Crítica sobre o filme "Dogman":

Rubens Ewald Filho
Dogman Por Rubens Ewald Filho
| Data: 21/02/2019

Tem sido difícil ter acesso ao velho-novo cinema italiano, realista, grosseiro (no bom sentido), humano, sensível e quase sempre conservando ainda a herança incrível e impecável do chamado Neo-Realismo italiano, criado nos anos do imediato após guerra e que depois por ao menos 30 anos seguintes produziram o que de melhor havia no cinema mundial. Não exagero, os italianos já dominaram o cinema mundial, mas infelizmente tantas outras coisas no mundo e mesmo na Europa, hoje se desintegraram com raras exceções. Esta é uma delas, uma obra do diretor Matteo Garrone, 1968, filho de crítico de teatro e fotógrafo. Foi descoberto em 96, quando ganhou um prêmio curta chamado Shilloutte, 96, que se tornou uma parte de um longa chamada Terra di Mezzo, 96. Ganhou melhor filme europeu e depois David di Donatello, que por Gomorra, 08, sucesso mundial. Veio depois Reality Grande Ilusão, 12, que ganhou o Grand Prix do Festival de Cannes. Em 2015, fez o menor O Conto dos Contos, que concorreu em Cannes. E depois alguns curtas até este aqui, Dogman (fará a seguir um Pinocchio). Que também obteve prêmios, mas este filme novo e um pouco forte para o público atual mais suave, teve menções do European Film Award, 3 do Sindicato dos Jornalistas (como filme, diretor e produtor), melhor filme do Festival de Jerusalém, prêmios em Trieste, Toronto.

De fato, o Sr.Garrone é um grande artista italiano que faz aqui um mergulho profundo numa cultura que podia parece velha e antiga mas que me pareceu estreitamente forte e humana, muito patética. Há tempos não sentia a pobreza decorada com uma bela fotografia da vida cotidiana, na figura de um ator que desconhecia e que tem uma incrível máscara de humilde, de gente simples, quase na beira da loucura. Este Marcello (que estará também em Pinochio) é a escolha certa para os olhos grandes e tristes do solitário que tem uma adorável filha pequena, mas que vive de cuidar dos cachorros de donos humildes do bairro. Convive com outras figuras de pouco dinheiro mas é especialmente fraco ao lidar com um sujeito grandão e briguento, que vive consumindo drogas. Sem desculpas. Marcello é como o título diz um Dogman, mas a realidade é muito mais triste e até mesmo patética. Cuidado: não é comédia, não é um filme fácil de consumir chega mesmo a comover. Mas é obra importante do maior diretor do cinema italiano atual que nos toca e consome. Seria tão bom se o cinema italiano fosse sempre assim tão verdadeiro, tão cruel, tão humano.