Crítica sobre o filme "Corra!":

Rubens Ewald Filho
Corra! Por Rubens Ewald Filho
| Data: 17/05/2017

Já sabemos que o brasileiro insiste no preconceito de não ir assistir filmes alguns tipos se filme mesmo quando eles foram um sucesso nos EUA , como é o caso desta inesperada e irônica comédia/dramática que se transforma em puro terror que foi criada por um comediante de sucesso lá fora, Jordan Peele (negro de mãe branca), que foi premiado com Emmy pela comedia “Key e Peele” (o parceiro é Keegan Michael Kegan, com quem fez a série de sketchs chamada Key and Peele e também o divertido “Keanu Cadê o meu Gato”? (16). Ou seja, já são veteranos desde 2006, em particular na série “Mad Tv”.

Mais do que os premiados ou indicados ao Oscar da mesma temática negra, foi este filme que teve melhor bilheteria (custou apenas 5 milhões, foi rodado no Alabama e rendeu 173 milhões!). Afirmam ter se inspirado inicialmente numa piada de Eddie Murphy mas o fato é que vem arrasando de tudo que é jeito (em diferentes sentidos)! Um pouco porque é muito satírico, mas basicamente porque tem muitas piadas/sacadas e não esquece de expressar seu amor pelo ex- presidente Obama. Neste seu primeiro filme como realizador, o protagonista é Chris, o ator britânico e negro Daniel Kaluuya (Sicário, Kick Ass 2, O Retorno de Johnny English) um fotógrafo que mora num bom apartamento com um cachorro e a adorável namorada Rose (Allison, da série Girls e também do musical Peter Pan da TV). A história começa quando eles vão passar um fim de semana na casa dos pais dele e vem a pergunta, eles sabem que eu sou negro? Assim prosseguem os conflitos, os momentos de desconfortos e sátira, muito mais do que uma versão mais corajosa de Adivinhe Quem Vem para Jantar!

Ainda assim é sempre um problema criar uma expectativa, estava certo que o filme seria uma grande comédia, com humor descarado e piadas muito criticas e divertidas. Mas não foi o que aconteceu. A visita a casa dos pais da namorada é marcado por gente pedante, empregados negros esquisitos e a mãe é dada a experiências mirabolantes (como entrar na cabeça do herói). Ou seja, tudo é intelectualizado e difícil de identificar para o espectador brasileiro, que é afinal descendente apenas da velha e óbvia chanchada. Não é como aqui que (é verdade que preveni de certa forma) o espectador já abrindo com ele sendo atacado gratuitamente num rua escura, deserta mas não de pobres!

Tive assim um choque de decepção, tentei mas não consegui embarcar nos conflitos familiares ou raciais, embora estivesse pronto para apoiar o herói em meio a gente tão esquisita. E surpreso também pelo êxito de uma história tão sofisticada, mas fugindo de nossa identificação. Ainda mais quando aparece um irmão com jeito de psicopata. E o filme vai crescendo nesse tom de terror, com brancos sofisticados cada vez mais brutais. Quem sabe foi apenas minha reação. Ou o estilo de direção, sempre um pouco distante, crítico. Ainda mais quando na parte final acaba virando um pesadelo certamente alegórico e mesmo assustador. Se transforma num confuso mas detonador filme de terror! Seria uma denúncia, um alerta, provavelmente... Mas não é bem o tipo de filme que o público brasileiro costuma embarcar.