O Sheik
O diretor George Melford realizou 231 filmes! Outra curiosidade, o título do filme no seu lançamento original era de Paixão de Bárbaro, baseado em novela de Edith Maude adaptada por Monte Katter John. Este é certamente o mais famoso filme do astro nascido Rodolfo Alfonso Raffaello Pierre Filibert Guglielmi di Valentina d´Antonguolla que nasceu em 6 de maio de 1895, em Castalanetta, Puglia, Itália e que depois de ser gigolô foi descoberto para o cinema mudo, virando The Latin Lover. Teve tempo apenas de estrelar poucos filmes, 39. Sendo justamente o último O Filho do Sheik. Morreu aos 31 anos, em 23 de agosto de 1926, em consequência de uma luta de boxe que foi provocada por um rival. A doença foi infecção e sua morte provocou o funeral mais disputado em Nova York e depois na Califórnia.
É curioso também que este Sheik teve uma continuação chamada O Filho do Sheik (The Son of The Sheik, 1926). O grande astro do cinema mudo Rudolph Valentino (1895-1926) encerrou sua carreira, abreviada precocemente por uma úlcera perfurada, com este filme, originalmente da United Artists, uma continuação de um de seus maiores sucessos, O Sheik (The Sheik, 1921), feito na Paramount. Valentino reprisa o papel original do sheik, agora envelhecido, e faz também o filho (e as cenas em que ambos os personagens contracenam são muito bem feitas), e tem como interesse romântico a bela húngara Vilma Bánky (1898-1991), com quem ele já havia feito O Águia (The Eagle, 1925). É essencialmente um melodrama romântico, ambientado no exótico Oriente (naturalmente tudo rodado em estúdio, com as cenas do deserto filmadas nas dunas de Santa Bárbara, na Califórnia), bem ao gosto da época, com poucas cenas de ação e Valentino menos maquiado, afetado (e, pelos padrões de hoje, até afeminado) do que em outros de seus filmes. Mas o filme é bem dirigido pelo competente Fitzmaurice (1885-1941), que trabalhou com Garbo, tem cuidada cenografia do mestre William Cameron Menzies, e não envelheceu mal. Pode ser, portanto, uma boa introdução ao mitológico galã.
O Anjo das Ruas
O diretor Borzage era considerado em sua época como um dos maiores e melhores de sua época, especialistas em dramas românticos tendo ganho dois importantes Oscars: Depois do Casamento (Bad Girl, 32, com James Dunn e Sally Eisler) e o célebre Sétimo Céu (7th Heaven, 29) como sempre com a dupla mais famosa da época Charles Farrell e Janet Gaynor (1906-84), que morreu em acidente de carro. Foi também este filme que lhe deu o Oscar de atriz, na verdade, ela ganhou por este e mais dois outros filmes no mesmo ano! Farrell por sua vez fez 12 filmes com Mary e se aposentou do cinema no começo dos anos 40 (estrela que cansada de trabalhar no cinema mudou-se para o Brasil onde se isolou com o marido no interior junto com a amiga Mary Martin). Feito logo depois do clássico Aurora este Anjo a traz como Ângela em Nápoles, Itália, onde as prostitutas pagam o seu aluguel. Ela é presa após tentar roubar dinheiro para pagar o remédio de sua mãe, mas consegue escapar do reformatório e se esconde em um circo, onde conhece Gino, um pintor. Ela torce o tornozelo e não consegue trabalhar, mas ainda é procurada pelo roubo. De repente, ela vê seu passado voltar à tona, exatamente quando está tão próxima da felicidade verdadeira. A canção O Sole Mio é usada no filme.
Ironia da Sorte (Lágrimas de um Palhaço)
Esta é uma raridade muito pouco ou nunca relembrada no Brasil, mas ainda hoje admirada e respeitada como cinema mudo de vanguarda, principalmente pela presença do diretor do filme, o também ator Sjostrom (1879-1960). Teve 55 créditos e o último foi O Poder de Richelieu (37). A história de um inventor que embora sofrendo pela traição de sua mulher recomeça uma carreira se tornando um palhaço, um clown, cuja performance consiste em levar tapas e bofetadas por todos os outros palhaços. Esse cientista, Paul Beaumont, após ser traído por seu aliado e sua esposa, humilhado diante da comunidade científica no circo, fará todos os esforços para salvar a mulher que ama do lascivo conde que o traiu no passado. Embora raro no Brasil é muito admirado também porque foi das primeiras produções da nova Metro Goldwyn Mayer. Uma produção cara e bem realizada, com uma trama original e dramática.
O Penalty
Wallace Worsley era ator e diretor, que fez o Corcunda de Notre Dame. Dirigiu 28 filmes mudos para se afastar em 1928 e com 29 créditos. Foi dos mais frequentes com Lon Chaney, ator especializado em disfarces e tipos estranhos (seu filho mais famoso que ele foi Lon Chaney Jr, que se tornaria celebre intérprete de monstros e figuras assustadoras). Após ter perdido as pernas durante um acidente em sua infância, um homem deformado se torna um criminoso cruel e líder da máfia em San Francisco. Ele tentará se vingar do cirurgião que realizou sua operação. O filme é uma raridade e pouca gente também respeita O protagonista, chamado aqui de Tempestade (Blizzard), que morreu em 1930 aos 47 anos em Hollywood e um mestre nos disfarces e tipo raros.
O Ladrão de Bagdá
Douglas Fairbanks (1883-1939) foi o maior galã produtor e escritor do cinema mudo, ou seja, não falado. Filho de emigrantes judeus, atlético e bonitão, se tornou uma das figuras mais importantes, famosas e ricas dessa fase do cinema mudo principalmente porque ficou o galã mais famoso do cinema, também porque se casou com a estrela favorita da tela, Mary Pickford (famosa por seus papeis ingênuos, o casal acabou sendo o mais popular e querido de Hollywood, recebendo príncipes e reis). Ela fazia a ingênua, ele o aventureiro atleta (morreu em 39 de ataque cardíaco, Mary em 1979). Ambos ganharam Oscars, ele honorário, ela por Coquette em 1929 e também um honorário). Fairbanks fez 51 filmes, produzidos por ele e sempre girando em torno de ação e aventura, como Ali Baba, Don Juan, Robinson Crusoe etc. Este aqui tem o mérito de ter sido dirigido por um dos grandes pioneiros de Hollywood, que foi Walsh (ator que sofreu acidente, onde perdeu uma vista e virou bem-sucedido diretor). Esta aventura é descrita como aventura familiar e fantasia, importante porque rarissimamente esse tipo de filme está disponível no Brasil. Mesmo se tratando de grande registro histórico. É sobre um ladrão que se apaixona pela filha do Califa de Bagdá. O capitão dará a mão dela em casamento que trouxer o mais raro dos tesouros nas próximas sete luas. O nosso herói organiza uma viagem mágica, sem perceber que há um rival o Príncipe dos Mongóis. Curiosamente o papel central feminino é feito por uma estrela também famosa, chinesa americana Anna May Wong, que continuou trabalhando e chegou a voltar a moda nos anos 60 com Retrato em Negro, com Lana Turner.