Com um orçamento de cerca de 100 milhões de dólares, esta é a refilmagem do clássico campeão de Oscars (vide artigo sobre ele) que sempre teve um teor religioso. Mas é bom avisar que foi produzido por atuais especialistas no assunto, no caso os mesmos liderados por Roma Downey, que tem produzido filmes para o crentes consumidores (como O Filho de Deus). E dirigido por um russo, emigrado para os EUA, que fez nos EUA O Procurado com Angelina Jolie, Guardiões da Noite, Abraham Lincoln Caçador de Vampiros. Sua especialidade é o uso dos efeitos digitais, de forma que a corrida das bigas (na verdade teria outro nome porque são quatro cavalos, não dois!) não é para valer, sem truques como no filme original, mas falseadas. Ou seja, não há comparação nas cenas da corrida (aliás ambas feitas no mesmo estúdio, o Cinecittá perto de Roma), a mais antiga é superior (também mais longa, com mais figurantes). Já outro ponto forte que seria o herói como escravo como remador num barco romano os efeitos já não perturbam tanto. Mas é ali que acontecia a diferença maior entre os dois filmes, já que no original, Ben Hur salva o graduado Romano, interpretado por Jack Hawkins, que por gratidão o leva para lá e lhe dá status. Aqui inventaram que os dois protagonistas o judeu Ben Hur e o romano Messala (seriam irmãos de adoção, já que a família de Ben criou Messala que mesmo assim cresce cheio de ódio e vingança). Por estranho que possa parecer tornando Ben também romano de adoção, o filme anterior ficava mais dramático assim como era melhor a conclusão original, onde Ben vai visitar o moribundo Messala todo machucado e este não apenas o renega como demonstra todo seu ódio. É ele quem denuncia o fato de que a mãe e irmã de Ben estariam com lepra!
No Ben-Hur de 1959 ainda era considerado ousado mostrar o rosto de Cristo então ele aparece sempre de costas, ou perfil, ou distante. Isso agora mudou e foi assim que o nosso Rodrigo Santoro conseguiu sua chance de fazer o personagem ainda que em três ou quatro cenas, incluindo a morte na Cruz. Mas não são momentos memoráveis nem especialmente bem feitos.
Na verdade, quem conhece bem o original não tem como esquecer Charlton Heston ou mesmo Stephen Boyd (como Messala) e outra sequência que foi cortada, a visita ao xeique no deserto, uma participação que rendeu ao britânico Hugh Griffith um Oscar de coadjuvante (era famoso também por mostrar um arroto, coisa inédita no cinema de então!). O papel de Grfiffith é de Ilderim e nesta versão há também uma figura parecida, ainda que vivida por um norte-americano negro, no caso o ator mais frequente de todos, que parece estar em tudo que é filme e ainda assim conseguindo se salvar, sem vergonha. É claro que se trata do Morgan Freeman, sempre com seu ar austero e digno de confiança.
A escolha do elenco aqui é periclitante já que nenhuma das mulheres (em geral israelenses) tem maior chance ou brilho. Não gosto especialmente do ator inglês Toby Kebbell como Messala (que fez Warcraft, O Príncipe da Pérsia, Planeta dos Macacos: o Confronto, Rock n´Rolla, que é uma versão piorada do brasileiro Milhem Cortaz). Assim como a trilha musical original é infinitamente superior a daqui.
Mas também o que se podia esperar? Não falo de uma versão em minissérie de 2003, simplesmente porque nunca tinha ouvido falar nela. Falta mencionar o protagonista que é britânico Jack Huston (que esteve em Boardwalk Empire e Eastwick,é bisneto do grande ator Walter Huston, neto do diretor lendário John Huston, sobrinho de Anjelica Huston e filho do ocasional diretor e roteirista Tony Huston e por parte de mãe é aristocrata descende de longa linha de nobres). Tem certo carisma, mas esta longe de convencer como atleta e tipo.