Pela primeira vez na História do cinema nacional, desde sempre, se conseguiu reunir uma lista de mais de meia dúzia de atores galãs brasileiros, jovens de talento e qualidade, mesmo com estilos diferentes, passando dos que já emigraram para Hollywood (Rodrigo Santoro), chegaram ao Globo de Ouro (Wagner Moura) e os que conquistaram a simpatia e coração das plateias como é o caso Selton Mello, tanto como ator como diretor do bem sucedido e premiado O Palhaço. Uma pena, porém, que seu novo filme não tenha o nível semelhante, resultado da adaptação de um livro mal resolvido, de autor chileno chamado Antonio Skarmeta, o que teve sucesso com o Carteiro e o Poeta (Il Postino), filme de 94, com Massimo Troisi que foi adaptado para o cinema e indicado para 5 Oscars, ganhando o de trilha musical para Bacalov, mas o autor não constava dos créditos (ele teria feito também o político “No”).
Enfim Skarmeta que foi Embaixador do Chile na Alemanha largou a carreira para se tornar apenas escritor e gostando do trabalho do Selton lhe enviou justamente o livro chamado de “Um Pai de Cinema”, que Inspirou este livro, dando anuência a este de tomar liberdade de várias formas. Começando por Selton assumindo um personagem secundário, que tenta ser cafajeste, mas se diverte fazendo piadinhas. O fato é que acaba se tratando de uma história muito mal contada, irregular, que não se sabe bem que época se passa, tropeçando na Geografia, nas canções irregulares, nas citações. O livro dá mais destaque a sala de cinema e menciona filmes do final anos 50 como A Fúria da Carne (Wild is the Wind, 57, com Anna Magnani), a John Wayne e Angie Dickinson e as bebedeiras de Dean Martin em Onde Começa o Inferno (56) e outro mais recente francês que é nunca mostrado comercialmente aqui Zazie dans Le Metro (de Louis Malle, 60). Talvez por isso eliminados do único que é mostrado que vem a ser Rio Vermelho, com Wayne e Monty Clift, 48 (conflito entre velho cowboy e o filho adotivo). Que é mostrado sem legendas e que pouco tem a ver com esta trama do filme.
Na verdade, quase toda a adaptação é infeliz. Seria a história de um francês que vem para o interior do Brasil que tem uma bela mulher (a bela e sensível Ondina que parece saída de um filme de Ingmar Bergman) e um filho em que nada se parece com o personagem quando fica mais velho e adquire um nariz aquilino (Johnny Massaro), nada contra o ator que muda completamente e fala um francês adequado. O problema é que a história/trama é mal desenvolvida, de tal maneira que o que seria protagonista, o grande ator Francês Vincent Cassel (fui grande admirador do pai dele, Jean Pierre Cassel, já falecido) que tem uma presença ingrata, mal se vê seu rosto, ou se entende o que pretende, inventando frases jogadas ao léu. Piora quando ele some, não se entende bem para onde e quando há uma reviravolta na história, tudo ainda fica mais inverossímil. Mal se consegue se entender a geografia da cidade gaúcha e da presença da sala de cinema e menos ainda de uma criança, depois um sofisticado bordel de belas jovens. Acho que o próprio livro não ajuda e o filme não consegue chegar a ser o projeto que pretendia.