Crítica sobre o filme "Sem Amor":

Rubens Ewald Filho
Sem Amor Por Rubens Ewald Filho
| Data: 08/02/2018

A seleção dos Oscars de filme estrangeiro sempre foi esquisita e falha. E não mudou este ano, onde selecionaram uma série de filmes relativamente desconhecidos, mas que ao menos os distribuidores brasileiros tiveram a inteligência de importar para exibi-los agora. Como o presidente soviético anda tão amigo do presidente americano Trump, tudo é possível. De qualquer forma, este filme também foi indicado ao Globo de Ouro, o Bafta britânico, ganhou o Prêmio do Júri em Cannes, o Camerimage, trilha musical e fotografia no European Film Awards, Independent Spirit, Golden Eagle na Rússia (como direção), London Film Festival (melhor filme), Munich (filme)Zagreb. Ou seja, veio qualificado.

Importante: o diretor Andrey (1964) ficou famoso pelo seu premiado Leviathan (14), finalista do Oscar, melhor roteiro em Cannes, vencedor do Globo de Ouro, mas seus outros filmes são também interessantes: O Retorno (03), O Desterro (07), Elena (11).

À primeira vista já é bom perceber que não é o habitual trabalho soviético. Nunca vimos essa temática num filme russo, ainda que comum tanto no cinema americano quanto europeu. Em 2012, o casal Boris e Zhenya, embora ainda vivam juntos na mesma casa, em Moscou, estão num processo de divórcio. Ambos já tem novos parceiros, mas tem problemas graves como a custódia de Alyosham, o único filho agora com 12 anos. Que apesar disso é desprezado, mal-amado e se tornou um garoto infeliz que se acha desprezado. Na verdade, os pais o ignoravam e só dois dias depois do garoto sumir de casa é que vão perceber sua ausência.

Talvez a melhor coisa do filme seja sua fotografia, seguido de perto por um hábito do diretor. Embora seja discreto para não provocar a ira dos poderosos locais, mas parece que a intenção não é apenas o casal, mas toda a sociedade e realidade da vida soviética. Se bem que a trama poderia acontecer igualmente nos EUA (aliás, é provável que já tenha sido feita). O filho do casal chamado Alyosham mas todo o comportamento dos pais é o reflexo de um pais ainda ditatorial, repleto em alcoolismo e corrupção, simbolizado basicamente no trio central. Por isso que o filme é mais interessante e revelador do que o resumo faz crer. Por exemplo, o marido Boris que trabalha numa empresa que não permite que ele não seja casado e não tenha filhos!). Enquanto o novo namorado de Zhenya a introduziu num grupo mais sofisticado de sociedade. Enquanto isso a polícia acha que o desaparecido pode voltar e pouco faz. Um grupo especializado tenta ajudar de maneira mais eficiente. Mas não é difícil prever a conclusão. Curiosamente a crítica americana acha que a sobriedade (e o clima de corrupção) pode não atingir o espectador local. Mas o filme deve funcionar melhor entre nós, principalmente entre as mulheres.