Não há a menor dúvida de que a grande e mais versátil atriz da atual geração é a vencedora de dois Oscars e 4 indicações, a australiana Cate Blanchett (que por sinal também está em cartaz esta semana em outro personagem suntuoso, Hela, em Thor Raganarok). Mas este filme é um caso especial, endereçado apenas a quem é fã da moça, indispensável para atores, escritores e diretores em particular de teatro e cinema, para se poder admirar com mais cuidado o show da estrela (há figurantes, mas não passam de menos que coadjuvantes). O diretor Rosefeldt é um alemão, 1965, de Munique, que basicamente utilizas instalações opulentas de vídeos, em canais múltiplos, que passam de documentário a teatro narrativo com imagens opulentas. Ou seja, não é um diretor tanto de cinema, mas principalmente um artista de museus e apresentações em museus. O filme e Cate estariam ilustrando o que seria (feito em 12 dias) a exploração do mistério do visível. Em que ela interpreta 13 altamente diferentes personagens, cada um deles apresentando um manifesto! Literalmente. Mas cabe a eles superar o que poderia ser um clichê político em um espetáculo brilhante e emocionante. Também original e difícil de classificar. Embora os manifestos passem do muito político ou religioso para o outros até bem humorados (há uma citação de Oscar Wilde, que afirma, o homem é menos si próprio, quando usa uma máscara e assim lhe contara a verdade). Para no agradecimento final dizer “a todos aqueles maravilhosos autores desses manifestos que nos explodem a nossa mente”. Como já disseram antes outros críticos, todo o filme é uma celebração de ideias e conceitos de nossa cultura, só que reinventados.
Os Manifestos começam com aquele famoso de Karl Marx e Engels, o Manifesto Comunista anunciado em megafone por Cate como uma mulher suja e sem lar no teto de uma casa abandonada. Muitos dos manifestos porém foram escritos por artistas famosos como o Surrealista de Andre Breton, o mantra I Am for an Art, do escultor Claes Oldenburg, As regras douradas de Fazer Cinema, do diretor Jim Jarmusch, ou a Declaração de Minnesota, do alemão Werner Herzog (o assim chamado Cinema Verdade não tem verdade alguma. Apresenta apenas uma verdade superficial) e o famoso Dogma 95, liderado pelo diretor dinamarquês Lars Von Trier e Thomas Vinterberg.
Nem tudo é tão literal, as vezes o que discursam não se importam com a arte. Cada manifesto é feito por uma pessoa num lugar diferente. E com Cate fazendo diferentes caracterizações. No Dogma, coloca crianças repetindo suas palavras. Noutro lugar ela vira uma coreografa russa vestida como Norma Desmond, gritando com sua troupe de dança. Noutro momento faz uma apresentadora de telejornal questionando outra jornalista (também Cate). Ela ainda se torna uma dona de casa que leva a familiar para rezar, uma cientista do futuro, a organizadora de uma festa chique, cada uma com uma voz, aparência e tipo diferente.
É tão forte a presença da intérprete que pode ser mesmo que surjam os que se virem contra ela, acusando-a de exagerada. O curioso é justamente isso, o camaleão (coisa muita rara dentre as estrelas de Hollywood que em geral representam apenas variantes de si mesmas). Sem dúvida, um incrível desafio à arte de representar.