Tinha gostado muito do Primeiro filme da série “Sicário”, o Terra de Ninguém (prometem ainda um terceiro!) de 2015, e fiquei surpreso em descobrir que teve uma bilheteria internacional de apenas 85 milhões de dólares (pouco considerando os elogios para o diretor Dennis Villeneuve, a estrela Emily Blunt, a fotografia de Roger Deakins e a trilha musical de Johann Johnsson, que faleceu) e ainda por cima a revelação do roteirista e ocasional diretor que se tornou ídolo da moda Taylor Sheridan (com A Qualquer Custo/Hell or High Water, 16, indicado a 4 Oscars e Terra Selvagem/Wind River, 17). Que certamente é o grande autor deste filme (e tem um outro ainda para completar a trilogia! Mais que isso estreou na TV americana outro projeto dele, Yellowstone em 10 capítulos). Curiosamente os astros são novamente Brolin e Del Toro, sendo que ambos nesse meio termo conseguiram papeis marcantes nas séries da Marvel (Brolin com Thanos em Vingadores em Terra Infinita, Cable em Deadpool)!
Mas certamente o mais curioso é justamente a escolha para chamar como diretor um italiano praticamente desconhecido por aqui, um certo Stefano Sollima, nascido em 66 em Roma mais lembrado pelo pai chamado Sergio Sollima (1921-2015), que nunca foi grande coisa mas realizou alguns aceitáveis filmes de ação com Charles Bronson (Cidade Violenta, 70), spaghetti westerns como Quando os Brutos se Defrontam, 67, O Dia da Desforra, 66, Corre, Homem, Corre, 68. E outros ainda menores. Agora o filho foi premiado e sucesso com Gomorra La serie, 14, Suburra, 15, ACAB All Cops are Bastard,12, todos premiados em Festivais europeus. E o resultado é surpreendente: um filme forte, sem exagero de violência, mas que apesar isso não é menos ilustre, com um resultado bem realizado e intenso (me incomodam o tema musical repetitivo e a escolha de dois mexicanos, jovens, uma garota e um rapazinho, ambos inexpressivos e inexperientes, que mereciam outros mais poderosos). Também houve momentos que me fizeram recordar uma fonte de inspiração para eles, que foi o precursor do gênero, o premiado Traffic (2000) de Steven Soderbergh.
Mesmo sem ser especialmente original, este Sicário II consegue prender a atenção e nos envolver numa trama que acaba sendo extremamente atual e por isso ainda mais chocante, quando apresenta a posição do governo norte-americano (Trump não nomeado) contra os emigrantes mexicanos. Não chega a ter discursos ou grandes denúncias (embora os membros do governo sejam vividos por atores veteranos como Matthew Modine e Catherine Keener). Mas ao menos não os torna heróicos nem louva a ação dos norte-americanos na verdade escravos da situação trágica entre traficantes de drogas e de seres humanos, donos de cartel e aspirantes a bandidos (outro detalhe, o personagem do garoto que seria norte-americano é muito mal definido, não se mostra porque ele deseja tão fortemente virar bandido!). De qualquer forma, os conflitos, os tiroteios, as reviravoltas são bem encenadas e muito violentas. Nestes tempos em que apenas filmes de grande apelo fazem melhor carreira nos cinemas, este é um dos poucos que ainda pode interessar os admiradores do gênero.