Crítica sobre o filme "Carlos Saura: Cria Cuervos, Peppermint Frappé, Ana e os Lobos, A Prima Angélica, Depressa Depressa":

Rubens Ewald Filho
Carlos Saura: Cria Cuervos, Peppermint Frappé, Ana e os Lobos, A Prima Angélica, Depressa Depressa Por Rubens Ewald Filho
| Data: 23/12/2018

Cria Cuervos ****

Este foi o maior sucesso do diretor espanhol Saura - ainda vivo - no Brasil. Ele continuou a fazer filmes alegóricos, mas aqui menos abertamente políticos numa história complexa mas que pode ser entendida simplesmente como um drama familiar a partir de uma expressão espanhola que diz que cria corvos, ou seja, animais ou pessoas que não são confiáveis, que eles eventualmente irão se vingar, ou atacar (ou seja, te tirarão os olhos). Há também uma canção tema meio infantil que foi êxito também na época. Foi estrelado pela talentosíssima menina Ana Torrent (revelada antes em O Espírito da Colmeia e que depois faria carreira como adulta). E como sempre pela então mulher do diretor, Geraldine Chaplin, filha de Carlitos, já nesta época em crise no casamento. Ela faz a mãe da menina, mas também a menina quando fica mais velha. Ganhou Grande Prêmio do Júri em Cannes, foi indicado ao César, Globo de Ouro. Embora Saura desta vez pareça não estar fazendo discursos políticos óbvios, é evidente a casa da família representa a Espanha de Franco com todas suas culpas e mazelas.

Peppermint Frappé

Este filme ganhou o melhor diretor em Berlim, filme, ator e roteiro de Círculo de Autores da Espanha e Melhor filme Sant Jordi. Contorna a censura puritana da Espanha de Franco, em um thriller psicológico em homenagem ao mestre espanhol Luís Buñuel. A história é inspirada nas obsessões e fetiches de Julián (José Luis Lopez Vasquez), homem de meia idade, médico conservador retorna da África, que é auxiliado pela tímida enfermeira, Ana (Geraldine Chaplin). Julian reencontra seu amigo de infância, Pablo, que voltou da África e se casou com uma jovem loira, Elena Julian, se apaixona por ela e tenta seduzi-la. Mas ela o resiste. Acaba por achar que Ana tem muita semelhança com Elena e decide aos poucos transformá-la em Elena. Este foi, em 1964, o quarto longa do diretor, que antes teve repercussão com A Caça, Llanto por um bandido, 64, Los Golfos, 60. E antes alguns documentários. Este filme só foi exibido no Brasil depois do sucesso de anteriores. Atualmente ele se dedica a dirigir e produzir filmes de dança, mas este filme foi dedicado ao Mestre Luís Buñuel. Seu tema básico é exterminação e expressionismo.

Ana e os Lobos  ***

Este foi dos primeiros filmes de Saura a fazer sucesso no Brasil no circuito de arte. Para entendê-lo é bom saber que o diretor era ousado ao fazer alegorias e parábolas sobre a Espanha que ainda naquela época era dominada pelo ditador Franco que lhe impunha pesada censura católica. Assim, Geraldine faz a inglesa Ana (na época os dois ainda eram casados), que é a estranha (a nova geração) que chega à casa que personifica a própria Espanha, dominada por seus claros poderes, o irmão místico Fernando (que representa a Igreja Católica), José (que representa o Exército, a Força Armada) e ainda Juan (que seria o sexo reprimido). São os Lobos que a irão destruí-la. Na época foi respeitadíssimo (concorreu a Cannes, ganhou prêmio do Círculo dos Escritores).

A Prima Angélica

Dedicado a Charles e Oona Chaplin (por causa da filha deles, Geraldine). Com o intuito de sepultar sua mãe no túmulo da família, Luís viaja ao interior da Espanha em Segóvia. Ao se hospedar na casa da tia no verão de 1936, depara-se com a prima Angélica, agora casada e com uma filha. Esse encontro trará lembranças da sua infância naquele lugar durante a Guerra Civil Espanhola. Feito ainda no período dourado do diretor, ganhou o Prêmio do Júri em Cannes. O Sant Jordi e foi indicado em Chicago. Um dos filmes ainda em fase de ouro de Saura. 

Depressa, Depressa

Esta é coprodução franco-espanhola, ainda sob a ditadura de Franco, mas num filme menor de pouca repercussão e inteiramente interpretado por desconhecidos. Retrata um grupo de jovens marginais, adolescentes marginalizados de Madrid, elogiado pela fotografia e trilha musical. Teve apenas um prêmio importante, O Urso de Ouro em Berlim! O casal Angela e Paul sai de viagem com mais dois amigos. Eles decidem, no meio do caminho, que, para trazer uma energia diferente para a viagem, eles deveriam praticar alguns delitos. Após o início com pequenos assaltos, as ações começam a ficar maiores e, em pouco tempo, se veem completamente envolvidos no mundo do crime. José Antonio Valdeolmar (Pablo) foi recrutado por Saura no elenco de amadores. Em 1992, ele foi encontrado morto por alta dose de heroína na prisão Carabanchel em Madrid por roubar um banco. A trilha musical Me Quedo Contigo é interpretada por Los Chunguitos, grupo cigano. Boatos afirmam que o elenco era realmente de drogados e ganhavam a droga para não deixar a produção!