Crítica sobre o filme "Insulto, O":

Rubens Ewald Filho
Insulto, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 27/02/2018

No último fim de semana o Hollwyood Reporter previu como o filme vencedor do Oscar de produção estrangeira este filme libanês que tem sido um sucesso de público no Reserva Cultural e acolhido como o melhor dos finalistas. Na verdade, além de ser superior aos colegas, o filme tem um impacto, uma direção precisa, atores do primeiro time e uma mensagem política atual e forte (que nos faz lembrar um pouco os bons tempos do cinema político de Costa-Gavras!). Fiquei ainda mais surpreso ao saber que o diretor Ziad (Líbano, 1963), também roteirista e diretor de fotografia, teve que fugir da Guerra Civil libanesa aos 18 anos e foi estudar nos EUA quando conseguiu ser assistente de câmera de Quentin Tarantino. Em filmes como Jackie Brown, Pulp Fiction e Cães de Aluguel. Em 1998, fez sucesso com o filme West Beyrouth, À Abri les enfants, 1998, premiado em Toronto e Cannes (e novamente sobre a Guerra Civil). Não me lembro de ter visto seu filme seguinte Lila Diz (04), sobre romance de casal de adolescentes (que passou em Sundance e ganhou prêmio em Gijon), seguido de O Atentado (12) sobre cirurgião árabe em Tel Aviv que descobre segredo da esposa por causo de atentado (2 prêmios em San Sebastian).

A verdade é que cansado de filmes frouxos e cansativos vindos na sua maior parte da Europa, mas também de nossa terra natal, fui impactado (e toda a plateia junto) com uma historia aparentemente singela que vai crescendo e se transformando num grande conflito político e social, que nem sempre somos capazes de compreender. A verdade é que tenho amigos libaneses e simpatia pelo país, e o filme revela detalhes e situações (como o massacre de toda uma cidade que plantava bananeiras) que desconhecia. O que me impressionou é como o roteiro é bem armado, vai provocando o conflito aos poucos entre os dois protagonistas, um Cristão (Abel, que fez também o talentoso Caramelo e E Agora Onde Vamos?, que parece um pouco o Paulo Cesar Pereio e carrega um pouco nas tintas, porque é o caminho mais lógico para seu personagem). E o outro o palestino Kamel El Basha (que faz Yasser e foi votado por seu trabalho como melhor ator no Festival de Veneza. Ele é reconhecido diretor, ator e escritor teatral). O conflito é aparentemente muito simples. Kamel está fazendo reforma em bairro, patrocinado por deputado (corrupto como muitos!) e Abel destrói um cano de água seguido por bate boca e insultos! Ambos têm mulheres (e a de Abel tem uma criança prematura) e o caso que era apenas um bate-boca vai se tornando um conflito religioso, social, político e finalmente humano.

Se formos restritos, apesar de gostar de várias soluções do roteiro - como surpresas no tribunal, com o advogado que sustenta o caso e a moça que chega para defender o palestino! - algumas soluções parecem um pouco forçadas demais. Mas tudo bem, porque os lances são tão envolventes e convincentes, a mensagem tão necessária que o filme se distingue dos rivais e provoca no espectador uma euforia. Que bom não ser dessas besteiras recentes e finalmente temos um filme que discute e nos comove.