Estreando meio às pressas (no mesmo ano em que Cruise teve a decepção com a Múmia e com um mal explicado acidente de avião durante estas filmagens), o maior interesse deste filme ao menos para nós brasileiros não é tanto fazer comparações, ou seja, outro filme sobre Pablo Escobar, que francamente passa por overdose (também com continuação na Netflix). Já sabemos o suficiente sobre o personagem, francamente. O que realmente me interessou foi descobrir (porque a nossa imprensa não lhe deu bola) que o diretor de fotografia é o César Charlone, uruguaio de nascimento e com longa presença no Brasil (tenho a honra de ter sido seu professor no começo de carreira de nos dois!) e teve brilhante parceria com Fernando Meirelles, sendo indicado ao Oscar por Cidade de Deus, depois vindo O Jardineiro Fiel, e Ensaio sobre a Cegueira. Também tem sido diretor de longas e documentários. Não poderia haver alguém mais indicado que ele para recriar a época em que se passa a história real, polemica e curiosa, sobre a famosa história dos contras e falta de sanidade do presidente Ronald Reagan. Um fato não muito lembrado no Brasil, mas que será uma lição de política e vida importante para a gente.
A fotografia como já disse é um retrato dos tempos e estilo de direção que corria naquela época complicada, onde ainda havia restos de Vietnã, americanos prisioneiros por árabes, a famosa campanha da primeira dama contra a droga, dizendo que simplesmente “Basta Dizer Não” (ela e o marido, que já sofria de Alzenheimer aparecem em cenas de telejornal). Quem não viu os fatos revividos com bastante cuidado. O filme foi dirigido por Doug Liman, que virou amigão de Cruise depois do inesperado sucesso de No Limite do Amanhã, 14 e do próximo Luna Park (parece que o ator está machucado!). Enfim, o diretor tem certa habilidade, mas eu lamento que não tenha optado logo por ter feito uma comédia, já que tudo que ele relata apesar de ser verdade, tem jeito de farsa, de pura loucura, que até a gente custa a acreditar no que se passa. Por mais que vivamos na terra de Macunaíma, o medo de delirar com os fatos tornou o filme mais travado como se a denúncia de uma coisa tão antiga não merecesse o riso e a vergonha!
Talvez por causa disso que o filme optou por um elenco quase todo desconhecido, alguns bons, outros latinos meio perdidos, todos envolvidos na farsa. Mas sem dúvida, é uma história igual ou pior do que as brasileiras que a gente está observando hoje em dia com estupor! Cruise tenta usar sua energia menos sorridente, mas é apenas o fio condutor porque tudo parece cair do céu quando o modesto piloto que faz voos entre os EUA e a América Latina, acaba sendo o líder do transporte de drogas para o pais, aproveitando o delírio de Reagan e sua turma, que fez tudo errado sabe-se lá com que finalidade. O fato é que ele não tinha mais onde guardar dinheiro, numa situação que parecia absurda se não fosse real.
Enfim é uma espantosa aula de história, com humor mas sem a coragem de denunciar tudo como um disparate sem tamanho, e mesmo insinuando que coisas semelhantes iriam continuar sucedendo e que Trump não é um mero acidente, mas uma prosseguimento da loucura.