Crítica sobre o filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos":

Rubens Ewald Filho
Dona Flor e Seus Dois Maridos Por Rubens Ewald Filho
| Data: 21/11/2017

Não é fácil o desafio de se refazer (dito Remake) o filme brasileiro de maior sucesso e mais querido do cinema nacional em todos os tempos. Saudado e consagrado no mundo todo, incluindo Europa e Estados Unidos, transformou em estrela Sonia Braga (depois confirmada com O Beijo da Mulher Aranha) e irritou muito José Wilker (que não suportava mais ser chamado de Vadinho na rua, na Argentina, no Brasil, em toda parte, segundo ele mesmo prejudicando a sua carreira internacional. Era seu “alter ego” e na verdade, desculpe Zé, um de seus grandes momentos de ator). Sem omitir também a trilha musical de Chico Buarque, a luta contra a censura, a direção muito competente do jovem diretor Bruno Barreto e a garra do Família Barreto em tornar tudo aquilo realidade. E claro a sensualidade, num momento onde o mundo todo estava disposto a consumir a nudez e o sexo, que certamente se tornou um ponto de venda até hoje para o turismo no Brasil. Pois nem a censura da ditadura conseguiu estragar o filme, tenho para mim que até eles tinham certo orgulho dos acertos do projeto. 

Dona Flor, o original, mereceu todo esse sucesso? Não tenho dúvidas que sim. E me pergunto por que insistir em refazer o que não precisava ser feito? Foi o mais próximo que o Brasil pode chegar a ter um clássico popular de nosso cinema! Cada vez que nesta “refilmagem” vem a Maria Bethânia (salve rainha!) interpretando mais uma vez a mesma canção, acho que num total de cinco, a mesma música de fundo, dá vontade de ter um ataque de pânico. Isso não se faz, moço que dirigiu o filme. Assim como cabe ao diretor controlar o elenco e não deixá-los exagerar na pior caricatura (até a querida Nivea Maria é forçada a fazer isso, e não é à toa que sumiram com ela de cena!). Os planos são mal enquadrados (vibrei quando conseguiram, já perto do final, um enquadramento finalmente fechado no rosto lindo de Juliana, sem precisar tirar a roupa da moça). Ah, falando de Juliana, é o maior acerto e a escolha lógica para substituir Sonia. Esplendidamente bela, naturalmente nua, ela é certamente a mais bela morena do cinema e televisão brasileiro no momento. E faz tudo direitinho, sem nunca deixar a chanchada baiana vir atormentá-la.

Dado ao fato de que a história é por demais conhecida, é realmente uma infelicidade ter que rever praticamente tudo pior do que o original. Não acho o elenco central problemático, é verdade que gostava mais do Leandro Hassum menos magro e mais simpático. Menos rabugento. Mas é sempre classe A. E por acaso nunca cheguei a ver a montagem teatral de Dona Flor, que parece explicar melhor a nudez de Marcelo Faria que era uma das marcas do sucesso dessa montagem. Mas mesmo sem a nudez intermitente Marcelo se sairia bem conseguindo conservar sua juventude e a feliz semelhança com o pai dele (o eterno Reginaldo Faria).

Não é preciso fazer sinopse. Mas fora essas figuras ilustres (a repetição de receitas baianas também era desculpável) a carga da lembrança lendária de um dos poucos filmes brasileiros inesquecíveis é um peso demais que nem os autores e nem o público consegue carregar. Entendam, quando Hollywood deixa de refazer E O vento Levou, A Noviça Rebelde, 2001, uma Odisséia no Espaço, E.T., O Poderoso Chefão, Casablanca, Quanto Mais Quente Melhor etc. é que eles sabem o que estão fazendo. Não há jeito de vencer. Remake é sempre pior.