Crítica sobre o filme "Cidade do Futuro, A":

Rubens Ewald Filho
Cidade do Futuro, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 26/04/2018

Fico contente que a ação de uma assessora de imprensa que me mandou o Vimeo e me chamou a atenção para um filme que podia passar em branco. Seria um erro e uma pena, já que este A Cidade do Futuro chega com um certo atraso porque teve uma carreira internacional muito bem sucedida. E não é difícil entender porque. Este segundo longa da dupla de diretores baianos (fizeram antes Depois da Chuva, 1013, que não assisti) é um curto mas um  sensível trabalho, que conta uma história muito brasileira. É uma boa ideia começar com imagens de arquivo revelando o fato histórico de populações inteiras foram retiradas de sua terra a força nas margens do rio São Francisco porque onde moravam iria se tornar apenas mais um lugar abandonado e sem futuro. O resumo oficial do filme é muito curto, talvez porque todo o filme é sobre gente que fala pouco, mas sabe o que quer.  Dizem eles: em uma região marcado pelo machismo e a homofobia, Milla, Gilmar e Igor formarão uma família fora dos padrões. E basicamente é isso que acontece (embora o pôster do filme de certa forma já revela a conclusão, o que não é uma boa ideia. Ninguém gosta de não saber a conclusão antes de entrar no cinema).

Enfim, nada disso atrapalha a narrativa singela e tocante, sobre dois rapazes que se gostam e se namoram discretamente. Isso provoca a reação dos locais (embora o filme não toque mais profundamente sobre os fanáticos religiosos que hoje em dia são cada vez mais agressivos e frequentes). Há também uma moça que não tem problemas em ter relação ainda que passageira com outra garota, mas ela tem um caso com um dos rapazes que a engravida. Forma-se então um triângulo. Discreto (uma única cena de nudez masculina) talvez por isso mesmo que o filme funciona tão bem, difícil não se envolver com a história e sinceridade da intriga. O que também explica a quantidade de prêmios que incluem Melhor filme Latino-Americano no BAFICI, Buenos Aires, Melhor filme internacional no Newfest New York LGBT Film Festival´s, Melhor filme Prêmio do Público no Olhar de Cinema Curitiba International Film Festival, Melhor filme brasileiro e melhor direção no 10º For Rainbow - Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual. Mas na verdade merecia, graças a sua sensibilidade, ainda mais.