Não tinha me dado conta ainda como pode ser irritante e aborrecido um filme inteiro que tem o tempo todo uma voz narrativa em off! Ainda por cima um filme longo (duas horas e vinte de metragem como se dizia antigamente!). Já ouvi gente reclamar do abuso deste recurso não muito cinematográfico, mas nem tanto quanto neste caso onde é apenas uma voz feminina um pouco ácida demais, que está encarregada de contar em detalhes não apenas sua vida e estrepolias, mas principalmente porque também se dedica a descrever os detalhes de jogos de azar. Deixa eu esclarecer esse outro problema. Se você gosta de jogos de cartas, os chamados jogos de azar, é capaz que seja mais tolerante com esta história real que basicamente tem dois temas 1) uma moça chamada Molly Bloom que gasta quase o filme para manter-se ressentida e magoada com o seu pai (feito por um Kevin Costner bem envelhecido e mal-humorado). A mãe e os irmãos praticamente não aparecem, vá se entender porque. 2) por outro lado, ela entende muito de jogos de azar, carteado, tanto que é capaz de realizar jogos de pôquer com milionários, do qual ela ganha uma parte relativamente pequena para não despertar a atenção do governo, que pode achar que é jogo de azar e levar ela para a cadeia. Se for o caso de gostar desse tipo de jogo então o filme já se torna obrigatório para você.
Infelizmente não é meu caso, embora o filme se esforce muito para deixar tudo muito claro e relativamente acessível. Esta é a estreia na direção de um dos mais famosos e respeitados roteiristas da teve americana, o muito premiado Aaron Sorkin (que foi responsável por séries de sucesso como a peça Questão de Honra, O Homem que mudou o Jogo, West Wing, o roteiro do filme Rede Social, o filme Steve Jobs, a série The Newsroom, e outros menores). Com certeza é alguém que gosta muito de falar e tergiversar decifrando todos os detalhes até a mais pura irritação!
Não fosse isso, o filme que tem sido indicado para melhor atriz (outra menção para Jessica Chastain, que concorreu ao Oscar antes por coadjuvante por The Help, Histórias Cruzadas, 12, e Zero Dark Thirty/A Hora mais Escura, 12, e cinco indicações ao Globo de Ouro (com suas interpretações mais competentes que vem a ser A Most Violent Year/O Ano Mais Violento, 15, Miss Sloane/Armas na Mesa, 16 - provavelmente seu melhor trabalho e muito pouco visto!). Confesso não tinha maior simpatia pela atriz ruiva e de presença antipática, mas o tempo tem demonstrado que é capaz de crescer e ser versátil como aliás sucede neste filme. No mínimo uma indicação ao Oscar ela merece ter e parece uma questão de tempo que já está entre as melhores de sua geração.
O filme é bem curioso porque mostra ela como criança e depois adolescente, feita obviamente por outras atrizes, embora de tal maneira que nos deixa na dúvida no caso da “teen”. Muito editado, bem produzido, começa com o pai ensinando a garota a esquiar na neve (para competições de grande perigo), até que ela sofre acidente que lhe deixara marcas tanto no corpo quanto na sua relação com ele. É quando então resolve dar um jeito para fazer dinheiro sem ser ir para a cadeia (e o filme vai ficando cada vez mais picotado). Se houve romances e casos o filme não desenvolve esse lado, se contentando em transformar Miss Jessica numa sombra bem maquiada de Julia Roberts. Há dois detalhes curiosos. Este é o melhor momento no cinema americano do britânico Idris Elba - embora na verdade tenha sido rodado no Canadá! - que faz um advogado (fictício)que tenta resolver seu caso. Andou errando em outros projetos, mas aqui convence bem e o curioso é que a dupla tinha pouco tempo - apenas 10 dias - para fazer as diversas cenas de discussão e disputa entre eles, de forma que ficarem ensaiando durante todos intervalos, 45 páginas em 6 dias! Outro detalhe curioso, o ator famoso de cinema que no filme é vivido Michael Cera, na verdade é outro mais conhecido, o antigo Homem Aranha, Tobey McGuire. Outro: todos os que aparecem no filme são jogadores profissionais de pôquer. Além disso, Sorkin pediu a ajuda para um diretor que achava mais experiente que ele, no caso David Fincher.
O resultado então é discutível, mais para experts em pôquer e admiradores de Jessica, que consigam suportar o massacre da falação.