Cr�tica sobre o filme "Em Busca de Fellini":

Rubens Ewald Filho
Em Busca de Fellini Por Rubens Ewald Filho
| Data: 05/12/2017

Há pouco mais de um ano, quase dois, uma amiga estava decorando um restaurante aqui em São Paulo onde a motivação seria a obra de Fellini. Como eu tinha alguns posters de filmes do genial diretor italiano, tive prazer em lhe dispor esses cartazes. Foi quando veio visitar uma repórter de um grande jornal de São Paulo, que olhou os posters, o nome Fellini e comentou: “Ah, quer disse então que todo o restaurante será decorado com temas felinos, de gatos!”. Ela teve o cuidado de lhe explicar quem era Federico e sua importante na história do cinema.

Foi desde então que eu pedir qualquer ilusão a respeito da cultura e interesse atual de qualquer artista que tenha mais de cinco, tá bom, dez anos de carreira. Alguns resistentes como eu ainda mantém a admiração pelo genial diretor (e um belo exemplo disso foi o filme americano, Sob o Sol da Toscana, 03, com Diane Lane, dirigido por uma mulher desconhecida Audrey Wells, mas que conseguiu recriar o tom da Itália, do interior da Toscana, homenageando não apenas Fellini mas o grande diretor, Mario Monicelli, que pouco depois se suicidou).

Fellini foi muito cultuado recentemente inclusive pelo amigo Ettore Scola, por sinal em sua última aparição com Que Estranho Chamar-se Federico! (13). E outros existem, mas nenhum tão tolinho, tão incompetente e por vezes ridículo e mal informado como esta fitinha sobre uma garota tímida do Ohio Lucy (Ksenia) que aos 20 anos, continua ligada na mãe (Bello) e tem admiração pelo diretor. Mas tem a chance de fazer uma viagem à Itália, onde ilogicamente descobre o amor. É tão visível que o autor do filme é incompetente e ignorante que chama a viagem de bizarra e diversas vezes brinca fazendo piadinhas sobre seu estilo de cinema ou narrativa. Só merecia uma vaia (ao menos se deu ao trabalho de conseguir uma pontinha para uma verdadeira estrela de Fellini, uma das poucas vivas, que é a alemã Barbara Bouchet, ainda conservada por plásticas e que faz uma aparição como hostess enquanto havia sido a dançarina de Charity Meu Amor, de Fosse, 68, claro que inspirado em Fellini!).

Mas fica por aí o uso de imagens rápidas de filmes, de lugares turísticos da Europa, é tudo muito vago e soa muito falso com pseudo-substitutos (Nancy Cartwright como Cosima, passagem muda de Mariano Aprea como Fellini, Bruno Zanin que esteve em Amarcord. Todos puros figurantes sem a menor importância). Aliás, posso entender a boa intenção do diretor assim como sua incompetência em transcrever a obra de um artista com sua modesta capacidade. Para quem venera Fellini, o filme é uma patética ofensa.