Crítica sobre o filme "Arte de Francesco Rosi, A: As Mãos Sobre a Cidade, A Provocação, O Bandido Giuliano, Os Bravos da Arena":

Rubens Ewald Filho
Arte de Francesco Rosi, A: As Mãos Sobre a Cidade, A Provocação, O Bandido Giuliano, Os Bravos da Arena Por Rubens Ewald Filho
| Data: 20/03/2019

É importante conhecer a carreira deste importante diretor italiano Francesco Rosi (1922- 2015), um dos nomes mais importantes do cinema de seu país. Rosi desenvolveu um estilo de semi-documentário que lhe deu a Palma de Ouro pelo O Caso Mattei. Nascido em Nápoles em 15 de novembro, abandonou os estudos de Direito para trabalhar no rádio e no teatro. Em 1948 foi (junto com Zeffirelli) assistente de Luchino Visconti também como coroteirista com Suso Cecchi d’Amico, em Belíssima, além de assistente de direção A Provocação e de Senso. Foi também assistente de Luciano Emmer, Monicelli e Antonioni (Os Vencidos). Com O Bandido Giuliano encontrou o assunto e o estilo que procurava. Uma seriedade que não foi perturbada nem mesmo por tropeços como Felizes Para Sempre. Em 1983 diversificou seu estilo político e filmou a ópera de Bizet: Carmen (com a regência de Lorin Maazel). Além de seus filmes escreveu roteiros para Bígamo a Força (Il Bigamo, 56, de Emmer), Contos Romanos (Racconti Romani, 55, de Franciolini), Cidade da Perdição (Processo alla Cittá, 52, de Zampa), Paris é sempre Paris (Parigi è sempre Parigi, 51 de Emmer).

 

As Mãos Sobre a Cidade

Vencedor do Prêmio Leão de Ouro de Veneza e o Golden Globets, este foi dos primeiros bem sucedidos filmes do italiano Rosi, narrado como uma trama política social e de gângster que tem também a presença até então rara do grande astro de Hollywood Rod Steiger (vencedor do Oscar por No Calor Da Noite).Teve pouca repercussão no Brasil, até porque a carreira do diretor foi crescendo cada vez mais após este filme passado em Nápoles onde se denuncia toda as corrupções e abusos políticos. Na verdade, é a denúncia de um escândalo social, de políticos que não impedem o desastre de um prédio que desmorona, durante uma eleição do conselho da político da cidade. Steiger se parece bastante com o ditador Mussolini, personagem que faria pouco tempo depois em Ascenção e Glória de um Ditador.

A Provocação

Aqui Rosi conta a história de Vito Polara um jovem e ambicioso sujeito dos bairros pobres de Nápoles, que deixa ficar rico e assim decide traficar cigarros e tenta tomar conta do mercado de frutas. Que considera melhor negócio. Mas comete o erro de enfrentar a famosa Camorra, primeiro se tornando parte desses traficantes, depois vira um sujeito importante, da gang, mas na festa do casamento as coisas mudam de importância. O ator central José Suarez é espanhol e teve bem-sucedida carreira local. Rossana é italiana (1939-69) e foi casada com um importante produtor de cinema italiana Alfredo Bini. Ela foi chamada de a Hedy Lamarr e teve outros romances (e filhos). Morreu de câncer no seio. A Provocação foi seu quarto filme (em preto e banco como ainda era costume na época). Uma das grandes quantidades do trabalho é que ele foi fotografado por Gianni Di Venanzo, dos maiores fotógrafos do cinema italiano (como em Fellini Oito e Meio). Ganhou grande prêmio no Festival de Júri (também como especial do júri, e 3 outros filmes do Sindicato italiano).

A Morte da Deusa: Rosanna Schiaffino

Descobri por acaso lendo a revista italiana Ciak de Novembro que a estrela Rosanna Schiaffino havia falecido. Uma pesquisa revelou depois que ela foi vítima do câncer no seio, uma notícia que passou em branco por aqui, apesar dela ter sido uma das mulheres mais belas do cinema, nos anos 50 a 70. E ter participado também de filmes americanos famosos como Os Vitoriosos der Carl Foreman (onde substituiu Sophia Loren), Um Marido de Morte com Tony Curtis, El Greco com Mel Ferrer, Os Lendários Vikings com Sidney Poitier, A Cidade dos Desiludidos com George Hamilton e Kirk Douglas, O Heroico Lobo do Mar com Anthony Quinn. Chamada de a Heddy Lammarr italiana (Hedy era considerada a mulher mais bela do cinema de Hollywood). Nascida em 25 de novembro de 1939, em Genoa, Ligúria, de família de classe média alta, seguiu o desejo da mãe de que seguisse carreira artística. Participou de concursos de beleza, que invariavelmente vencia. Se tornou modelo, mas só foi descoberta para o cinema, num papel central, pelas mãos do grande diretor Francesco Rosi, na sua estreia A Provocação. Morena, alta, com medidas exuberantes (36-22-35), nariz aquilino, logo se tornou uma revelação. Mas sua carreira só deslanchou realmente quando se casou com o produtor Alfredo Bini (na época, todas as estrelas no cinema italiano tinham que ter um produtor por trás como Claudia Cardinale, com Franco Cristaldi, Sophia Loren com Carlo Ponti, Silvana Mangano com Dino de Laurentiis). Foi ele quem a colocou em produções internacionais com relativo sucesso. Sua beleza era indiscutível, a beleza nem tanto. Ainda assim foi dirigida por Rossellini em Rogopag, fez roteiro de Pasolini em A Longa Noite de Loucuras, mas em meados dos anos 70, quando o cinema entrou em crise na Itália, por causa da concorrência com a televisão, resolveu mudar de vida. Divorciou-se de Bini em 1977 (tiveram uma filha) porque  conheceu em Portofino o playboy e milionário do aço Giorgio Flack, com que se uniu e passou a frequentar o jet set. Ficaram dez anos juntos, tiveram um filho Guido  e depois o divórcio  e a briga pela custodia do filho deles provocou grande escândalos nas revistas italianas. Lutou contra o câncer no seio de desde 1991 que finalmente a derrotou em 17 de outubro de 2009 em Milão.

O Bandido Giuliano *****

Um dos nomes mais subestimados do cinema italiano é Francesco Rosi, o mais político dos diretores que surgiram na segunda geração do neo-realismo. Embora tenha sido influenciado na narrativa rápida, enxuta, nervosa pelo cinema americano (ele é um mestre nos enquadramentos e na movimentação de massas como demonstra aqui, além de ser notável na condução de atores não profissionais, aqui em todo o filme apenas dois são profissionais, Randone que faz o juiz e Wolf que faz o principal acusado). O longa é excepcional e teve notável influência em todo o cinema político. O curioso é que o personagem do Salvatore Giuliano, um bandido que vivia nas montanhas da Sicília no fim da Segunda Guerra Mundial e que foi usado pela Máfia e pelos políticos, para tentar uma luta separatista (a Sicília pensava em se separar da Itália aproveitando a confusão geral). Mas mal conhecemos Giuliano, que é figurante em seu próprio filme, nunca toma a palavra e na primeira cena já aparece morto. O que interessa ao diretor é quem o matou e o porquê! É uma corajosa denúncia da Máfia e da corrupção política, onde o povo forma uma espécie de coral grego, comentando a ação. Inteiramente rodado nos lugares autênticos, com a ajuda de dois sensacionais fotógrafos (De Santos e Gianni Venanzo), o filme é um pouco difícil de seguir para nós que não conhecemos os detalhes históricos da Sicília. Mas é impressionante como realização e a coragem de denunciar os mandantes, os donos do poder que manipulam os fatos a seu prazer. Vencedor do Urso de Prata de melhor diretor no Festival de Berlim. Hoje um clássico autêntico do cinema.

Os Bravos da Arena

Este talvez seja o filme menos famoso e celebrado do diretor italiano Rosi, talvez por ser curioso pela cultura especial dos espanhóis nos anos 60, que até hoje ainda são malucos por toureiros e touros, mas provocando também terror por outros curiosos de outros países. O estranho é justamente isso, um semidocumentário revelando a ascensão de um verdadeiro toureador (real), chamado Miguelin, mostrando sua ascensão e queda. Ou seja, este é talvez o mais duvidoso filme do diretor italiano, há inclusive uma participação especial da atriz mexicana Linda Christian (aqui apenas Linda) que foi famosa mulher do astro Tyrone Power do filme clássico do gênero Sangue e Areia. O filme envelheceu bastante, o protagonista é de origem pobre, que deixa sua Cidade, Jaen, e que emigra para Barcelona, primeiro aceitando qualquer trabalho, depois realiza seu sonho de se tornar toureador de sucesso na Corrida de toros em la Fiesta. O filme tem pretensões de ser neo-realista, não há dúvida que tem certa pretensão do diretor em analisar a profissão, refletindo os curiosos e estranhos hábitos espanhóis assim como procissões, semana santa, festas de San Fermin, canções, flamenco e desemprego. destaque especial para um grande diretor de imagens, o italiano Pasqualino De Santis. Embora saiba descrever a arte da tourada, o filme não foi o sucesso esperado e hoje acabou esquecido (a não ser que tenha alguma atração especial pela temática tão bizarra).