Éramos apenas três pessoas na sala do cinema. Quando terminou o filme, um deles um senhor tentou falar comigo, mas eu não consegui. Fiquei sem jeito, com os olhos lacrimejando, pedi desculpas e fui para o banheiro, porque a minha voz falhava. O senhor depois me esperou e foi solidário, enquanto eu me desculpava. Tentei dizer o quanto tinha gostado do filme, mas aos poucos, apareceu outro conhecido que me fez companhia e para quem consegui explicar melhor. Não estava chorando só pelo filme, estou chorando pela gente brasileira, por nós todos que estamos perdidos nesse caos de eleição, corrupção, descontrole. Só assim entendi que chorei não apenas pela comovente tragédia de Tancredo Neves, mas pela gente mesmo, o brasileiro coitado e perdido, no meio dessa eleição fajuta e absurda, sem saída, patética. Com um adendo importante a mais, a presença de Othon Bastos, certamente nosso maior ator de cinema (com quem tive a honra de contar na segunda versão de Éramos Sseis no SBT) uma figura esplêndida em mais um de seus grandes momentos. E uma correção que também falta, fazer jus ao notável trabalho do diretor Sergio Rezende de quem outras vezes fui exigente demais (e de sua extraordinária esposa e produtora Mariza Leão). Meu respeito a eles.
O mais triste porém é verificar que nestas vésperas de eleição acontece também a ausência dos espectadores nas salas de cinema (dizem que com queda de quarenta por cento, afetando mesmo outras produção de comédia brasileira que tradicionalmente tem seu público fixo, mas com a cabeça cheia dos fatos atuais, nem mesmo querem rir. Outro fruto da eleição que se aproxima). Uma pena porque este drama biográfico realizado com muito cuidado e sem qualquer demagogia, foi baseado em livro homônimo de Luis Mir com roteiro de Gustavo Lipsztein (uma pena que o título não tenha sido atraente!). Mas aproveitam muitos e oportunos materiais de arquivo (refletido até no tom das cores) as sem fazer suspense porque a história já é tão forte, tão humana que fica tudo ilustrado por um grupo notável de atores que estão brilhantes (como Esther Goes, fazendo a mulher dele, Risoleta), mas o interessante mesmo é que refletem tudo que sucede na crise e depois nas diversas situações de vida e morte, que tem a interferência de fatos assustadores e já conhecidos, mas esquecidos. Como o fato dos hospitais de Brasília não estarem qualificados para grandes operações, os políticos que invadiram a sala de operação, a disputa entre os diversos médicos, cada um deles querendo seu momento de estrelismo (ainda que se evitando a caricatura fica clara a briga de egos, o momento único na história criticando-se ainda que levemente o Sarney que se tornaria o presidente sem Tancredo assumir). Cheguei a ver críticas superficiais e despreparadas da Imprensa pela razão muito simples de que somos um país sem memória, que quando chegamos a derrubar uma ditadura deixamos de admirar a coragem com que se reconta o fato e simplesmente nos esquecemos do acontecimento e suas consequências. É triste, mas poucos foram ao cinema também porque já não sabem do que se trata, não se interessam nem quando brincam de eleição... Nunca fomos muito fortes em matéria de História ainda mais contemporânea. O lamentável é que um filme tão importante não tenha conquistado ainda o respeito que merece.