Uma pena que tenha conseguido assistir esta excelente comedia dramática italiana quando ela parece estar no fim de sua carreira nas salas. Gostaria que mais gente pudesse se divertir com o filme de um dos melhores diretores italianos do momento, Virzi (vários de seus filmes foram premiados em Cannes e o único que passou comercialmente aqui foi O Capital Humano, com a mesma atriz a ótima Valeria Bruno Tedeschi, que ainda é mais conhecida como a irmã da esposa do presidente francês e ocasional cantora Carla Bruni!).
Mas se não vi todos, dos que conheço esta é sua obra prima (premiado em Ischia e pelos jornalistas italianos, onde as duas atrizes empataram, melhor figurino, diretor, roteiro, trilha musical onde o tema principal é a bela canção Senza Fine conhecida de outros trabalhos). Virzi é ainda um neo-realista, falando de gente comum, do povo, de seus problemas, mas ao mesmo tempo em que narra histórias que poderiam ser muito trágicas não perdeu o senso de humor (há varias risadas durante o filme). Mas dentro do que o cinema italiano faz e sempre fez de melhor, rir da própria miséria, infelicidade, das complicações para ser feliz!
O filme é sobre duas mulheres que estão internadas num modesto sanatório do interior, cada uma delas com seu problema. A mais exuberante é Valeria (como Beatrice Morandini) que tem uma complicada história no passado (aos poucos iremos descobrindo que foi casada com um homem muito rico mas se apaixonou por um vigarista que a roubou e por quem ainda é apaixonada), mas tenta ajudar uma outra, Donattella (confesso que não conhecia bem a geralmente loira Micaela, que se transforma inteiramente para viver a trágica mulher que tentou se matar porque não suportava se separar do filho pequeno. Não por acaso Donatella está enfeada e é casada com o diretor com quem tem dois filhos! Mas faz um trabalho muito competente).
As duas amigas (o filme é basicamente sobre essa amizade muito forte de duas infelizes que perderam a noção da realidade, mas fazem qualquer coisa para serem felizes novamente) partem numa aventura, a princípio sem saber que rumo tomar (vão jantar, por exemplo, num lugar de luxo de onde tem que sair correndo, depois de uma discoteca em Viareggio). Mas sem duvida loucas de carteirinha, mas tão humanas, carentes e verdadeiras que é impossível não se envolver com elas. Foi essa humanidade unida as risadas (só italiano para conseguir provocar risos num filme tão sério) que me fez envolver e admirar este trabalho que recusa identificações. Procure assistir.