Fui grande admirador do filme de estreia do figurinista Tom Ford como realizador, um trabalho delicado, sensível, com belas imagens e uma história tocante que dele administrou com habilidade. Quem não assistiu Direito de Amar (A Single Man, 09), sobre um professor que um ano depois da morte acidental de seu companheiro ainda não consegue entender ou dar sentido a sua vida. O ótimo elenco trazia Colin Firth (que foi indicado ao Oscar), Julianne Moore e revelava a ator teen Nicholas Hoult (que faria Mad Max Estrada da Fúria) no que era basicamente uma história de amor perdido e uma vida esfacelada.
Por isso se esperava mais deste seu retorno, que está sendo esquecido pelas premiações (embora tenha sido classificado para 3 Globos de Ouro, diretor, roteiro e coadjuvante Aaron Taylor, e o Grande Prêmio do Júri em Veneza). Apresentado na Mostra de São Paulo dividiu o público que continuou a admirar suas qualidades de fotografia e direção de arte, e principalmente de elenco. Mas todos tiveram dificuldade de digerir uma história pesada, trágica, que talvez incomoda. De um orçamento modesto de 33 milhões, não foi muito acima dos 8 milhões de renda. Numa palavra, não pegou, não agradou o público.
A história é complexa, como anda atualmente em moda, principalmente em séries de TV (de “time line”, linhas do tempo diferentes que se cruzam). Definido aqui como “uma story” dentro de outra história. a primeira parte acompanha uma mulher chamada Susan (a sempre encantadora Amy Adams, de A Chegada, que é dona de uma galeria de arte, o que explicaria porque o filme é tão chique nesse aspecto). Ela recebe o manuscrito de um livro que foi escrito por seu ex-marido, um homem que deixou ha 20 anos atrás e que agora pede sua opinião. Leva o nome justamente do filme, e gira em torno de um homem cuja família em férias se torna violenta e mortal. E que continua a seguir a história de Susan, que relembra seu primeiro casamento e confrontando algumas tristes verdades sobre si própria. E o próprio livro ela interpreta como sendo uma ameaça disfarçada e alguma forma de vingança. Em tudo isso, começa a perder importância o jovem que se aproxima dela Jake e vai ficando mais forte a figura de Bobby Andes ainda mais porque esse policial desenfreado vivido pelo vilão favorito do cinema americano que vem a ser o Michael Shannon (que realmente tem uma aparência temerária).
Dizem que Tom Ford recusou por no filme qualquer produto de sua fabricação (o que me parece uma bobagem), e originalmente pensou em fazer dois filmes diferentes, um em cima do livro original, outro mais livre. O fato porém é que não se vê no resto do filme uma sequência tão forte e marcante quanto a inicial, onde aparecem várias mulheres obesas cantando e dançando uma critica a sociedade americana.
ATENÇÃO, SPOILER: Também não aprecio a conclusão do filme que o próprio diretor considera aberto, o espectador deverá escolher entre varias soluções: Edward não aparece ou porque ainda a ama, ou porque é muito doloroso vê-la de novo. Ou porque ela lhe deu a inspiração e força que ele necessitava para escrever sua obra-prima então ele pode ir adiante. O público é que deve decidir. Particularmente não aprecio em nada esses truques.