As pessoas devem ter memória curta. Os mesmos que há poucos anos atrás aplaudiram o lamentável filme sobre a vida de Lula, hoje se divertem demolindo esta curiosa e mal-sucedida tentativa de louvar um fato atual, que ao menos faz uma tentativa de apresentar fatos reais e assustadores, que na verdade deixam os espectadores e por extensão todos brasileiros chocados e espantados. É provável que na vida real os fatos da Lava a Jato poderiam resultar num filme empolgante e notável, se tivessem mais cuidados. Será que esse diretor pouco conhecido, Marcelo Antunez, tinha experiência suficiente para fazer o que não passa de uma dramaturgia muito frágil, mal desenvolvida? Será que os responsáveis já ouviram falar no diretor grego Costa-Gavras (1933-, ainda vivo) que em 1969, realizou o filme “Z” (Oscar de filme estrangeiro e montagem, Globo de Ouro, Prêmio do Júri e ator, Jean LouisTrintignant, Críticos de Nova York) que ficou anos proibido no Brasil, tanto que foi liberado antes na Grécia (ele denunciava justamente a ditadura militar naquele país) do que por aqui. Logo depois Costa-Gavras continuou a se dedicar a mesma temática sendo que em 1972, rodou Estado de Sitio, onde entre outras coisas denunciava os militares brasileiros que ajudaram a ensinar a violência e perseguição de esquerdistas. Enfim, dali em diante e até hoje, ele serviu de modelo para demonstrar os absurdos da política (e já em 1970, fez também A Confissão sempre com Yves Montand, onde denunciava o que antes era impossível: o Partido comunista!).
Relembro isso porque um Festival Gavras certamente teria melhorado a dramaturgia e narrativa de um filme que poderia ser mais forte, caso não se perdesse com um roteiro tão primário e um elenco tão frágil. Eu consegui achar exceção na postura digna de Antonio Calloni e defender Ary Fontoura que serve de alivio para apresentar um veterano corrupto (estudando um pouco mais saberiam que humor é fundamental em qualquer filme do gênero, até na tragédia). E lamentar o desperdício e total inexpressão de Marcelo Serrado e o excesso de caras e trejeitos dos que fazem os policiais.
Não sei se já era a hora de se fazer um filme com jeito de propaganda num momento em que a crise não foi solucionada e pela própria narrativa tudo é simplificado. Realmente valeria mais se fazer um documentário a sério, mas a televisão parece ter medo de aprofundar o assunto e a única tentativa de critica de humor que eu assisti na teve é o show ainda pouco conhecido da HBO estrelado por Gregório Duvivier, que começou tímido em maio e hoje é impagável sátira não apenas a Lava-Jato mas a todas as loucuras e delírios que a cercam. Chama-se Greg News e está também no You Tube. Demonstra-se assim que o humor pode ser a melhor arma.
Não há humor no filme da Lava a Jato (a não ser a curta aparição de Ary que tantos criticaram). Quando se espera o final da projeção descobrimos através de uma cena curta que há outro filme sobre o assunto feito pelos mesmos envolvidos vem logo por aí, a sensação que tive foi de oportunidade perdida. O espectador ainda esta ansioso para entender os detalhes e meandros dos altos e baixos dos envolvidos, o dinheiro roubado não é deles, mas de todos nós, que fomos e continuamos a ser maltratados e repelidos. E mal informados. Também assustados e perdidos. Não foi o filme que nos assustou e decepcionou. Mas tudo o que ele ainda deixou de mostrar.