Crítica sobre o filme "Botão de Pérola, O":

Rubens Ewald Filho
Botão de Pérola, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 30/05/2016

Mesmo conhecendo a reputação do documentarista chileno mais famoso de sua geração, Patrício Guzman, célebre por sua trilogia sobre Allende (Batalha do Chile) e o mais recente, Nostalgia do Luz (10), ainda assim fiquei muito impressionado e emocionado com este seu mais recente trabalho (em cartaz no cine SESC de São Paulo em apenas uma sessão diária as 19h30), vencedor do Prêmio Ecumênico e Urso de Prata do Festival de Berlim (além de outros prêmios como o Lumière Francês, Festival de Jerusalem, Fênix, Lamagata, Philadelphia etc.).

Sem renegar sua missão de denunciar a tragédia que foi o assassinato no Chile de todos os possíveis seguidores de Allende (militares na Ilha Dawson, uma comovente cena dos sobreviventes numa mesma sala e principalmente a tática semelhante dos argentinos de jogar os corpos dos prisioneiros/torturados no oceano ancorados a trilhos) ele vai mais adiante e conta sua história até autobiográfica de outra tragédia chilena menos conhecida, o desprezo que o pais dedicou a sua costa oceânica e pior ainda, já que ao menos eu não sabia, a frieza com os colonizadores mataram e liquidaram os nativos índios, que foram dizimados com total frieza pelos homens do governo, de tal forma que hoje existem muito poucos, conservando sua língua original.

O filme é basicamente uma homenagem muito poética e delicada a essa civilização que esta morrendo que acaba tendo em comum o mesmo oceano que serviu para encobrir os mortos da ditadura militar (recentemente o governo atual ordenou que tentassem recuperar os corpos e o máximo que conseguiram foram alguns dos trilhos carregados de dejetos marinhos e um único sinal de humanidade, justamente o que dá o titulo ao final em espanhol, um botão de Pérola).

Mas não quero dar a impressão de que ficam repetindo a mesma ladainha ainda que importante, mas já é uma conhecida litania. O filme se propõe a contar a própria história do Universo, do oceano, de toda a Humanidade. Também dessa água que contém todas as vozes e música da Terra, da água que veio para a Terra das distantes estrelas e que se espalharam por todo o planeta. Ouvindo poetas, pesquisadores, mostrando o sonho dos nativos em alcançar as estrelas, relembrando uma história real de um nativo que foi mandado para a Europa e perdeu sua identidade, Guzman constrói mais que uma denúncia ou um apelo à sobrevivência de um país de algozes que tanto sabem matar os revolucionários quanto ignorar a costa marítima a quem renega as riquezas (e olha que nem sequer menciona o conflito ainda existente com seu vizinho argentino por essas terras geladas).

Não sinto que neste texto curto eu esteja fazendo justiça a um filme que tanto admirei e a um cineasta que infelizmente não conheço tão profundamente quanto desejaria. Mas sem duvida confirma minha admiração cada vez maior aos que batalham com o tão admirável gênero documental.