Crítica sobre o filme "Boas Maneiras, As":

Rubens Ewald Filho
Boas Maneiras, As Por Rubens Ewald Filho
| Data: 22/06/2018

Nem tudo é perfeito, o titulo misterioso pouco tem a ver com a história, não havia necessidade de duas horas e quinze de projeção! Mas esses pequenos detalhes ficam mais que secundários diante da originalidade e talento de mais um filme notável da dupla Dutra e Rojas (que fizeram juntos Trabalhar Cansa) embora tenham trabalhado também separados (Dutra é roteirista e dirigiu Silencio do Céu e Quando Eu Era Vivo), enquanto Juliana realizou o cult Sinfonia da Necrópole (ambos também fizeram vários curtas e trabalho para a televisão, mas as canções que ponteiam este filme são uma marca registrada dela). Dá para perceber que sou admirador da dupla e vibro com os merecidos prêmios que eles ganharam aqui e no exterior (menção honrosa em Austin Texas, menção do Júri em Biarritz, em Buenos Aires, prêmio do júri e crítica em Gerardmer, prêmio Janela do Recife, melhor filme L ´Etrange Festival, Prêmio Especial do Júri em Locarno, menção em Oslo, melhor filme no Rio e Premio Felix, Prêmio Petrobras e Premiere Brasil. Menção de atriz em Sitges, para Isabel e também melhor filme. Prêmio do Público em Torino (Festival Gay), Zinegoak Bilbao (atriz Isabel).

Não há duvida que Isabel é uma atriz versátil e excelente (começa com os cabelos bem curtos, depois usa peruca que a diferencia) mas o interessante é que ela é africana de Lisboa, com mãe vinda de Angola, e o pai de Guiné Bissau (e sem sotaque que se note). Tem também outros prêmios de outros diretores (Coadjuvante no CineEuphoria de 2918, por Joaquim de Marcelo Gomes, coadjuvante em Festival Aruanda por Nós do Diabo, de Ramon Porto Motta). Mas não se pode menosprezar outros talentos do elenco, destacando Cida Moreira (que faz a vizinha, talvez em seu melhor momento) e além de ótimos coadjuvantes (e crianças), admirei muito o trabalho de Marjorie Estiano, que mal conhecia da televisão e que tem um trabalho excelente como Ana, a grávida que é ajudada pela empregada no que irá se desabrochar numa situação curiosa. É que na verdade, o filme se divide muito claramente em três atos. Na primeira parte a amizade que vai se desenvolvendo entre a problemática grávida do interior que esconde segredos (o clímax dela quando sai caminhando pelas ruas é marcante). Num segundo ato, Clara vai cuidar da situação (nada de spoiler) depois de certa dúvida (a direção de arte é especialmente interessante estilizando prédios e paisagens) e ao final, um último ato que tem um pouco de filme de terror norte-americano (com a ajuda de efeitos especiais).

Na verdade, a dupla talentosa ainda não foi consagrada aqui como deveria. São originais, sensíveis e merecem todo sucesso.