Crítica sobre o filme "Ilha dos Cachorros":

Rubens Ewald Filho
Ilha dos Cachorros Por Rubens Ewald Filho
| Data: 07/07/2018

Custei muito a me deixar envolver pela obra pessoal e fora do comum do diretor Wes Anderson, desde sua estreia com Pura Adrenalina (96), seguida por uma sátira as faculdades com Três É Demais (98) e mais Os Excêntricos Tenenbaums, 2001, A Vida Marinha com Steve Zissou, sempre que foi possível sempre trabalhando com os mesmos atores. Só passei a curtir melhor seu estilo de humor a partir de Viagem a Darjeeling (07) que foi seguido por uma primeira animação (o divertido O Fantástico Sr. Raposo, 09), outro filme cada vez mais curioso e provocador (Moorise Kingdom, 12) para chegar a obra-prima que foi O Grande Hotel Budapeste com super elenco (14). Agora chegou a vez desta outra animação, ainda mais original ainda que não tenha sido o sucesso que merecia (rendeu 31 milhões de dólares e ate agora, 61 milhões acrescentando o mercado internacional).

Premiado no Festival de Berlim, como melhor diretor, esta é uma animação passada e realizada no Japão, toda falada nas duas línguas, ou por escrito ou dublado por atores famosos japoneses e americanos. Ou seja, seu visual é extremamente oriental, muito bem delineado que vai ficando cada vez mais detalhado e diferente. Na verdade, fiquei surpreso de ver várias críticas americanas negativas, considerando que tradicionalmente eles adoram cachorros! Também é meio evidente que o diretor se inspirou nos desenhos tradicionais do mais célebre criador do gênero no Japão que é o lendário Hayao Miyazaki, que une o esplendor e as mazelas desse país do Oriente. Recriando seus ambientes de luxo e de terror e vingança. Talvez de forma um pouco complicada para seguir (as duas línguas com os textos em japonês. E ainda os cachorros falantes, cheios de filosofias) em geral vira-latas que sob o pretexto de existir uma praga canina, são expulsos e jogados numa ilha abandonada, com lixo e material decadente e quase nenhuma comida. Os sobreviventes brigam entre si, até quando surge dos céus, um garoto de 12 anos chamado Atari que parece não ter parentes e quer encontrar seu querido cão de estimação. Primeiro entra em conflito, depois acaba ficando solidário com os sobreviventes, enquanto a situação na capital vai ficando cada vez mais complicada. O final me pareceu um pouco anti-épico demais.

Mas, ao contrário dos americanos, vibrei com os visuais, o humor canino, menos um pouco com as crianças que tentam trazer de volta os bichos (mas eles não são fofos!). Também as cenas nos monturos de lixo e material degradado acabam sendo longas e não me parecem adequadas para crianças pequenas. Esse se torna então o problema do filme: não vai agradar as crianças que podem achá-lo soturno e há muitas frases em japonês que não são sequer traduzíveis.