Aqui está um filme brasileiro que merecia mais atenção, o primeiro longa de uma talentosa diretora de curtas, que nos dá uma visão arguta e sensível, sem exageros ou escândalos, do que seria a vida de um certo tipo de jovens paulistanos de vinte e tantos anos, até trinta. Meio perdidos em se afirmarem profissional e emocionalmente. Ao contrário de outros filmes menos bem sucedidos, a diretora não é fria nem condescendente. Mesmo com orçamento modesto, pinta um retrato verossímil dos que vivem em São Paulo, em busca de uma profissão e uma afirmação pessoal. Talvez pudesse ter acrescentado um punhado a mais de humor que poderia contrabalançar sua falta de sentimentalismo.
Julia (Maria Lucia) esta num novo emprego com um estilista, aparentemente infeliz, sem perceber que não esta agradando aos patrões. Já perto dos trinta rebela-se com isso, mas ainda depende dos pais (como sempre gosto especialmente de Lygia Cortez) e não sabe se entender com os namorados ocasionais. Suas bases são os dois amigos e vizinhos, um jovem gay infeliz também por não ter superado a rejeição dos pais (do pai em particular) e não conseguir manter uma relação estável com um rapaz que gosta dele. Fui capturado pela interpretação da Micaela (Renata Gaspar) que é lésbica assumida, mas incapaz de mentir ou aceitar falsidades (tem um casinho com uma jovem atriz de crescente sucesso feita por Ana Cañas, mas que afirma não estar preparada para uma ligação mais estável e assumida). Renata nunca cai na caricatura ou no excesso, embora tenha o papel mais difícil e o resultado mais humano. Acredito que tenha sido o trabalho da diretora que conseguiu um filme naturalístico que evita excessos ou choques optando por pintar um retrato humano e crível de pessoas que encontramos hoje em muitos lugares desta cidade e deste tempo.