Crítica sobre o filme "Roma":

Rubens Ewald Filho
Roma Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/02/2018

Não estou entre os exagerados que tem achado este filme uma obra-prima ameaçando-o de não apenas concorrer ao Oscar (representando o México), mas de possivelmente ganhar alguns muitos Oscars (o filme do diretor Cuaron já ganhou o Grande Prèmio do Festival Italiano Leão de Ouro e tem sido louvado pela imprensa de tal maneira que o filme provocou crise porque os direitos foram comprados pelo Netflix (ou seja, já estão disponíveis e estão em cartaz no Brasil, criando polêmica com os exibidores de cinema principalmente na Europa que prejudicou muito o festival rival de Cannes). O título poderia ser traduzido como “Amor” nome invertido da cidade de Roma, talvez como homenagem ao grande cinema italiano, isso é uma das coisas que mais me irrita, já que tem bem pouco de realmente a ver com os clássicos da Itália, que seriam os melhores filmes da História do cinema em particular os feitos em preto e branco, com atores geniais e mesmo quando foram amadores, enquanto aqui o elenco é primário, mal interpretado, esforçado sim, mas muito mal realizado. Ou seja, outro daqueles casos que alguém puxa um fato e todo mundo imita ...

Na verdade, não é preciso exagerar. A foto em P&B é bastante bonita e feita em widescreen e dá para sentir que realmente o diretor tentou repetir tudo que sentiu no passado, relembrando e refazendo a vida que teve numa cidade do interior justamente chamada Roma. Há pelo menos três sequências excepcionais, que seriam: 1) A empregada da família, que está grávida, é levada por uma senhora da família para um hospital porque se machucou e pode ter perdido seu filho pequeno, por coincidência, o pai da criança que a renegou porque agora é militar, apareceu numa loja onde a empregada estava! Aqui todo o drama é limpo e forte, quando ficamos assistindo o parto da criança e suas conseqüências.

2) A sequência da empregada que vai ate um campo de treinamento de aspirantes a soldados e que reencontra o casual pai da criança que grosseira a rejeita. Não, aqui não fica como no cinema mexicano da época, famoso pelas lágrimas e trejeitos. Não chega a ser exagero a tragédia, é triste mesmo.

3) Há outra sequência igualmente feliz, que é sobre a heroína, que é forçada a acompanhar a patroa que agora tem certeza que o marido a deixou e os filhos foram abandonados (o fato é muito pouco explorado). Vão parar na praia em Vera Cruz onde a criança vai mergulhar e como seria de se esperar quase tudo vira tragédia de afogamento (os mexicanos sempre gostaram de “melô”, mas o diretor prefere não dar closes, mostra tudo a certa distância, até friamente.

Na primeira parte principalmente a narrativa chega a ser cansativa se fixando na mãe de família bebendo, batendo com o carro, brincando com cachorros, um tiroteio caçando animais e nada de muito importante, nem mesmo contra os policiais e bandidos... Esquisito porque o México sempre teve uma tradição violenta e dramática... Aliás, hoje em dia é dominado por traficantes e bandidos da pior espécie.

 É importante de qualquer forma mencionar Cuaron (1961 ) que tem tido uma ótima carreira desde que foi apoiado por Spielberg. Para quem fez A Princesinha, 95, Grandes Esperanças, 98, o consagrado E Sua Mãe Também, 2001, episódio de Paris, Te Amo (01), Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, 04, Filhos da Esperança, 06, Gravidade (13) e ganhando dois Oscars por Gravidade (montagem e direção). E faz parte do atual grupo de cineastas mexicanos que têm sido consagrados com o Oscar apesar da rejeição do atual governo norte-americano. Ou seja, a atual situação das crianças roubadas ou enjeitadas, não é mencionado neste filme. Perderam grande chance...

Ele planejava o filme desde 2006, era a única pessoa do set que sabia o script de cor e tudo sobre a direção. A cada dia ele dava os diálogos na hora para os atores, segundo ele para tornar tudo mais real e chocante. E as vezes até mesmo gostava de certo caos. Chamou o filme do seu trabalho mais essencial de sua carreira. Detalhe: Roma era o nome de um bairro de Mexico City. É um distrito do bairro de Cuauhtémoc, perto do centro histórico. Setenta por cento dos imóveis mostrado no filme são setenta por cento da família dele. A ideia original era fazer uma espécie de Adão e Eva, mas foi aconselhado pelo diretor de Cannes a realizar algo mais acessível (de qualquer jeito noventa por cento das cenas foram tiradas de sua memória). O filme é dedicado a Libo, que era a empregada da casa. O diretor explica porque fez o filme: “Roma é uma tentativa de capturar a memória de acontecimentos que experimentei a quase 50 anos atrás. É uma exploração da hierarquia social do México, onde classe e herança social, étnica, são tratadas até hoje de maneira perversa. Mas é antes de tudo, um retrato intimo de mulheres que me criaram num reconhecimento de amor como um mistério que transcende espaço, memória e tempo”.

Há um outro detalhe, no fundo a gente torce pelo filme a partir das estrepolias e delírios do atual presidente norte-americano, Mr. Trump, que insistiu muito em construir o tal muro de divisão dos países. Nesse sentido o sucesso do filme lhe passou um merecido baile!