É um velho clichê na História do cinema que já sucedeu inúmeras vezes com cineastas ambiciosos que depois de um ou dois sucessos começaram a se considerar gênios e todos poderosos, acima do bem e do mal. Foi o caso de Nicolas Winding Refn, que se tornou Cult com o muito interessante dinamarquês que impressionou todo mundo com seu Drive (11) que foi indicado ao Oscar de som, Globo de Ouro de coadjuvante (Albert Brooks), 4 Baftas e, mais importante, o prêmio em Cannes de melhor diretor. Também serviu para elevar a categoria de astro ao Ryan Gosling! Ele e o diretor viraram cults instantaneamente, mas achando-se insuperáveis fizeram juntos Só Deus Perdoa (13), que era bizarro e desagradável. Antes disso é bom lembrar que Refn estreou com uma trilogia de muita ação (Pusher, 96, 04, 05), o violento Bronson (08) e o misterioso O Guerreiro Silencioso (08).
Agora chega aos nossos cinemas o mais recente trabalho que conseguiu ser vaiado em Cannes e péssimas criticas dos que antes o idolatravam. Mas antes de jogar pedras talvez seja importante dizer que o filme, que gira vagamente em torno do ambiente da moda e modelos, deve ser insuportável ao espectador casual, mas certamente vai interessar aos que trabalham no ramo da moda, passarelas, direção de arte, maquiagem e coisas que tais (para estes é obrigatório porque há uma intenção clara ressaltar a trajetória da muito jovem modelo, Ellen Fanning, ainda que nascida em 98 na Georgia, é bem mais bonita e talentosa do que sua irmã mais velha, Dakota. Ambas fizeram muitos papéis de criança em filmes de terror). Não se pode dizer que é uma interpretação por que passa o tempo todo com cara de que não entende o que esta acontecendo, para ir em busca de uma sangreira que mais parece filme de Vampiro ou Drácula. O papel foi escrito antes para Carey Mulligan (de Drive). Um detalhe curioso: um dos fortes do filme é seu colorido ênfase em cores. O estranho é que o diretor é daltônico e só consegue perceber contrastes.
Ela faz Jesse, uma órfã do interior que vem para Los Angeles e se refugia num motel antigo e pobre, enquanto consegue uma agente (pontinha da charmosa Christina Hendricks) que a encaminha para um fotógrafo neurótico e, possivelmente, ao sucesso. Ela conheceu antes porém um maquiadora lésbica (uma de minhas favoritas, Jena Malone), que a faz encontrar duas colegas no que irá cair numa espiral de sangue e violência estética. Há também uma aparição mal humorada de Keanu Reeves, com a mesma cara de 20 anos atrás, mas desperdiçando seu inegável carisma.
Ou seja, não é para ser analisado ou aprofundado, nem serve para dar uma espiada nesse mundo sedutor e mentiroso que é o da moda. Elle conta que o filme foi rodado em ordem cronológica e que a resolução final foi improvisada já no próprio set (contam que o diretor usava a palavra violência seguida de um palavrão forte, cada vez que era gritar “ação”). Já foi descrito também como uma mistura de O Vale das Bonecas com O Massacre da Serra Elétrica.
Talvez não seja o caso de vaiar como em Cannes, mas certamente é uma decepção para os fãs de Refn.