Fui amigo de Elis Regina, cuja lembrança guardo com muito carinho, com a certeza de nunca ter visto alguém tão excepcional cantando num palco. Era daquelas grandes interpretes do estofo de Judy Garland ou Edith Piaf (e as gravações apesar de brilhantes nunca chegavam aos pés do que era sua presença em cena). Então para mim, mesmo depois de tanto tempo, ainda é difícil encarar este seu primeiro filme biográfico onde a escolha/aparência do elenco de apoio é apenas vagamente semelhante aos participantes. Há também ausências curiosas como a do irmão de Elis, uma figura indispensável em toda sua vida e que morreu em acidente de carro, toda seu começo de carreira em Porto Alegre, em programas de rádio e com problemas nos olhos (era vesga), o fracasso dos primeiros discos. Ou seja, a verdadeira Elis era muito mais do que o filme mostra. Mas também não esconde características difíceis e o triste final. Não endeusa, nem mistifica, mas não se surpreenda como aconteceu no Festival de se ver chorando ao tomar vida na tela um comovente retrato de nossa maior cantora.
Ainda assim, mesmo sofrendo complicadas sessões de remontagem, é notável como o filme consegue superar os problemas. Isso ficou claro no Festival de Gramado onde foi ovacionado e levou os prêmios de público e atriz. E aí esta o milagroso acerto, vendo em outros trabalhos (revelada pela serie de teve da HBO, Alice, 08, foi vista na série da Globo Liberdade, Liberdade) não chega nem a lembrar Elis. Eis que acontece o milagre e principalmente da metade para o fim é Elis que tomou seu corpo e seu lugar. Sem nunca cair em caricatura ou exatamente imitação, Andréa dá um show que a transforma imediatamente em Estrela.