É curioso que simultaneamente tenham surgido três filmes diferentes sobre o mesmo personagem histórico, no caso o Primeiro Ministro inglês Sir Winston Churchill (1874-1975), uma figura lendária e polêmica, que foi responsável por salvar a Grã-Bretanha da destruição diante da invasão da Europa nas mãos do nazismo de Hitler. O primeiro caso foi a minissérie The Crown da Netflix, de Peter Morgan, ainda disponível, uma super produção excepcional que teve a ousadia de chamar um ator americano para o papel, no caso John Lithgow, que levou um Emmy, o SAG, Critic´s Choice e foi indicado ao Globo de Ouro. Quase simultaneamente surgiu depois um longa-metragem britânico ainda de qualidade (ainda que inferior aos dois outros) que foi o apenas Churchill (Idem), 17, feito por um diretor pouco conhecido australiano (Jonathan Teplitsky, que fez Uma Longa Viagem com Nicole Kidman) e com o escocês Brian Cox, que está bem e sua mulher feita pela ótima, Miranda Richardson. Mas para tentar ser um pouco diferente os acontecimentos registrados pelo filme estão restritos a apenas 96 horas de básica importância para a sobrevivência da Grã-Bretanha. Resultado: um filme interessante, mas menor.
Este terceiro e mais importante, da Universal Focus, está sendo promovido porque é a primeira indicação ao Globo de Ouro, apesar de sua ilustre e querida carreira, de Gary Oldman que tem bastante chance de até se sair vencedor (havia também possibilidade de roteiro e outros prêmios técnicos, mas este ano a disputa dos prêmios ainda mais o Oscar está mais difícil e disputada). Gary se revela um ator versátil num verdadeiro tour de force a ponta de ser irreconhecível escondido atrás de uma incrível maquiagem e trejeitos (com a boca). Além de conseguir reproduzir os mais famosos discursos do primeiro ministro inglês, que além disso reproduz na parte final do filme, num verdadeiro show.
Acredito que o filme (que nos EUA está tendo uma carreira razoável com cerca de 23 milhões de dólares de renda) não seja para todo mundo. Os muito jovens e os menos interessados em História (com H maiúsculo) ou Política, podem se aborrecer sobre um conflito fundamental na História das guerras, mas já um pouco distante para alguns. O trabalho do roteiro (e um livro) foi feito por Anthony McCarten que pesquisou tudo com cuidado e fez também o premiado A Teoria de Tudo e dirigido por um dos meus diretores preferidos, o excelente Joe Wright (Desejo e Reparação, e por isso nem mostra muito a cena de Dunkirk, visto agora em filme parecido, Orgulho e Preconceito, Anna Karenina, Hanna, no episódio Nosedive de Black Mirror, e agora Stone com Tommy Lee Jones). Em vez de um filme frívolo e cheio de lances visuais, fez um trabalho discreto e até sombrio (as figuras femininas são ainda mais em segundo plano, apesar da qualidade de Kristin Scott Thomas e a promissora Lily James-(Cinderella). Mas seria obrigatório para ser visto por todos os políticos brasileiros, uma verdadeira lição para eles.