Crítica sobre o filme "Florence Quem é essa Mulher?":

Rubens Ewald Filho
Florence Quem é essa Mulher? Por Rubens Ewald Filho
| Data: 06/07/2016

É muito raro termos a oportunidade de podermos assistir dois filmes com a mesma história e tema, ambos em cartaz ao mesmo tempo. E o mais curioso: um é Francês/Belga (Marguerite), este outro é britânico e ambos são bons e de qualidade, trazendo interpretações notáveis de ambas atrizes, Meryl Streep (fazendo uma composição inesperada, mostrando rugas que nem sabíamos existir, usando roupas largas, porque a personagem era mais alta e gorda) e a francesa e menos conhecida aqui, mas que nem por isso é menos talentosa, Catherine Frot (que ganhou merecido César, também figurino, som e desenho de produção). Já comentamos o filme e ficamos sabendo que ele é uma adaptação livre transpondo toda a ação para a França, noutra época e menos realista. Também mencionamos a ótima versão teatral com Marília Pera.

Aqui eles foram bem realistas, mexendo em apenas alguns detalhes: coisas menores como o fato de que ela gravou apenas uma porção pequenas de discos (que aliás hoje ainda circulam e provocam risos), de que era ela quem escondia os convites para críticos, criava suas próprias roupas exóticas inspirada em motivos mexicanos. A ação se passa em Nova York, mas foi rodada em Londres, e portanto o Carnegie Hall que vemos no filme não é o verdadeiro. Por outro lado, o mais chocante é uma informação que rarissimamente vemos no cinema e bem podia ter sido escondida, Florence começou com pianista de êxito, mas machucou a mão. Depois casou- se com um senhor que lhe passou sífilis, que lhe atormentou toda sua vida. Então o novo casamento sempre foi de aparência, por causa da doença que eventualmente a mataria. Eles não faziam sexo, mas aparentemente se  amavam.

Essa informação acaba dando um tom mais pesado ao que poderia ou deveria ter sido uma comédia divertida no estilo Tia Mame, sobre uma figura exótica mas querida. E o filme fica melhor quando assume o lado leve e ridículo de sua vida, a briga com o crítico ou a presença marcante da corista que a defende (a estrela da Broadway Nina Arianda). Quem aparece depois de longa ausência e muito envelhecido é Hugh Grant, que faz o marido infiel (com a bela Rebecca Ferguson num papel ingrato).

Ou seja, talvez versão fictícia Margaret seja mesmo melhor, o que não tira, porém o mérito de Meryl, noutro mergulho num projeto arriscado.