Crítica sobre o filme "Primeiro Homem, O":

Rubens Ewald Filho
Primeiro Homem, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 31/10/2018

Rodado em Atlanta, Georgia, tendo Steven Spielberg como um dos co-produtores este foi um dos filmes mais promovidos pelos críticos e imprensa como um dos indicados certos ao próximo Oscar, em parte por ser uma história de propaganda dos próprios americanos e principalmente por ser o novo trabalho do diretor da moda, o mesmo de La La Land, Damien Chazelle, que resolveu fazer uma adaptação de um fato histórico real: que eles mesmos se encarregaram de chamar de “lenda viva” que seria “uma biopic” (filme biografia) de um lendário astronauta norte-americano Neil Armstrong, e seu trabalho entre 1961-69, na sua luta para se tornar o primeiro humano a andar na lua. E usando texto do próprio produto, “explorando os sacrifícios e custos para a Nação e o próprio Neil, numa das mais perigosas missões na história das viagens espaciais”. Curiosamente era Clint Eastwood quem iria dirigir o projeto que é o primeiro feito em Imax pela Universal.

Discutível também a escolha da dupla central, que são Ryan Gosling (de La La Land) e como sua esposa, a atriz britânica da moda que é Claire Foy (a intérprete da Rainha Elizabeth, em dois capítulos da Netflix). Cercados por uma lista enorme de coadjuvantes famosos. O curioso porém foi o fato de que este filme se tornou logo na estreia uma grande decepção de bilheteria para decepção da imprensa norte-americana que estava criando uma grande promoção do filme. No último sábado houve uma sessão fechada da Academia onde houve um esforço para lotar o salão e garantir os aplausos (mas nada de gente aplaudindo de pé!). Isso continua assustando os produtores que esperavam mais. Causou também polêmica o fato de que o diretor cortou a imagem mais famosa do filme, e de fato histórica, que seria Neil implantando a bandeira americana na Lua! (fala-se que seria para calar os boatos antigos de que os norte-americanos tivessem fabricado essa viagem em terra e inventando uma lenda!). Esta cena já havia sido cortada quando houve a premiére do filme abrindo o Festival de Veneza (que este ano arrasou com Cannes, com uma seleção mais esperta). Gosling tentou defender a ideia, mas não convenceu afirmando que “Neil era muito humilde e preferiu tira o foco dele e ampliar para todos as 400 mil pessoas que tornaram a missão possível! Ele não se achava um herói Americano. Mas o oposto. E nós queríamos que o filme refletisse Neil”, concluiu. Mas no filme ficou também sua frase mais celebre: “Este é um pequeno passo para o homem, um pulo gigante para a humanidade!"

 Sem dúvida, porém, é um filme bem cuidado. A maior parte das vozes que se ouve no filme são gravações autênticas e Neil diz frases clássicas como “Houston, base da tranquilidade, a águia aterrisou!”. Damien confirma que tinha escolhido Gosling mesmo antes de La La Land embora pessoalmente acho que ele tem um tipo gaiato e satírico bem longe de heróico. Embora o filme releve algumas falhas e erros de Armstrong, como uma queda no deserto com Armstrong e Yeager. E outras falhas reais, coma Terra e a Lua estão sempre no mesmo ângulo do sol, não há nuvens nas altas altitudes, a natureza de acelerar e brecar em órbita, o oxigênio causa implosão e não explosão, não há som no ambiente no vácuo do espaço, não há luz que incomoda escondida nos capacetes dos astronautas.

Será que simplesmente a juventude hoje misturada com os veteranos de antigamente já não se cansaram de fatos tão apresentados antes? O fato é que no primeiro fim de semana não rendeu mais do que 16 milhões e quinhentos mil, para o espanto geral. Será que na nossa terra em época de Votação e Eleição irá se dar melhor?

 

REVISÂO:

Fui assistir para tirar as dúvidas ao filme, agora em IMAX (mas não 3D) numa sala quase vazia que acabou sendo uma das experiências mais irritantes e equivocadas do cinema atual. Agora já se sabe que se tornou um enorme fracasso de bilheteria em toda parte (embora o assustador tenha sido justamente o fato de que antes de sua estreia, havia sido celebrado como um clássico e que certamente seria um dos filmes mais importantes do Oscar deste ano, até porque os realizadores do projeto foram não apenas Steven Spielberg (seu estúdio tradicional é co-produtor!), mas principalmente cometeram o erro de achar que o relativamente novato Damien Chazelle (Oscar de direção por La La Land) seria a pessoa adequada com uma narrativa ousada e confusa, de tal maneira que um amigo presente fez questão de descrever o filme “como o pior que ele já viu em toda sua vida”. Realmente é um caso trágico de equívoco metido a besta, de quem parecia estar cansado de narrar uma história mais convencional revelando também como os críticos (os norte-americanos em particular) conseguem ser cegos e tolos, adorando exagerar aquilo que não entenderam (e vai ser difícil salvar a carreira do pretensioso Chazelle, que parecia promissor!).

Mas esqueceu do básico. Para se contar uma história é preciso antes de tudo um elenco certo, e a maior parte dos atores coadjuvantes são mostrados ou em cenas curtas e mini-diálogos, de tal maneira que quase todos mal são identificados (uma boa maneira de se ter um modelo para o gênero é o divertido e político, Estrelas Além do Tempo, que tinha certa semelhança mas era muito melhor!). A má interpretação se estende também ao protagonista Ryan Gosling (curiosamente várias pessoas vieram a mim para criticá-lo, com sua aparência mal humorada, tediosa e chegando mesmo a considerá-lo incapaz de viver um herói ou galã!). E olha que ele faz um protagonista fundamental na história, o real Neil Armstrong (nada a ver com ele em aparência embora pode ser que tenha sido uma pessoa igualmente mal humorada, já que o protagonista passa o tempo todo irritado, trata mal a esposa e principalmente os coitados dos filhos demonstrando ser um dos heróis mais chatos e inconvenientes que já vi em filme comercial de ação!). A exceção ao menos é a britânica Claire Foy, que consegue ao menos na parte final passar certa sensibilidade (nem por isso deixou de ser mal fotografada, sem maquiagem, com marcas no rosto e muita sarda! Parece que o iluminador tinha raiva dela!).

Mas isso tudo é de menos já que o problema da história (e também o titulo infeliz) é que se trataria de um momento épico na vida do governo norte-americano, onde várias vidas são sacrificadas (também de maneira passageira e desrespeitosa). Neil começa chato e termina antipático enquanto a narrativa escolhida pelo autor é uma sucessão de planos fechados, mostrando explosões e closes estonteantes que são uma tortura para o espectador. Não poderiam ser mais bombásticos, mais explícitos, com personagens em super closes, exagerados e explosivos. E no final quando se espera alguma surpresa, algum momento mais original da chegada na Lua, nem assim se dão ao trabalho de respeitar a sensibilidade do espectador. É certamente o filme mais desagradável e barulhento e equivocado e confuso que já vimos em todos os tempos. Sem dúvida, se tornará um dos grandes desastres do cinema. E Sr. Spielberg, o que o senhor tem para justificar tanta baboseira?