Crítica sobre o filme "Roda Gigante":

Rubens Ewald Filho
Roda Gigante Por Rubens Ewald Filho
| Data: 29/12/2017

Este é certamente dos piores trabalhos de Woody Allen, não é comédia (e nem tentativa disso), a fotografia do genial diretor de fotografia italiano Storaro parece se fixar exclusivamente nos cabelos tingidos de ruivo da estrela Kate, que em determinados momentos ao final lembra estrelas do passado (em particular Eleanor Parker), com nova maquiagem, um vestido elegante (sem qualquer sentido). Mas sua interpretação na parte final é esplendida e notável, deveriam lhe ofertar um novo Oscar. Mas Allen parece não insistir muito na sua promoção (quem sabe temendo que a perseguição dos tarados na Academia de repente sobra para ele!) e o roteiro que fez sozinho parece lembrar os filmes da Metro (que eram em preto e branco), melodramas que imitam peças de teatro e se fixam sempre na estrela e sua grande cena final!

Isso talvez explique porque para completar o elenco central ele tenha chamado um segundo time fraco, como Jim Belushi (um coadjuvante fraco que não consegue fazer esquecer seu irmão John Belushi que morreu de overdose), o cantor Justin Timberlake que pode ser simpático, mas não consegue segurar o seu personagem, e a bonequinha Juno Temple. O resto do elenco é desconhecido e não deixa lembranças, inclusive um garoto ruivo que é incendiário! Outro personagem que fica desleixado no meio dos outros e com maior efeito! Aliás me incomodou o fato de que a ação se passa no começo dos anos 50 (quando está passando o faroeste Winchester 73) e pouco depois ele quer ver o musical Voando para o Rio que é de 1933! E jamais seria reprisado naquele lugar. Serve apenas de uma alegria para o povo brasileiro, onde a Kate elogia nosso povo e país, e fala em se mudar para aqui, porque tudo é melhor (obviamente foi gentileza de Woody ao escrever isso, é porque não sabe o que estamos passando!).

O título se refere a uma famosa roda gigante que tem perto de Manhattan, hoje muito decadente, mas que já foi o parque de diversões mais famoso da América. A roda serve de pano de fundo assim como um carrossel e alguns pedaços de praia (Timberlake faz um guarda costas que estuda literatura e teatro! Outra bobagem). Naturalmente o filme todo segue a moda do diretor, ou seja, é sincopado com canções que Woody aprecia e revive! Ou seja, qualquer um que tenha tido a infelicidade de ter assistido a série de TV que Allen escreveu (agora com 82 anos) dirigiu e estrelou também para a Amazon, Crisis in Six Scenes (se bem que ele avisou antes que não sabia escrever para uma série de TV) achará ainda assim que o resultado foi lamentável e horroroso. Esse sim foi seu ponto mais baixo. Meu amigo Silvio de Abreu me relembra um fato importante que havia escapado de mim. Diz ele com exatidão: “esqueci de comentar a fixação de Woody Allen com A Streetcar Named Desire, porque a cena final da Kate, meio enlouquecida e vestida de gala, é cópia da cena na qual Mitch vai procurar Blanche para acabar tudo com ela. Depois de ter copiado a peça inteira em Blue Jasmine, agora chupou a cena que não coube no outro filme!”.

De qualquer forma, ainda não é o fim. Woody está concluindo outro filme, que parece terá melhor resultado: “A Rainy Day in New York” (18) com Jude Law, Elle Fanning, a revelação do ano/Timothée Chalamet, Rebecca Hall, Selena Gomez, Liev Schreiber, Cherry Jones, Diego Luna. Seria uma comédia romântica passada em Nova York onde chove muito! E assim ele completará uma carreira de 50 filmes, praticamente um por ano!!!