Cada vez mais eu aprecio o trabalho que muitos jovens cineastas têm realizado com documentários. É verdade que existem alguns que se limitam perder tempo com temas superficiais (embora eu tenha que confessar que gosto muito de assistir também aqueles que fazem biografias de cineastas, informativos e curiosos, como um recente que me tocou muito sobre a carreira de Hugo Carvana!). Mas há também os corajosos (e sensíveis) que realizam filmes como este que se apresenta como um dos pioneiros a abordar um assunto tão importante e verdadeiro quanto o autismo, acompanhando durante dois anos a rotina de sete famílias de classes sociais diferentes e também de regiões distintas do Brasil.
Embora o filme tenha me deixado muito emocionado, em momento algum cai no exagero, ou no fácil, ou simplesmente didático. Realizado com delicadeza e sensibilidade, faz um retrato necessário do que seria o autismo e suas diversas faces, fugindo do melodrama mas também abrindo as portas para as lições de vida e superação. Afinal, como informam os autores, segundo a Organização Mundial de Saúde, no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas apresentam algum grau do transtorno e ele segue considerado uma das mais enigmáticas desordens neurológicas já conhecidas.
Em um Mundo Interior é o primeiro longa-metragem brasileiro sobre o tema, e nos convida a acompanhar o dia-a-dia de Enzo, Julia, Roberto, Igor, Isabela, Mathias e Eric, cujas idades variam entre 3 e 18 anos. Como afirmam os autores, o autismo não tem cura e nem origem definida - há apenas hipóteses, algumas mais aceitas, outras menos - e é justamente isso que mais atinge o espectador, até porque é triste constatar como diz a diretora “As pessoas de um modo geral não sabem o que é o autismo e muito menos como lidar com ele”.
O filme é uma porta aberta para essa conquista tão importante. Tomara que tenha uma vida longa pelo país todo e seja consagrado pelo que merece.