Crítica sobre o filme "Em Guerra por Amor":

Rubens Ewald Filho
Em Guerra por Amor Por Rubens Ewald Filho
| Data: 11/06/2018

Foi uma ótima surpresa, fiz confusão com o nome de um filme e tive a sorte de assistir esta deliciosa e política comédia italiana, das melhores que já assisti (na verdade, as salas hoje em dia colocam apenas o título sem maiores referências, ainda mais num caso como este, de um filme italiano que estreou sem qualquer publicidade e as possíveis assessorias de divulgação nem sequer me falaram sobre ele!). Obviamente as poucas críticas foram superficiais, já que o cinema italiano não domina mais com fazia antigamente aqui dos anos quarenta e tanto em diante (e por um longo período de tempo, principalmente porque o cinema italiano entrou em grave crise dominada pela televisão e no Brasil deixou de ter importância a comunidade italiana que havia emigrado para cá). Uma pena que essa infeliz mistura fez com que perdêssemos o lado político, a ironia, a humanidade, os realizadores e atores brilhantes. Acreditem, o cinema italiano já foi o melhor do mundo. E prova disso é este filme para mim até agora desconhecido, inclusive com a presença de um comediante/diretor/ator que tem o nome esquisito de Pif (um italiano que parece ser especializado com a situação de sua Sicilia natal!). Tem outro detalhe esquisito quando fui perceber que o outro ator importante do filme, o tal latino Andrea Di Stefano, era parecido comigo ainda mais de perfil (ele tem sido ator e roteirista e agora diretor de sucesso tendo realizado o drama Escobar Paraíso Proibido). Bom, antes fosse e distante dos tempos em que o Jô Soares me achava parecido com Marlon Brando!

Não foi por causa disso que gostei do filme, mas a mistura incrível que só italiano sabe fazer de crítica social e política misturada com comédia social (a maior parte do filme é uma denúncia escandalosa de um fato real e pouco divulgado, quando os americanos desembarcaram na Sicilia e foram muito bem aceitos porque foram patrocinados pela Máfia, instaurada nos Estados Unidos, inclusive o grande líder deles que foi Lucky Luciano! Foi assim que sumiram com os nazistas e a Máfia a partir dali o que se tornou e até hoje é assim, tudo ainda é controlado e administrado por eles). Na história, há um jovem siciliano Philip (Pif) que se mudou para a Europa mas agora tem um problema porque a mulher que ele ama esta sendo paquerada pelo filho de chefe mafioso. Talvez a única forma de solucionar a confusão seria conseguir a liberação e ordem do pai dela, que está à beira da morte e ainda por cima em pleno conflito de guerra. O meu pseudo sósia é um oficial americano inteiramente honesto e o único a ter coragem de denunciar a jogada da Máfia de tomar o poder, ajudando o avanço das tropas aliadas, mas também se estabelecendo no lugar (matando quem não lhe interessa) fazendo o que bem entende! Tudo felizmente é muito bem temperado com grandes sacadas (além de duas belíssimas jovens envolvidas em romances, mas desconhecidas para nós). Como a disputa de dois velhos, um carregando a imagem do ditador Il Duce e a velha levando a de Nossa Senhora para fugirem dos ataques aéreos! Ou uma dupla ótima de um velho cego e um parceiro que vivem ao léu e na miséria (há uma delicada cena que brinca com o fato deles poderem ser gays!). Isso que eu acho tão bom no cinema italiano, personagens verdadeiros, que riem de sua própria infelicidade e são extremamente humanos. E mesmo em plena guerra, há mais bandidos que heróis...