Havia uma expectativa muito grande por este drama histórico de um fato real acontecido nos EUA e até hoje pouco relembrado. Todos acharam que foi um erro lançar este drama pesado e amargo para ser lançado em plena temporada de verão (o que provocou uma bilheteria de apenas 20 milhões para um orçamento de 50). Parece até sabotagem semelhante com o que aconteceu com outro filme do mesmo gênero, atualmente também em cartaz em nossos cinemas, que é o caso ainda mais patético e infeliz de O Nascimento de uma Nação, versão de Nat Parker.
É uma pena também que o diretor do filme e também roteirista que não acertou em cheio mesmo tendo uma carreira muito boa como escritor (fez filmes como Quero ser Grande, Dave Presidente por um Dia) para depois também dirigir outros filmes de qualidade como o até hoje cult, A Vida em Preto e Branco, Seabiscuit a Vida de um Herói, o primeiro Jogos Vorazes, e filma agora uma versão feminina de Onze Homens e um Segredo (que não parece também uma grande ideia). Até o próprio vencedor do Oscar Matthew parece um pouco desligado, não exatamente envolvido nas circunstancias, talvez por que discuta e lute muito, mas raramente é bem-sucedido. Pior que isso é que o filme tem a intenção de denunciar o racismo do povo norte-americano, em particular o sulista (do Mississipi) que impedia casamento entre raças (e logo ele tem um romance com uma negra), mas nem isso é desenvolvido. Preferiram enxertar uma história confusa sobre um descendente atual que por ser descendente de negros não pode ter certos direitos! Na verdade, na semana em que o novo presidente Trump é eleito por esse mesmo tipo de gente que tem esse mesmo tipo de ideia, o filme fica ainda mais devendo. Vira apenas um teaser de terror!
A história também acaba sendo um pouco complexa demais, talvez por problema de roteiro e por não ser muito divulgada até agora. Matthew faz personagem real chamado Newton Knight, que faz um desiludido soldado desertor confederado que retorna para o Mississipi e a enfrentar com armas e liderar uma milícia de outros colegas desertores, escravos fugitivos e também mulheres, levantando-se contra o corrupto governo local Confederado. Mas falta alguma coisa de mais épico - embora no começo tenha momentos violentos - melhor desenvolvido na trama e situação (inclusive no romance do herói com a negra, até quando tem um letreiro dizendo que foi um caso raríssimo de ter casamento mestiço que sobreviveu).
Naturalmente a existência deste filme e alguns outros como também o bonito e positivo da Disney, Rainha de Katwe, com Lupita N ýoungo, foram provocados por causa da rebelião no Oscar do ano passado, quando não foi indicado nenhum ator negro (pelo segundo ano consecutivo). Isso fez com que a Academia abrisse as portas para convidar a chamada diversidade, mais gente dentre os blacks, latinos, europeus. Ou seja, mais jovens e com a cabeça mais aberta.
Embora a ideia seja interessante é mais complicada também porque a indústria do cinema e TV lida com muito dinheiro e isso é o que vale. Eles farão mais filmes com assuntos e temas negros desde que estes tenham boa bilheteria e renda. E infelizmente não viajam bem, não rendem bilheteria nem na Europa nem no Brasil! Os prováveis finalistas deste ano, vejam que irônico, seriam a inclusão de dois veteranos, super talentosos mas não inovadores, que estão no filme dramático Fences (Cercas) com Denzel Washington e Viola Davis, o mesmo casal estrelou na Broadway e que agora também Denzel dirigiu. Cheguei a assistir à peça e ambos estão soberbos! Seria o terceiro Oscar para ele e o primeiro para ela.