Crítica sobre o filme "Nise - O Coração da Loucura":

Rubens Ewald Filho
Nise - O Coração da Loucura Por Rubens Ewald Filho
| Data: 29/04/2016

Uns poucos conheciam a história da doutora Nise da Silveira por causa de um documentário de mais de 3 horas realizado por Leon Hirzman sobre ela e seu trabalho no filme Imagens do Inconsciente (87). Mas foi boa ideia dar uma dimensão maior a essa figura notável, num projeto dirigido pelo experimentado Roberto Berliner (que fez documentários como A Farra do Circo, Herbert de Perto, A Pessoa é para o que Nasce, Pindorama a Verdadeira História dos Sete Anões). Que fez muito sucesso no maior Festival do Japão, o de Tóquio, ganhando o Grand Prix e melhor atriz para Gloria Pires.

Realizado com poucos recursos, o filme mostra com muita dignidade, realista mas sem cair no exagero, a difícil trajetória de uma médica que vai trabalhar num hospital psiquiátrico no Rio justamente numa época onde os doentes mentais eram submetidos a famigerada lobotomia (relatada por Tennessee Williams em De Repente no Ultimo Verão, até porque a irmã dele sofreu essa intervenção em que os médicos perfuravam o cérebro deixando o paciente tranquilo mas também destruído para sempre). É assim que o filme começa mostrando a doutora descobrindo o novo método sendo festejado como grande solução (lembrem-se que é muito raro se ver críticas aos médicos em qualquer filme!). Mas se eles continuam a ser os vilões sem alma ou caridade, acompanhamos a luta da Doutora Nise tentando reabilitar seus pacientes, ao menos lhe dando certo respeito, também incentivada pelo célebre Doutor Carl Jung com quem mantinha correspondência, criando um atelier de arte, onde eles podiam se exprimir em pinturas ou esculturas, que eram incríveis imagens do consciente.

Há uma visível tentativa de não pegar forte demais e assim afastar o possível espectador, mas também em não adoçar demais a pílula (não há nada de bonito em observar a tragédia da loucura) e por vezes o defeito maior é uma câmera principalmente no começo que balança demais. Mas é desculpável porque o filme é comandado por Gloria Pires (alguém discute que é a nossa melhor atriz de cinema?) ganha força e emoção, com interessantes intervenções musicais e muito ajudado por um excelente elenco de apoio, que mistura desconhecidos com outros já consagrados. Ao final, vemos identificados os artistas e uma aparição da própria Dr. Nise. Tudo confirmando que este é um dos melhores filmes brasileiros deste ano.