Crítica sobre o filme "Orgulho, O":

Rubens Ewald Filho
Orgulho, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 17/07/2018

Nenhum dos dois títulos, o francês ou o nacional, são felizes, nem ilustram muito bem o que vêm a ser este filme francês que me fez lembrar um filme inglês, muito parecido só que mais engraçado e mais leve, talvez ate porque os tempos mudaram e tudo ficou mais dramático e pesado. Falo de O Despertar de Rita (83) de Lewis Gilbert, com Michael Caine e a então novata Julie Walters (que chegaram a ser indicados ao Oscar pelo papel, assim como o roteiro). É sobre uma estudante cabeleireira ambiciosa que pede a ajuda de um professor alcoólatra. Só que a situação na França atualmente é bem mais confusa e complicada, com problemas raciais e conflitos sociais, mais do que românticos (que aqui não chegam a suceder entre os protagonistas). Talvez por isso que achei o filme um pouco clichê, facilitando coisas e problemas que sabemos que na vida real são bem mais graves e polêmicos. E que falar de racismo não é uma coisa muito fácil de lidar, em particular na Europa atual.

O filme chegou a dar um prêmio de revelação para a atriz principal, que vem de família de emigrantes argelinos, Camélia Jordana (1992) que já tem 15 créditos, alguns passaram aqui (Nós, ou Nada em Paris, A Sua Completa Disposição e o novo Curiosa). Realmente ela é boa atriz , com presença forte na tela, no difícil papel de Neila, que vive num prédio modesto no subúrbio de Paris, com sua mãe e avó e até um rapaz que dirige Uber (chamado Mounir). Ela esta decidida a se tornar advogada e por isso se inscreveu no chamado Assas a Universidade de Paris. Mas chega atrasada logo no primeiro dia e sofre um ataque altamente ofensivo de um professor veterano Pierre Mazard (Auteiul, que continua a ser um grande ator mesmo com um personagem tão desagradável quanto este aqui). Ele a ofende estupidamente e isso provoca a reação negativa dos alunos e também de outros professores. Para não ser despedido, ele tem que enfrentar um desafio, ensaiar a moça e lhe ensinar todos os truques da profissão. Naturalmente tudo isso é cheio de reviravoltas e dificuldades, momentos dramáticos (e tem um problema ao final, no fundo demonstra que para ser advogado é preciso fazer muita concessão e portanto não ser totalmente honesto!).

Quem realizou o filme é um veterano e ator franco-judeu Yvan Attal que já fez filmes de todo tipo como ator (Munich, A Hora do Rush III, Viagem do Coração, Uma Agente Muito Louca, num total de 55 créditos), mas é bem intencionado, embora seus 8 trabalhos como diretor ficaram inéditos aqui (uma falha por sinal). O resultado é irregular, mas apresenta uma Paris atual, com um tom mais leve que procura denunciar os problemas e crises de forma inteligente. Francamente tem defeitos, mas me envolvi com as situações e propostas.