mundo. Mas para enfrentá-lo surge Chandu, um hipnotista e Yogi. O filme foi baseado num show de rádio, que depois dariam origem a outros mágicos inclusive o Dr. Strange dos comics da Marvel. E com Disney se usou a idéia do Aprendiz do Feiticeiro.

 

O Fantasma Invisível

Este foi o primeiro filme de nove que Lugosi estrelou para a produtora Monogan de Sam Katzman, famosa por ser a mais pobre de todos os estúdios de Hollywood. Vejam o pequeno tempo de projeção! Ele aproveita sua imagem de Drácula para interpretar Kessler, um homem dominado por impulsos homicidas além de seu controle. Ele é controlado por sua mulher, que o trocou por outro homem. Quando um homem inocente é executado por um crime, seu irmão gêmeo tenta revelar o mistério. O filme caiu em domínio público e por isso foram feitas cópias sem direitos autorais, muitas delas de qualidade inferior. Ao menos o diretor Joseph H. Lewis (1907-2000) é importante e respeitado por alguns clássicos do filme B, o notável Mortalmente Perigosa (Gun Crazy, 50), Trágico Álibi (My Name is Julia Ross, 45, com Nina Foch), Reviravoltas da Sorte (The Spy Ring, 38). Foi também a ultima interpretação da estrela do filme Polly Ann Young (1908-97) que era especialista de faroeste!  

 

O Morcego Diabólico

O titulo nacional está errado, na verdade segundo o IMDB ele se chamou no Brasil, A Volta de Drácula, muito mais lógico. Com direção de Jean Yarbrough (1900-75), que teve 128 créditos e algum prestígio ao dirigir filmes como A Fera de Londres, 46, Terror na Ilha das Mulheres, 56, Perdidos no Alaska, 52, Abbot e Costello no Pé de Feijão e muitas séries de TV. Sinopse: “Dr. Carruthers sente-se traído por seus empregadores, Heath e Morton, quando eles enriquecem por causa de um produto que ele inventou. Se vinga com morcegos movidos a eletricidade  que vão matar seus patrões. O repórter Johnny Layton tenta resolver o caso”. Graças a Lugosi este filme foi um grande sucesso  da produtora, PRC ou Producers Releasing Corporation, a maior de todos do estúdio! Depois da guerra o estúdio resolveu fazer uma continuação em nome da mesma história que se chamou The Flying Serpente, 46. Na verdade era uma refilmagem plano a plano e teve ainda outra refilmagem que se chamou Man Made Monster, 41. A frase The Devil Bat é usada 29 vezes no mesmo filme!

 

O Beijo da Morte

Realizado em Preto e Branco, mas tem cenas coloridas a mão. Dirigido por Edwin L. Marin (1899-1951), que tem 58 créditos incluindo Domador de Motins, Escrava da Cobiça, Talhado em Granito, Terra Virgem, Calibre 45, O Lutador, Paris Está Chamando, O Encontro em Londres, Johnny Angel, com George Raft, Miss Annie Rooney com Shirley Temple, Espião Invisível, de H.G. Wells e outros. Este Beijo foi o primeiro filme que dirigiu em toda sua carreira. Sinopse oficial: “Quando estava filmando a cena final de The Death Kiss, o gala Myles Brent é assassinado. Como ele foi muito namorador com várias mulheres há um número grande de suspeitas. Quando a estrela chamada Marcia Lane é presa, um admirador dela no estúdio resolve investigar o caso e provar sua inocência”. O filme teve boa repercussão como thriller de mistério e assassinato.