Depois de ter feito uma boa carreira em festivais europeus, chega ao Brasil este filme que foi consagrado no Festival de Gramado com alguns dos prêmios mais importantes: melhor filme, melhor roteiro (Laís e o então marido Bolognesi), direção (Laís lógico), atriz Maria Ribeiro, ator (o santista Paulo Vilhena em seu primeiro reconhecimento profissional), Clarisse Abujamra (como coadjuvante) e montagem.
A diretora Laís é filha do famoso realizador e fotografo Jorge Bodansky (famoso principalmente por semi-documentários como Iracema, uma Transa Amazônica, 75, também com Orlando Senna e outros. Muito cedo fez sucesso em filmes como Bicho de Sete Cabeças, Chega de Saudade, As Melhores coisas do Mundo e agora este, seu melhor filme. Desde a escolha do título que recorda Elis Regina/Belchior, a exemplar fotografia e uma história que vai atingir um público em particular feminino, que vai se identificar com as situações, tão nossas, tão reais. É a história de uma certa Rosa (Maria, no papel de sua vida), que vive casada e feliz com as crianças, menos com sua própria mãe, uma mulher dura e infeliz. Que finalmente lhe conta que mentiu, que seu pai verdadeiro é um político, ainda hoje envolvido no governo com quem teve um romance no exterior. Não chega a ser melodrama, apesar da força da interpretação (ocasionalmente interrompida por um divertido Jorge Mautner, liberal e perfeito, como o pai da heroína de 38 anos, que finalmente entra em crise).
É difícil não se deixar envolver pela história muito bem conduzida e interpretada. Pela simplicidade da direção, que evita a câmera na mão, mas tem total controle em cima daquilo que na verdade é uma história humana e convincente com notáveis interpretações, fazendo despontar Paulo Vilhena para o primeiro time de atores (depois de uma carreira como jovem surfista em novelas ele foi evoluindo para o grande profissional que se tornou), cortou os possíveis excessos de Maria e deu um personagem extraordinário para a sempre excelente Clarisse Abujamra (lhe deviam um prêmio desde os tempos de Reinchenbach e Anjos do Arrabalde).
Muito provavelmente é o melhor filme brasileiro do ano e possível indicado ao Oscar de produção estrangeira.