Crítica sobre o filme "Armas na Mesa":

Rubens Ewald Filho
Armas na Mesa Por Rubens Ewald Filho
| Data: 08/02/2017

Um modesto orçamento de 13 milhões não foi suficiente para promover Jessica Chastain que os produtores achavam que com este filme teria alguma indicação ao Oscar e a devida repercussão (foi apenas indicada para Globo de Ouro). Mas a verdade é que ouvir falar e acompanhar o trabalho ingrato de uma lobista trabalhando em DC (ou seja, no coração do governo americano) não parece o sonho atual de nos que já temos que lidar com as loucuras do próprio presidente Trump. Não é um filme fácil de compreender, endereçado particularmente aos poucos que trabalham com o governo americano e seu sistema de se criar e modificar a lei. Francamente é um esforço de interpretação de Jessica, que só ao poucos vai crescendo de forma que até eu admiti que a moça merecia uma indicação (e que outras menos preparadas tiveram mais elogios e badalação. A moça tem alguns momentos memoráveis). Mas não sei se posso dizer o mesmo do personagem/ protagonista e de todo o complicado “game”. Já que no Brasil, o jogo (no fundo uma corrupção) é muito mais claro, aberto e descarado. Nada a ver com o jogo elaborado e intelectualizado mostrado no filme, aliás essa é justamente a razão mais importante para ver um filme como este, que no fundo é bem moralista e revelador. Tomara que haja alguém interessado no tema, já que o filme já fracassou e terá vida breve em qualquer outra mídia. Inclusive televisão.

Sem dúvida o personagem é muito interessante porque é uma solitária poderosa, brilhante, sem amigos, sem amores (ela mantém amantes, melhor dizendo transas com rapazes fortes e bem pagos). Não aparece alguém da família, porque já se sabe que para chegar tão longe, subir tanto não da para ter famílias. Jogar é o game da vida dela. E é ao mesmo tempo fascinante e assustador. Estava esquecendo dizer que a maior parte do filme é sobre o “gun control”, a venda, comércio e liberdade de uso de armas nos Estados Unidos, que é um problema que aparenta ser insolúvel (e novamente não dá para fazer paralelo com nossa situação). O filme joga com todos esses elementos e ainda se da ao luxo de ter um final inesperado e eficiente (ainda que diluído por outro final mais modesto).

Sem querer estender mais, este nada comercial filme interessa advogados e políticos, aqueles que não querem uma diversão ligeira e passageira.