Crítica sobre o filme "Sob Pressão":

Rubens Ewald Filho
Sob Pressão Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/11/2016

O público do cinema brasileiro anda mal acostumado, se interessando apenas em assistir comédias e rejeitando outros gêneros, ainda mesmo quando são da Globo Filmes. Peço atenção e exceção para este surpreendente e notável trabalho de Andrucha que retoma seu lugar de grande diretor brasileiro: ele fez o excelente Eu, Tu, Eles, o polêmico Casa de Areia, um drama histórico na Espanha Lope, a boa comédia Os Penetras - que por sinal tem continuação estourando por ai! Sem esquecer vários documentários musicais e co-autoria na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio.

Este seu novo trabalho é uma experiência, pode-se dizer isso, já que se passa inteiramente num hospital decadente carioca durante apenas um dia. Tem um certo jeito de série de TV americana de hospital, o que não é crítica, mas elogio. Ao contrário, devia urgente virar uma série com o mesmo excelente elenco e equipe. Que não faria feio. Todo rodado em câmera na mão, com planos fechados, inquietos, é curto e direto. Não exagera, não procura chocar. A história já se encarrega de fazer isso. Há a disputa entre os médicos parceiros, a chegada de uma nova médica (e um trabalho muito eficiente de Marjorie Estiano), a tentativa de apaziguar pela administradora (Andrea), a carioquice do diretor geral (Stepan, voltando a ter outro desempenho notável) e naturalmente o eventual interferência dos bandidos do crime. 

Novamente grande parte do mérito se deve ao ator brasileiro mais premiado e elogiado dos últimos anos e que ironicamente pouca gente conhece pelo nome. O gaúcho Júlio Andrade tem outro grande momento, sem cair em exageros que o personagem podia lhe abrir. Não foi à toa premiado como melhor ator no Festival do Rio. Ele é um médico chefe de uma ala chamada vermelha de um decadente hospital desgastado pelo excesso de trabalho e o uso frequente de drogas que o mantém em pé. A situação se complica ainda mais porque há um conflito de guerra de rua entre policiais e traficantes e chega ao local, justamente um policial e um traficante e o amigo policial quer que ele seja atendido em primeiro lugar. O que seria mais fácil se o hospital não tivesse problemas com falta de luz, equipamento velho, falta de pessoal e o desgaste físico dos funcionários.

Sem dúvida um filme tenso, muito brasileiro, muito bem realizado que eu torço para que encontre seu público, seja nas salas seja futuramente como série de TV.